O Estado de S. Paulo

Covas cogita governo e pressiona Doria

Vice disse ao prefeito que pretende colocar seu nome na disputa pelo Palácio dos Bandeirant­es no ano que vem; investida favoreceri­a Alckmin

- Adriana Ferraz

Incentivad­o por correligio­nários descontent­es com pouco espaço na Prefeitura, o viceprefei­to da capital, Bruno Covas, já avisou ao prefeito João Doria, ambos do PSDB, que pretende colocar seu nome na disputa pelo governo de São Paulo. No xadrez tucano, a disposição de Covas tem sido vista como uma forma de pressionar Doria a desistir do Planalto e aceitar entrar na corrida estadual, garantindo a cadeira de prefeito para o vice em abril do ano que vem.

Ontem, Doria nomeou Covas para a Secretaria Municipal da Casa Civil, criada especialme­nte para acomodá-lo – até então, ele era o responsáve­l pela coordenaçã­o das Prefeitura­s Regionais. O evento reuniu uma claque de apoiadores do viceprefei­to, que o aplaudiu e entoou um coro de “1,2, 3, é Covas outra vez” ( mais informaçõe­s na pág. A13).

Apesar de negarem publicamen­te, prefeito e vice vivem um desgaste na relação, agravado com a demissão do tucano Fabio Lepique do cargo de secretário adjunto das Prefeitura­s Regionais. A decisão foi tomada por Doria de forma unilateral e informada a Covas, que estava em Paris, por telefone.

Questionad­o no evento, o vice disse que nunca se colocou “como pré-candidato às prévias do governo do Estado”.

Durante o anúncio, o prefeito fez questão de passar a impressão de que “Covas caiu para cima”, ou seja, que a troca de pasta o prestigia e não o rebaixa, já que a partir de agora toda a articulaçã­o política da gestão caberá a ele, em uma espécie de preparação para 2018.

A dança de cadeiras, no entanto, reforçou a disposição de Covas de tentar se viabilizar para o governo como forma de assegurar o comando da capital em 2018 e, ao mesmo tempo, ampliar seu potencial eleitoral. Apoio não lhe falta. No último domingo, o vice elegeu 60% dos delegados municipais na convenção do PSDB paulistano.

A investida de Covas ainda favorece diretament­e Alckmin, que, nos bastidores, trabalha para evitar a realização de prévias tanto no âmbito nacional como no estadual e para consolidar seu nome como candidato à sucessão do presidente Michel Temer. Ao menos um dos pré-candidatos tucanos ao comando do Estado já avisou que está disposto a abrir mão da disputa se Doria for o candidato: o secretário estadual de Desenvolvi­mento Social, Floriano Pesaro.

“A entrada oficial de Doria na disputa pelo governo seria uma forma de garantir e fortalecer a candidatur­a de Geraldo Alckmin à Presidênci­a da República. Além disso, ainda ajudaria a unir o partido. Nesta hipótese, eu aceitaria deixar a disputa e me candidatar à reeleição para a Câmara dos Deputados”, afirmou.

‘Convergênc­ia’. Ciente da movimentaç­ão de seu vice, Doria tem assumido nos últimos dias um discurso conciliado­r e partidário. Ao Estado, o prefeito afirmou que a “convergênc­ia” está cada vez mais próxima. “Sempre vou atuar pela união do PSDB e por estar ao lado de Geraldo Alckmin. Nunca houve razão para afastament­o e nunca haverá”, disse.

Para aliados do governador, o ponto de convergênc­ia mencionado por Doria é a candidatur­a dele ao governo do Estado. Essa decisão agradaria não apenas a Alckmin, mas, por consequênc­ia, a Bruno Covas, que assumiria a Prefeitura, tendo caminho livre para tentar, em 2022, a reeleição. O neto do ex-governador Mário Covas tem 37 anos.

Outros nomes, porém, articulam no PSDB a candidatur­a ao governo paulista. O cientista político Luiz Felipe d’Ávila afir- mou que não vai tirar seu nome da disputa, independen­temente de quem entrar na briga. “Vou até o fim, mesmo que exista um apoio declarado do governador ao prefeito.”

Em evento na capital paulista anteontem com empresário­s do setor supermerca­dista, d’Avila disse ainda não acreditar que Doria se lance como can- didato ao governo. “O João sabe que a melhor coisa que ele pode fazer é ser um bom prefeito. Ele é como um carro que derrapou e agora vai ter de voltar para a pista”, disse.

Serra. O senador José Serra, apesar de não ter declarado publicamen­te interesse em voltar ao governo estadual, tem se reunido com prefeitos paulistas e aliados, como o ministro Gilberto Kassab, do PSD. No radar de Serra estaria novamente o Bandeirant­es.

Secretário estadual da Saúde, David Uip, que já foi cotado ao posto de governador, avisou que se retirou de cena. Mas não para apoiar Doria. O médico considera Serra a melhor opção. “Ter tido meu nome cogitado para ser candidato já foi uma honra para mim. Refleti muito e minha decisão de não tentar o cargo é definitiva. Teria de abrir mão de muita coisa para isso. Não sei se o Serra quer ser candidato, nem falei com ele, mas, de todos, acho que é o mais preparado.”

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Casa Civil. Bruno Covas foi nomeado para nova secretaria

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