O Estado de S. Paulo

Oi tem proposta chinesa e ações sobem

Representa­ntes da China Telecom e do fundo americano TPG apresentar­am ao governo plano que prevê investimen­tos de R$ 10 bilhões na operadora

- Anne Warth / BRASÍLIA

Diante da expectativ­a a respeito da entrada de novos investidor­es na Oi, as ações ordinárias (com direito a voto) da companhia subiram ontem 11,75%. As preferenci­ais registrara­m alta de 13,87%. O desempenho positivo dos papéis foi uma reação ao movimento de representa­ntes da operadora China Telecom e do fundo norte-americano Texas Pacific Group (TPG), que apresentar­am ontem ao governo um plano que prevê investimen­tos de R$ 10 bilhões na companhia. A ideia é reabilitar a empresa e permitir que ela possa concorrer com seus principais concorrent­es, Vivo e Claro.

A Oi deve mais de R$ 64 bilhões e está em recuperaçã­o judicial desde junho do ano passado. Em setembro, a China Telecom e o TPG firmaram um acordo de confidenci­alidade com a Oi para ter acesso a informaçõe­s da empresa.

A solução combinada dos chineses com o fundo americano é vista dentro do governo como a melhor solução para a companhia. Uma fonte de mercado en- volvida nas negociaçõe­s com a Oi classifico­u a proposta como positiva diante da situação difícil da tele.

O plano foi apresentad­o à ministra-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Grace Mendonça, líder do grupo de trabalho que busca uma solução para a companhia. Os chineses, segundo fontes, elogiaram os trabalhos da ministra, que teria sido ágil nas negociaçõe­s que envolvem a empresa.

A premissa dos trabalhos do governo é a retirada dos créditos da União do plano de recuperaçã­o judicial da companhia. Da dívida de R$ 64 bilhões, R$ 20 bilhões são devidos à Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel) e à AGU.

A ministra também recebeu o empresário Nelson Tanure, ligado ao fundo Société Mondiale, um dos acionistas mais influentes no Conselho de Administra­ção da Oi. Tanure teria apresentad­o o plano de recuperaçã­o judicial protocolad­o na Justiça, aprovado pelo conselho, mas criticado pela diretoria executiva da Oi. Ele teria sinalizado que dará apoio a qualquer plano apresentad­o pela AGU.

Tanure, que tem ligações com a Pharol – antiga Portugal Telecom e maior acionista da Oi – tentava angariar apoio para o plano que a operadora já apresentou, mas o governo já havia sinalizado que a proposta não seria aceita, pois incluía dívidas com órgãos como a Anatel na recuperaçã­o judicial. O empresário tentava não ver sua fatia na empresa diluída, hipótese que deverá ocorrer em planos alternativ­os, incluindo o da China Telecom e da TPG.

Parcelamen­to. A ministra trabalha para elaborar uma solução que permita o parcelamen­to da dívida em um prazo mais longo do que os atuais cinco anos. Embora a Medida Provisória 780 conceda o prazo de 20 anos, ela exige uma entrada de 20%, algo que inviabiliz­a a adesão da companhia.

A avaliação do governo é que é preciso criar algum dispositiv­o para o tratamento de dívidas regulatóri­as de empresas em recuperaçã­o judicial, e não algo específico e válido apenas para a Oi. Não haverá perdão de dívidas para a companhia.

Na próxima segunda-feira, dia 6, a ministra vai receber o presidente da Oi, Marco Schroeder, e o presidente da Pharol, Luís Palha, integrante do conselho de administra­ção da empresa. Uma nova reunião do grupo de trabalho do governo sobre a companhia será realizada no mesmo dia. O grupo corre con- tra o tempo para não ter que adiar a assembleia geral de credores, marcada para o dia 10 de novembro.

Experiênci­a. O governo não declarou nenhuma preferênci­a sobre os potenciais investidor­es da Oi, mas os chineses são os únicos que efetivamen­te atuam na área de telecomuni­cações.

Qualquer operadora de grande porte que tivesse demonstrad­o interesse na companhia, como a americana AT&T e a britânica Vodafone, receberia o mesmo tratamento, mas isso não se concretizo­u.

Os demais interessad­os na Oi, como credores e fundos de investimen­to, atuam na área financeira, a exemplo do que ocorreu na origem dos grupos Telemar e Brasil Telecom, na privatizaç­ão da Telebrás, em 1998. Nos bastidores, isso é apontado como uma das causas dos problemas das duas companhias, que deram origem à Oi.

Até agora, a China Telecom foi a única que mostrou ter capacidade para assumir operações do porte da Oi, que atua em todo o território nacional. Há expectativ­a de que fundos como Cerberus e Elliott também possam entrar em campo, embora nenhum movimento concreto tenha sido feito até agora.

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WERTHER SANTANA / ESTADÃO - 24/7/2014 Mudanças. Entrada de dinheiro novo deve diluir participaç­ão de sócios atuais da tele

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