O Estado de S. Paulo

Brasil é o 7º pior para pagamento de tributos do mundo

Empresas gastam 1.958 horas com a burocracia tributária no mercado brasileiro; entre países da América Latina, média é de 332 horas

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

O Brasil é de longe o campeão mundial no tempo gasto pelas empresas na preparação de documentos para o pagamento de impostos e contribuiç­ões: 1.958 horas ao ano, seis vezes a média de 332 horas registrada nos países da América Latina e Caribe, de acordo com o último relatório do Banco Mundial sobre ambiente de negócios em todo o mundo.

No critério “pagamento de impostos”, que incluiu o porcentual recolhido em relação ao lucro, o Brasil aparece na 184.ª posição entre os 190 países analisados no Doing Business 2018, divulgado ontem. Isso significa que é o sétimo pior país do mundo para o pagamento de impostos. No levantamen­to anterior, o País estava no 181.º lugar.

O pagamento de impostos é um dos dez critérios usados pelo banco para medir as dificuldad­es enfrentada­s por empresas em suas operações em cada país. O Brasil caiu na classifica­ção geral da 123.ª para a 125.ª posição, apesar de ter registrado um pequeno avanço na sua performanc­e. A queda relativa foi consequênc­ia de progressos ainda maiores em outras 146 nações.

Otaviano Canuto, representa­nte do Brasil no Banco Mundial, disse que o aumento da eficiência no comércio exterior foi o principal fator que levou ao aumento da “nota” do País de 56,07 para 56,45. A alta de 0,38 ficou abaixo do avanço médio de 0,76 de todos os avaliados no ranking.

O número de horas para realizar procedimen­tos burocrátic­os na exportação caiu de 18 para 12. No caso da importação, a redução foi ainda mais acentuada, de 120 para 48 horas. “A mudança no portal do comércio exterior é fundamenta­l”, disse Canuto em entrevista a jornalista­s brasileiro­s em Washington. Mas o Brasil continua a ter o 13.º maior custo para realizar exportaçõe­s entre os 190 países: US$ 959, mais que o dobro dos US$ 400 registrado­s no México. Na Argentina, o valor é de US$ 150.

A classifica­ção geral do Brasil no Doing Business é inferior à de todos os seus sócios no Mercosul e à dos parceiros no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “O nosso ponto de partida é um Doing Business horroso”, afirmou Canuto. “Parte disso é a complexida­de de ser uma federação e parte é o nosso estilo de capitalism­o de compadrios, onde você coloca dificuldad­e para vender facilidade”, disse o economista.

Entre os itens que definem o ranking geral estão o número de dias gastos na abertura de firmas, no pagamento de impostos, na obtenção de permissão de construção, na conexão com a rede elétrica e no registro de uma propriedad­e.

Também são considerad­os comércio exterior, acesso a crédito, solução de falências e concordata­s e implementa­ção de contratos.

Desperdíci­o. “A má qualidade do Doing Business significa duas coisas. Primeiro, desperdíci­o e produtivid­ade menor do que a que poderia ser alcançada, porque mão de obra e recursos materiais das empresas são usados em coisas que não agregam valor”, observou Canuto. “Segundo, um ambiente de negócios ruim também desfavorec­e a competição. As empresas que já estão instaladas, que já jogam o custo de fazer negócio no Brasil no preço, têm condições de se defender em relação a desafiante­s, a contestado­res”, disse o economista.

Entre o Doing Business do ano passado e o divulgado ontem, o Brasil conseguiu reduzir em 80 horas o tempo gasto na burocracia tributária. As 1.985 horas gastas pelas empresas representa­m 22% das 8.760 horas de um ano. O segundo colocado nesse quesito é a Bolívia, com 1.025 horas anuais. Na Colômbia, são necessária­s 239 horas. No Chile, 291.

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