Um candidato para chamar de seu
Omercado financeiro está em busca de um novo queridinho para a eleição presidencial de 2018 após as mais recentes pesquisas de intenção de voto apontarem para o risco de os investidores terem de fazer uma “escolha de Sofia” entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
Há até relatos de conversas entre alguns expoentes do mercado financeiro e Bolsonaro. Em café informal na semana passada, por exemplo, três de cinco economistas indagados por esta coluna disseram preferir o deputado ao ex-presidente se for essa a alternativa que restar.
Obviamente, o pré-candidato Jair Bolsonaro está longe de ser o candidato do mercado financeiro, até porque os investidores trabalham com um cenário em que o próximo presidente virá de um dos grandes partidos da base aliada do presidente Michel Temer. Mas esse cenário ainda está longe de se concretizar.
Pesquisa Ibope mostrou que Lula e Bolsonaro iriam para o segundo turno se as eleições fossem hoje. No levantamento, Lula chega a ter até 36% das intenções de voto e o apoio a Bolsonaro ficaria entre 13% e 15%, dependendo do adversário. Os tucanos Geraldo Alckmin (entre 5% e 7%) e João Doria (entre 4% e 5%) chegam a perder da ex-senadora Marina Silva (Rede) e do apresentador Luciano Huck (sem par- tido) em diferentes cenários de intenção de voto.
Até pouco tempo, a onda Doria parecia avassaladora. Na fotografia de hoje, contudo, a avaliação de investidores é de que o prefeito paulistano “queimou na largada” ao se precipitar numa estratégia agressiva de se lançar candidato à Presidência, viajando pelo País e articulando apoio no PSDB e em outros partidos.
Numa pesquisa Datafolha divulgada em outubro, a aprovação da gestão de Doria caiu para 32%. Quatro meses an- tes, essa aprovação era de 41%. Nas redes sociais, a popularidade de Doria caiu bastante, levando-se em conta o engajamento e as interações de seus seguidores. Mais ainda: nas pesquisas de intenção de voto para 2018, Doria não decolou o suficiente para retirar Alckmin do páreo como candidato do PSDB.
Antes da forte queda nos índices de aprovação de Doria, os participantes do mercado vinham em campanha aberta clamando para que o prefeito se lançasse candidato. Agora há apenas a aposta de que o vencedor em 2018 sairá de um partido da base governista.
Assim, o mercado busca neste momento um candidato a presidente da República para chamar de seu. Geraldo Alckmin sofre com alguma resistência dos investidores: o governador paulista é visto como um candidato com carisma insuficiente para chegar ao segundo turno. Ainda mais se Lula não for declarado inelegível caso o Tribunal Regional Federal da 4.ª região, em Porto Alegre, decidir por reverter a condenação do petista pelo juiz Sérgio Moro, livrando-o da Lei da Ficha Limpa.
“O mercado quer um candidato governista competitivo que enfrente os extremos na eleição, em termos ideológicos”, diz um profissional de Tesouraria de um grande banco. Para ele, o ideal seria não haver mais de uma candidatura de partidos da atual base do governo e que o escolhido dê continuidade à política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e priorize a aprovação de reformas necessárias, como a da Previdência.
Bolsonaro não é esse candidato re- formista, diz um grande investidor brasileiro. Ele argumenta que o histórico de Bolsonaro em votações no Congresso é de uma postura corporativista e não de apoio a uma agenda econômica liberal. Segundo esse investidor, Bolsonaro está falando o que o mercado quer ouvir.
“O problema não é nem com o antes, mas com o depois se Bolsonaro vier a ser eleito”, argumenta um renomado economista. “Como ele vai reunir uma base de apoio no Congresso para aprovar as reformas necessárias? Ele nem tem partido definido para 2018.”
O que preocupa o mercado financeiro é que Alckmin, que é visto hoje como o mais provável candidato do PSDB, não parece ter condições de decolar rumo a um segundo turno. A chamada terceira via, que em 2014 representou 20 milhões de votos a Marina Silva, é uma ameaça concreta.
Assim, a esperança é Doria repensar sua estratégia e retomar o fôlego perdido. Caso contrário, é o mercado se abraçar a Alckmin.
Bolsonaro não é esse candidato reformista, diz um grande investidor brasileiro