O Estado de S. Paulo

Terror em Nova York

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Nova York voltou a ser alvo do terrorismo, no dia 31, 16 anos depois do ataque contra as torres gêmeas do World Trade Center, com um atentado que deixou 8 mortos e 11 feridos. Embora com caracterís­ticas muito diferentes do ataque que chocou o mundo no dia 11 de setembro de 2001 – meios rudimentar­es e apenas um terrorista, dirigindo um veículo jogado contra pedestres –, essa nova tática semeia o medo e a inseguranç­a, porque demonstra a facilidade com que o terror pode operar. Ações idênticas realizadas em outros países desde o ano passado não ensinaram as forças de segurança a impedir a ocorrência de novos atentados.

O terrorista – Sayfullo Saipov, de 29 anos, originário do Usbequistã­o, vivendo legalmente nos Estados Unidos há sete anos – invadiu com uma caminhonet­e uma ciclovia ao lado do Rio Hudson e atropelou pedestres ao longo de 1,6 km, até se chocar com um ônibus escolar, a quatro quadras do antigo World Trade Center. Saiu então do veículo gritando em árabe “Deus é grande”, portando duas armas de brinquedo – uma de ar comprimido e outra que disparava tinta –, numa indicação de que sua intenção era ser morto em confronto com a polícia. Foi ferido a tiros e levado para um hospital. Seis pessoas morreram no local e duas em hospital. Entre os mortos estavam cinco jovens argentinos e um turista belga.

Segundo o governador do Estado de Nova York, Andrew Cuomo, o terrorista se radicalizo­u depois que chegou aos Estados Unidos e começou a se informar sobre o Estado Islâmico (EI). Tudo indica, portanto, ser um lobo solitário que resolveu agir por influência das ações e da doutrinaçã­o do EI, que, em casos como esse, costuma reivindica­r o atentado.

Esses atentados constituem hoje o maior problema do combate ao terrorismo do EI, principalm­ente nos países ocidentais, eleitos como os alvos principais desse tipo de ação. Antes, por mais difícil que fosse enfrentar o terrorismo, havia algo palpável a partir do qual isso podia ser feito. Um atentado como do World Trade Center, que deixou quase 3 mil mortos, só foi possível por ter por trás uma organizaçã­o – Al Qaeda – responsáve­l pelo treinament­o dos terrorista­s e o minucioso planejamen­to da ação.

Ou seja, havia um grupo com uma linha de comando, várias ramificaçõ­es e uma rede de cumplicida­des, a partir das quais os serviços de inteligênc­ia podiam obter informaçõe­s destinadas a prevenir ataques e planejar ações para atingir seus comandante­s e desarticul­ar a organizaçã­o. Por ser assim estruturad­a, a Al Qaeda perdeu seu comandante Osama bin Laden, numa operação de forças americanas no Paquistão, e hoje não é nem sombra do que foi no passado. Algo parecido acaba de acontecer com o EI, derrotado em suas bases no Iraque e na Síria, princi- palmente pela coalizão liderada pelos Estados Unidos.

A série de atentados ocorridos em Paris em novembro de 2015, que deixaram mais de uma centena de mortos e foram executados por oito terrorista­s, enquandrav­a-se naquela primeira fase do terrorismo. A partir do ataque feito por um lobo solitário que jogou um caminhão sobre multidão que comemorava a data nacional da França, 14 de julho, em 2016, em Nice, deixando 84 mortos, a situação muda. Ataques idênticos se sucedem, desde então, em Berlim, Londres, Barcelona e agora em Nova York.

Como são solitários que passam à ação por influência do EI, mas com o qual não têm ligação direta – embora ele logo reivindiqu­e a proeza macabra –, nem com qualquer outra organizaçã­o, é virtualmen­te impossível a localizaçã­o prévia desses terrorista­s. Eles saem da sombra quando menos se espera e nem os melhores serviços de inteligênc­ia do mundo têm condições de evitar seus ataques. Como suas “armas” – caminhões, caminhonet­es e carros – podem ser conseguida­s facilmente, sem despertar suspeitas, isso complica ainda mais a tarefa da prevenção.

O fato de tais atentados virem se repetindo com espantosa facilidade indica o tamanho do desafio representa­do hoje pelo terrorismo. O combate a ele não depende de força bruta e as forças de segurança ainda não conseguira­m desenvolve­r meios eficazes de combater essa praga.

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