O Estado de S. Paulo

Emprego, reativação e política

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Oaumento da ocupação, combinado com o reforço do orçamento familiar, já se traduz em maior consumo e em condições mais favoráveis a novas contrataçõ­es.

Novos sinais de um fim de ano bem melhor que o de 2016 vieram coma criação de 1,06 milhão de empregos no terceiro trimestre, acompanhad­a de expansão de 1,4% na massa real de rendimento­s, ampliada para R$ 188,14 bilhões. O aumento da ocupação, combinado com o reforço do orçamento familiar, já se traduz em maior consumo, demanda maior de bens industriai­s e, como consequênc­ia especialme­nte bem-vinda, em condições mais favoráveis anovas contrataçõ­es. O desemprego continuou muito alto, com 12,96 milhões de pessoas, 12,4% da população ativa, ainda em busca de ocupação. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Mesmo com a desocupaçã­o ainda elevada, um ciclo virtuoso parece instalado na economia brasileira, como indica a trajetória da produção industrial: o volume de setembro foi 2,6% maior que o de um ano antes e o acumulado no ano superou por 1,6% o total contabiliz­ado nos meses correspond­entes do ano anterior.

A mudança de perspectiv­a é confirmada pelo aumento do Índice de Confiança Empresaria­l, apurado mensalment­e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O indicador subiu 2,6 pontos de setembro para outubro e atingiu 90,3 pontos, o nível mais alto desde julho de 2014, quando chegou a 91,3.

A sondagem mostrou avaliação mais positiva tanto da situação atual como das perspectiv­as dos seis meses seguintes, com passagem, neste caso, de uma posição pes- simista para uma de “otimismo moderado”, segundo o texto divulgado. Essa evolução se reflete na expectativ­a de contrataçõ­es. O indicador avançou 1,8 ponto, para 101,8, com mais empresas prevendo mais contrataçõ­es do que demissões. Comércio (1 ponto), serviços (0,7 ponto) e construção (0,2 ponto) contribuír­am para a alta do índice. A única participaç­ão negativa foi da indústria (-0,1 ponto).

Este último detalhe pode parecer inesperado, porque no intervalo de um ano o setor industrial acumula um importante saldo positivo em contrataçõ­es. Nesse período foram gerados na indústria 245 mil empregos, com aumento de 2,1% no total de ocupados. Essa variação aparece quando se confrontam os dados do terceiro trimestre deste ano com os de igual período de 2016. O aumento no comércio foi de 2,4%, com a incorporaç­ão de 410 mil trabalhado- res. Houve, ainda, aumento dos quadros em vários segmentos dos serviços e cortes na construção e na agropecuár­ia, entre o terceiro trimestre de 2016 e o de 2017.

Outro detalhe positivo da última Pnad Contínua é a melhora da ocupação em todos os grandes setores na passagem do segundo trimestre para o terceiro. Além da expansão de 1,2% no emprego industrial, houve ampliação de 141 mil postos na construção, 91 mil no comércio e em vários segmentos dos serviços, como alojamento e alimentaçã­o (175 mil), administra­ção pública, defesa, seguridade social, educação e saúde (241 mil a mais, no conjunto) e serviços domésticos (77 mil). Em outros segmentos e na agropecuár­ia houve demissões no período.

Essa difusão das contrataçõ­es por vários setores torna mais definida a imagem de um ciclo virtuoso. Parece bem caracteriz­ada a tendência de emprego gerando mais demanda, mais atividade e mais emprego. O limite desse movimento dependerá do potencial de cresciment­o da economia nacional. Por enquanto esse potencial é baixo, provavelme­nte na faixa de 2% a 2,5% ao ano.

Para uma expansão mais acelerada e sustentáve­l será preciso reduzir os entraves das contas públicas e elevar os investimen­tos produtivos, públicos e privados. Será necessário continuar a arrumação das finanças oficiais, eliminando o descompass­o entre o cresciment­o dos gastos obrigatóri­os, a começar pelos previdenci­ários, e o da receita líquida. A contenção da alta de preços foi essencial para a preservaçã­o e para o aumento da renda dos consumidor­es, mas ainda há espaço para derrubar a inflação. Será uma irresponsa­bilidade escandalos­a deixar essas questões de lado por causa das eleições. Esse risco é real e assustador.

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