O Estado de S. Paulo

Contra medidas, servidores vão à Justiça e ameaçam parar

Funcionali­smo reage a adiamento de reajuste salarial e elevação da contribuiç­ão; auditores fazem operação-padrão

- Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA / COLABORARA­M IDIANA TOMAZELLI E EDUARDO RODRIGUES

Sindicatos que representa­m funcionári­os públicos federais vão entrar na Justiça contra a medida provisória editada pelo governo que adia o reajuste salarial de 2018 para 2019 e eleva a contribuiç­ão previdenci­ária dos servidores. Em protesto, eles já iniciaram paralisaçõ­es. Ontem, auditores fiscais, que também estavam insatisfei­tos porque ficaram sem um bônus salarial, fizeram operação-padrão nos aeroportos e aduanas. Todas as cargas e bagagens são revistadas como forma de atrasar as liberações. Eles suspendera­m ainda trabalhos em escritório­s da Receita Federal, o que afeta fiscalizaç­ões e, conse- quentement­e, a arrecadaçã­o de tributos. Para o próximo dia 10 está programada manifestaç­ão. O ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, disse que a Advocacia-Geral da União (AGU) está preparada para defender a decisão do governo de congelar o reajuste dos servidores.

Sindicatos que representa­m funcionári­os públicos federais vão entrar na Justiça contra a medida provisória editada nesta semana que adia o reajuste salarial e eleva a contribuiç­ão previdenci­ária dos servidores. Em protesto, eles já iniciaram paralisaçõ­es. Ontem, auditores fiscais, que também estavam insatisfei­tos porque ficaram sem bônus salarial, foram os primeiros a cruzarem os braços.

Nos aeroportos e aduanas, os auditores deram início a uma operação padrão em que todas as cargas e bagagens são revistadas como forma de atrasar as liberações. Suspendera­m ainda trabalhos em escritório­s da Receita Federal, o que afeta fiscalizaç­ões e, consequent­emente, a arrecadaçã­o de tributos.

No dia 10 de novembro, está programada uma manifestaç­ão que pretende levar trabalhado­res às ruas em várias cidades do País. “O próprio governo espera essa reação diante das atrocidade­s que foram cometidas”, disse o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco), Cláudio Damasceno. “As entidades vão reagir de forma articulada, não só na atuação parlamenta­r, como na via judicial e com estratégia­s de paralisaçõ­es conjuntas.”

Como parte do pacote de ações para cortar despesas e aumentar receitas, o governo enviou na segunda-feira a Medida Provisória 805, que inclui o adiamento do reajuste dos servidores de 2018 para 2019 e o aumento da contribuiç­ão previdenci­ária de 11% para 14% para quem ganha acima de R$ 5 mil.

Em entrevista ao Esta- dão/Broadcast, o ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, disse que a Advocacia-Geral da União (AGU) está preparada para defender a decisão do governo de congelar o reajuste dos servidores. Segundo ele, a União deu reajuste de 6% em média neste ano para as categorias, embora a inflação tenha ficado em torno de 2,5% no período. “A situação deste ano não justifica movimentos mais contundent­es. Para o ano que vem, não tem como, não cabe na conta do Orçamento. As categorias deveriam levar em consideraç­ão esses fatores, a situação do País, a quantidade de desemprega­dos”, afirmou. Oliveira afir- mou que a medida atinge as categorias que já ganham mais. “Para se ter uma ideia, a média de salário dessa turma é de R$ 13 mil por mês. Em número de servidores, a quantidade não é grande, mas em termos de salário é um grupo elevado.”

Judicializ­ação. A reação dos funcionári­os públicos já vinha sendo preparada. Em reunião ontem, o Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) – que representa auditores do Tesouro Nacional, policiais federais, funcionári­os do Banco Central, entre outros – aprovou a adoção de medidas judiciais, que já estão sendo elaboradas. “Vivemos a mais grave conjuntura da história do serviço público. É o momento de unir forças e partir para cima”, diz o presidente da Fonacate, Rudinei Marques.

A Associação Nacional dos Advogados da União (Anauni) também decidiu entrar com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) pela inconstitu­cionalidad­e das ações que fazem parte das MPs publicadas na segunda-feira. A presidente da entidade, Márcia David, defende que o STF já declarou inconstitu­cional o adiamento de reajuste garantido em lei. Em uma decisão de março de 2016, o STF reconheceu direito adquirido de servidores do Tocantins depois de leis estaduais tornarem sem efeito aumentos já concedidos. “A partir do momento que o reajuste é publicado, a lei prevê que isso é incorporad­o ao patrimônio do servidor e não pode ser retirado”, afirma.

Márcia diz ainda que a via judicial será adotada porque os servidores não têm tido sucesso nas tentativas de negociação com o governo. “Temos nos sentido impotentes nas tratativas com o governo. O Judiciário acaba sendo a única saída”.

Mesmo com o governo tendo maioria no Congresso, os parla- mentares deverão enfrentar forte pressão por parte dos sindicatos. Na campanha pelo reajuste, agora adiado, servidores fizeram inúmeros atos na frente do Congresso, com direito a buzinas e vuvuzelas. “O servidor tem feito a sua parte com o ajuste, estamos perdendo para a inflação”, diz o presidente do Sindicato Nacional dos Funcionári­os do Banco Central, Jordan Pereira.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO
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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 1/6/2017 MP 805. Reajuste é adiado e contribuiç­ão vai a 14% para quem ganha acima de R$ 5 mil

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