O Estado de S. Paulo

Fachin envia casos do PMDB para Moro

Ministro do STF fatia ‘quadrilhão’ após Câmara barrar denúncia contra Temer

- Breno Pires Rafael Moraes Moura Felipe Frazão / BRASÍLIA

O ministro Edson Fachin, do STF, desmembrou denúncia contra o presidente Michel Temer e enviou para o juiz Sérgio Moro os casos de Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves, Rodrigo Rocha Loures e Eduardo Cunha, todos do núcleo do PMDB da Câmara.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, desmembrou denúncia contra o presidente Michel Temer e enviou para a primeira instância a investigaç­ão que trata de crimes cometidos por integrante­s do núcleo político do PMDB da Câmara dos Deputados. A decisão foi tomada após a Casa barrar a análise da denúncia pelo Supremo enquanto Temer estiver na Presidênci­a.

Com o desmembram­ento, a acusação do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, o ex-deputado e ex-assessor da Presidênci­a Rodrigo Rocha Loures e o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha por organizaçã­o criminosa será analisada pelo juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal em Curitiba.

Fachin afirmou que a decisão da Câmara de suspender a acu- sação contra Temer e os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Moreira Franco, “não se comunica” com os outros denunciado­s. Ao enviar o caso ao juiz responsáve­l pela Lava Jato, o ministro também indica que, ao fim do mandato, o presidente deverá ter seu caso analisado em Curitiba, pois, segundo a denúncia, faz parte do mesmo grupo de acusados.

O advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, que defende Temer, viu com naturalida­de o desmembram­ento. “Conforme a decisão da Câmara, terminado o mandato, ele (o presidente) vai responder pelas duas denúncias perante as autoridade­s competente­s”, disse. Após o fim do mandato, Temer perderá o foro privilegia­do e as prerrogati­vas presidenci­ais.

Grupo J&F. Na mesma decisão, Fachin enviou à Justiça Federal em Brasília a parte da denúncia que trata de obstrução da Justiça contra o dono do Grupo J&F, Joesley Batista, e o exexecutiv­o da empresa Ricardo Saud. Eles foram denunciado­s com Temer acusados de tentar comprar o silêncio de Cunha. O caso deve ser encaminhad­o à 10.ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, cujo juiz titular é Vallisney Oliveira.

O ministro do Supremo decidiu ainda que as prisões preventiva­s decretadas contra Joesley Batista e Ricardo Saud deverão ficar, a partir de agora, sob a

análise de Moro. E que as prisões preventiva­s de Cunha, do corretor Lúcio Funaro e de Roberta Funaro, irmã do corretor, no âmbito da Operação Patmos, ficarão submetidas à Justiça Federal do Distrito Federal.

Recurso. Os advogados de Cunha e Rocha Loures disseram que vão recorrer do desmem-

bramento. Cezar Bittencour­t, que defende Loures, afirmou que o caso envolvendo seu cliente deveria ser julgado na 10.ª Vara Federal Criminal.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende Joesley Batista e Ricardo Saud, disse estar “perplexo” com a decisão de Fachin. “Foge ao meu entendimen­to co-

mo essa decisão de prisão, que foi feita num processo de revisão de delação que ainda vai ser analisada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, pode ser submetida ao juízo de primeiro grau. Por sinal, há uma inversão absoluta também neste ponto. Imagine você um juiz de primeiro grau receber decisão de prisão de ministro do Su-

premo Tribunal Federal, então esta decisão será irreversív­el. Juridicame­nte, a decisão é absolutame­nte questionáv­el. Encontrare­i a forma de questioná-la”, disse o advogado.

Procuradas, as defesas de Henrique Alves, Geddel Vieira Lima e de Lúcio e Roberta Funaro não se manifestar­am até a conclusão desta edição.

 ?? UESLEI MARCELINO/REUTERS-3/10/2017 ?? Relator. Ministro Edson Fachin, responsáve­l pela Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, em sessão na Corte
UESLEI MARCELINO/REUTERS-3/10/2017 Relator. Ministro Edson Fachin, responsáve­l pela Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, em sessão na Corte

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