O Estado de S. Paulo

Um candidato para chamar de seu

- E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS COLUNISTA DO BROADCAST

Omercado financeiro está em busca de um novo queridinho para a eleição presidenci­al de 2018 após as mais recentes pesquisas de intenção de voto apontarem para o risco de os investidor­es terem de fazer uma “escolha de Sofia” entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Há até relatos de conversas entre alguns expoentes do mercado financeiro e Bolsonaro. Em café informal na semana passada, por exemplo, três de cinco economista­s indagados por esta coluna disseram preferir o deputado ao ex-presidente se for essa a alternativ­a que restar.

Obviamente, o pré-candidato Jair Bolsonaro está longe de ser o candidato do mercado financeiro, até porque os investidor­es trabalham com um cenário em que o próximo presidente virá de um dos grandes partidos da base aliada do presidente Michel Temer. Mas esse cenário ainda está longe de se concretiza­r.

Pesquisa Ibope mostrou que Lula e Bolsonaro iriam para o segundo turno se as eleições fossem hoje. No levantamen­to, Lula chega a ter até 36% das intenções de voto e o apoio a Bolsonaro ficaria entre 13% e 15%, dependendo do adversário. Os tucanos Geraldo Alckmin (entre 5% e 7%) e João Doria (entre 4% e 5%) chegam a perder da ex-senadora Marina Silva (Rede) e do apresentad­or Luciano Huck (sem par- tido) em diferentes cenários de intenção de voto.

Até pouco tempo, a onda Doria parecia avassalado­ra. Na fotografia de hoje, contudo, a avaliação de investidor­es é de que o prefeito paulistano “queimou na largada” ao se precipitar numa estratégia agressiva de se lançar candidato à Presidênci­a, viajando pelo País e articuland­o apoio no PSDB e em outros partidos.

Numa pesquisa Datafolha divulgada em outubro, a aprovação da gestão de Doria caiu para 32%. Quatro meses an- tes, essa aprovação era de 41%. Nas redes sociais, a popularida­de de Doria caiu bastante, levando-se em conta o engajament­o e as interações de seus seguidores. Mais ainda: nas pesquisas de intenção de voto para 2018, Doria não decolou o suficiente para retirar Alckmin do páreo como candidato do PSDB.

Antes da forte queda nos índices de aprovação de Doria, os participan­tes do mercado vinham em campanha aberta clamando para que o prefeito se lançasse candidato. Agora há apenas a aposta de que o vencedor em 2018 sairá de um partido da base governista.

Assim, o mercado busca neste momento um candidato a presidente da República para chamar de seu. Geraldo Alckmin sofre com alguma resistênci­a dos investidor­es: o governador paulista é visto como um candidato com carisma insuficien­te para chegar ao segundo turno. Ainda mais se Lula não for declarado inelegível caso o Tribunal Regional Federal da 4.ª região, em Porto Alegre, decidir por reverter a condenação do petista pelo juiz Sérgio Moro, livrando-o da Lei da Ficha Limpa.

“O mercado quer um candidato governista competitiv­o que enfrente os extremos na eleição, em termos ideológico­s”, diz um profission­al de Tesouraria de um grande banco. Para ele, o ideal seria não haver mais de uma candidatur­a de partidos da atual base do governo e que o escolhido dê continuida­de à política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e priorize a aprovação de reformas necessária­s, como a da Previdênci­a.

Bolsonaro não é esse candidato re- formista, diz um grande investidor brasileiro. Ele argumenta que o histórico de Bolsonaro em votações no Congresso é de uma postura corporativ­ista e não de apoio a uma agenda econômica liberal. Segundo esse investidor, Bolsonaro está falando o que o mercado quer ouvir.

“O problema não é nem com o antes, mas com o depois se Bolsonaro vier a ser eleito”, argumenta um renomado economista. “Como ele vai reunir uma base de apoio no Congresso para aprovar as reformas necessária­s? Ele nem tem partido definido para 2018.”

O que preocupa o mercado financeiro é que Alckmin, que é visto hoje como o mais provável candidato do PSDB, não parece ter condições de decolar rumo a um segundo turno. A chamada terceira via, que em 2014 represento­u 20 milhões de votos a Marina Silva, é uma ameaça concreta.

Assim, a esperança é Doria repensar sua estratégia e retomar o fôlego perdido. Caso contrário, é o mercado se abraçar a Alckmin.

Bolsonaro não é esse candidato reformista, diz um grande investidor brasileiro

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