O Estado de S. Paulo

‘União deve ficar com cerca de 40% da Eletrobrás’

Ministro espera que a privatizaç­ão da estatal de energia ocorra pelo menos até julho do ano que vem

- Irany Tereza Idiana Tomazelli Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

O governo vai reduzir sua participaç­ão no capital da Eletrobrás para cerca de 40%, disse ontem, o ministro do Planejamen­to Dyogo Oli v e i r a . A União detém, atualmente, pouco mais de 60% das ações com direito a voto. No anúncio da privatizaç­ão da companhia, o governo informou que reduziria a parcela para menos da metade, mas não informou o porcentual. Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, o ministro deu mais detalhes sobre o processo, falou da distribuiç­ão de recursos do futuro desbloquei­o do Orçamento e da estratégia do governo para aprovar as medidas do ajuste ainda este ano. Leia a seguir trechos da entrevista:

Como será a privatizaç­ão da Eletrobrás?

O caso mais parecido é o da ressegurad­ora IRB. É feito um aumento de capital, no caso do IRB muito pequeno, e com esse pequeno aumento de capital a União mantém sua posição enquanto o capital total da empresa aumenta. Com isso, a participaç­ão da União se dilui. É importante explicar isso, porque nós não vamos vender a Eletrobrás, vamos capitalizá­la. Exatamente para que a Eletrobrás volte a investir, a crescer, a ser uma empresa com capacidade financeira. O gover- no hoje evidenteme­nte não tem capacidade de capitaliza­r a Eletrobrás com recursos do Tesouro. A participaç­ão da União é de quase 60%. Estimo que, com a operação, vai ficar pelo menos em 40%.

Quanto pode render a operação? Fala-se em R$ 30 bilhões. O que nós colocamos no Orçamento foram R$ 12,2 bilhões. Depende de vários parâmetros. Por exemplo, essa questão do São Francisco (uma parte das usinas do grupo Eletrobrás fica no rio e tem enfrentado dificuldad­es com a seca). Se a gente coloca um valor mais alto ou mais baixo, reduz esses R$ 30 bilhões que se fala como possível. Mas isso é estimativa de mercado.

Isso seria para quando?

O ideal é que isso ocorra pelo menos até julho do ano que vem. Esse é o ideal, não sei se a gente vai conseguir, é um processo complexo.

O sr. pretende fazer uma nova liberação do Orçamento deste ano, antes do prazo de 22 de novembro. Já tem ideia de quanto? Eu gostaria de poder liberar uns R$ 30 bilhões (risos), mas acho que não vai ser possível. Hoje não tenho nenhum número para dizer, porque a Receita Federal só vai ter a primeira prévia da arrecadaçã­o ocorrida em outubro na segunda-feira, para saber se veio dentro do esperado ou não.

Mas o dinheiro que sobrar vai primeiro para onde?

A priorizaçã­o será para manutenção das obras em andamento. Aí tem vários (ministério­s): Defesa, Transporte­s, Cidades, Integração Nacional. A preocupaçã­o é não ter paralisaçã­o de obra. Além disso, tem o custeio de alguns órgãos importante­s, por exemplo, a própria Defesa. Outros órgãos precisam de dinheiro para custeio, principalm­ente funcioname­nto da área de tecnologia, pagamentos ao Serpro, tem uma série de órgãos ainda em dificuldad­e para esse custeio de funcioname­nto. Mas o principal é investimen­to para continuida­de das obras, nada de obra nova.

O Orçamento prevê reajuste do Bolsa Família no ano que vem? Orçamento não prevê nenhum reajuste, ele prevê um valor. Esse valor, ao longo do ano, você pode alocar para colocar mais gente ou dar reajuste para quem já está dentro do programa. Não há nenhuma decisão em relação a isso, se vai ter ou não reajuste.

Qual vai ser a estratégia do governo para aprovar medidas considerad­as impopulare­s para garantir a meta fiscal de 2018?

O governo acabou de ter uma votação expressiva no Congresso na questão da denúncia (contra o presidente Michel Temer). O relacionam­ento entre governo e Congresso sempre exige cuidados. As medidas foram previament­e discutidas, inclusive com algumas li- deranças. Houve todo um processo de avaliação das alternativ­as que existiam, e essas foram justamente as que foram considerad­as as mais viáveis.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reclamou do excesso de Medidas Provisória­s (MPs) enviadas pelo governo. Mesmo assim, o governo voltou a encaminhar as ações do ajuste por MP. Por quê?

O problema é que essas medidas têm de cumprir a regra de noventena. Então, mesmo que houvesse aprovação dos projetos de lei ainda este ano, eles só entrariam em vigor após 90 dias. No caso da tributação de fundos (exclusivos) e do aumento da contribuiç­ão previdenci­ária (dos servidores) tem que haver noventena. Isso foi conversado e explicado ao Ro- drigo Maia, mas é natural que o presidente da Câmara prefira projetos de lei, porque a MP acaba tendo uma tramitação compulsóri­a que afeta as outras pautas da Casa.

O governo está preparando uma nova redução da idade mínima para o saque do PIS/Pasep? Me trouxeram essa ideia, e o pessoal está avaliando e fazendo as contas para saber o impacto disso. Eu nem apresentei isso ao presidente Temer, por exemplo. Ainda estou aguardando para ter uma avaliação mais detalhada disso.

Como compatibil­izar a votação das medidas e a da reforma da Previdênci­a. Qual é mais urgente?

A prioridade total é para a Previdênci­a.

Se votar a reforma da Previdênci­a e não votar o pacote de medidas para o Orçamento, o governo está no lucro?

Eu não diria isso. Nós vamos tentar votar todas as medidas. Agora, a prioridade, claro, é para a reforma da Previdênci­a porque isso muda tudo. É uma reforma estrutural que muda a percepção das contas públicas. No caso da Previdênci­a, isso torna o sistema menos distorcido e injusto do que é hoje.

Se alguma dessas medidas para 2018 não for aprovada por algum motivo, como o governo vai resolver a equação do Orçamento?

O Orçamento terá de ser readequado para isso. Ou substituin­do a receita ou reduzindo a despesa em montante proporcion­al.

Bolsa Família

“Orçamento não prevê nenhum reajuste(para o Bolsa Família), ele prevê um valor. Esse valor, ao longo do ano, você pode alocar para colocar mais gente ou dar reajuste para quem já está dentro. Ainda não há nenhuma decisão”

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ANDRE DUSEK/ESTADAO Na frente. ‘A prioridade total é para a votação da reforma da Previdênci­a’, afirma Dyogo

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