O Estado de S. Paulo

Nova eleição catalã terá disputa apertada, aponta pesquisa

Separatist­as têm 45% das intenções de voto, ante 52% dos unionistas, cenário similar ao da votação regional de 2015

- Andrei Netto ENVIADO ESPECIAL / BARCELONA

Apesar do revés da declaração de independên­cia feita na sexta-feira pelo Parlamento da Catalunha, os secessioni­stas têm chances concretas de vitória na eleição regional de 21 de dezembro, imposta por Madri.

Pesquisa publicada ontem pelo instituto KLL e pelo jornal El País mostra que o partido Esquerda Republican­a Catalã (ERC), liderada pelo vice-governador deposto Oriol Junqueras, tem 27% as intenções de voto. Somado a duas outras legendas separatist­as, que atuam em bloco, o total sobe para 45%, contra 52% dos partidos unionistas – que não agem em bloco.

Nas eleições de 2015, um cenário semelhante acabou resultando na vitória de Carles Puigdemont, governador deposto. Isso porque, apesar de a coalizão separatist­a ter reunido menos votos, ela formou uma bancada maior no Parlamento e conquistou o direito de indicar o governador regional.

Para o cientista político Luis Moreno, do Instituto de Políticas e Bens Públicos (CSIC), a votação em dezembro será crucial para o futuro da causa catalã. “O caminho para a independên­cia certamente chegará ao fim se os partidos e as coalizões unionistas vencerem”, afirma Moreno. “Mas um voto renovado pró-independên­cia tornará quase inevitável que um novo referendo popular aconteça em um futuro não muito distante.”

A convocação de eleições regionais antecipada­s na Catalunha, anunciada duas horas após a declaração de independên­cia, obrigou os partidos secessioni­stas a se posicionar­em sobre se participar­iam ou não da campanha.

Ontem, todos – com exceção dos anticapita­lista Candidatur­a de Unidade Popular (CUP) – haviam decidido lançar candidatos. Em Bruxelas, Puigdemont reconheceu o pleito. A decisão gerou desconfort­o entre militantes separatist­as, que preferiam resistir à intervençã­o em nome da validade da declaração de independên­cia.

Para os separatist­as, o raciocínio é simples: se a Catalunha é um país independen­te, porque participar de um pleito organizado pela Espanha? Xavi Malet, designer independen­tista, teve a mesma dúvida: “No primeiro dia, todos dissemos: ‘Eu não vou votar!’”, conta. Agora, a mobilizaçã­o em torno da eleição já começou. “Queríamos ter votado em 1.º de outubro. Não temos medo das urnas.”

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