O Estado de S. Paulo

Bienal escolhe o curador criador

A 33ª edição da mostra tem sete artistas na seleção das obras

- Antonio Gonçalves Filho

Tomando emprestado o título de um romance de Goethe, Afinidades Eletivas, e da tese de doutorado do crítico Mário Pedrosa sobre a natureza afetiva da forma na obra de arte, a 33.ª edição da Bienal de São Paulo, com abertura em setembro de 2018, vai se chamar Afinidades Afetivas. Curador da mostra, o espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, muito afinado com o pensamento de Pedrosa (ele foi curador de uma exposição dedicada ao crítico no museu Reina Sofia), justificou o título da bienal como uma tentativa de dar “visibilida­de a processos e afinidades, seguindo uma longa tradição de curadorias feitas por artistas”.

Pérez-Barreiro concedeu na terça, 31, uma entrevista coletiva ao lado do presidente da Bienal, João Carlos Figueiredo Ferraz, anunciando o nome dos sete artistas que integram a equipe curatorial responsáve­l pela seleção dos artistas participan­tes da 33.ª Bienal. São eles o uruguaio Alejandro Cesarco, o espanhol Antonio Ballester Moreno, a argentina Claudia Fontes, a sueca Mamma Anderson, os brasileiro­s Sofia Borges e Waltercio Caldas e a norte-ameri- cana (que vive em Lagos, Nigéria) Wura-Natasha Ogunji.

Nenhum nome entre os convidados foi divulgado durante o encontro, que serviu para revelar a proposta da próxima mostra internacio­nal, que questiona a centralida­de do papel do curador na arte contem- porânea, preferindo delegar aos artistas a escolha de seus pares. O curador-geral PérezBarre­iro, apesar de distribuir o poder de decisão sobre o time da 33.ª Bienal, vai escolher o próprio grupo de artistas para exposições individuai­s programada­s paralelame­nte às sete mostras diferentes curadas pelos artistas convidados e anteriorme­nte citados.

Segundo o presidente da Bienal de São Paulo, João Carlos Figueiredo Ferraz, que transita com facilidade no meio artístico, por ser colecionad­or e fundador do instituto que leva seu nome em Ribeirão Preto, o curador Pérez-Barreiro “traz um projeto com um novo modelo, com especial atenção na relação do público com a arte”. Especialis­ta em arte latinoamer­icana e curador-chefe da coleção Patricia Phelps de Cisneros, o espanhol também foi o fundador da coleção de arte latino-americana da Universida­de de Essex nos anos 1990.

Ele não adiantou o nome de nenhum participan­te da próxima bienal, mas é possível esperar alguma mostra histórica de algum importante artista latino de tendência construtiv­a. Pérez-Barreiro criticou o modelo das bienais temáticas com um único curador, adotado pela maioria das duas centenas de mostras internacio­nais realizadas nos mesmos moldes da Bienal da Veneza e São Paulo que se espalham pelo mundo. Acabou propondo à direção da mostra paulista uma mudança no sistema organizaci­onal “com ênfase na arte, nos artistas e na experiment­ação”.

Como tudo o que é experiment­al pode provocar atritos sociais, o curador e o presidente da Bienal deixaram claro durante a coletiva que irão defender a liberdade de expressão, sem anunciar se a Bienal vai ou não adotar a classifica­ção etária em 2018. “É impossível saber o que vai acontecer até setembro de 2018”, justificou o curador. A Bienal tem disponível para o biênio 2017/18 uma verba de R$ 60 milhões. O orçamento da 33.ª Bienal é de aproximada­mente R$ 26 milhões.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Dupla. O curador-geral Gabriel Pérez Barreiro e o presidente da Bienal, Figueiredo Ferraz

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