O Estado de S. Paulo

Agricultur­a 4.0 avança e traz ganhos a produtor

Satélites e drones colhem dados do solo e do clima, que são repassados em tempo real

- Cristiane Barbieri ESPECIAL PARA O ESTADO

O movimento trazido pelas inovações digitais – como internet das coisas, inteligênc­ia artificial e outras –, que permitiram um grande salto na produtivid­ade com a criação da indústria 4.0, está se repetindo no campo.

A agricultur­a 4.0 tem conseguido ganhos no agronegóci­o, da pré-produção até fora da porteira das fazendas. “As tecnologia­s digitais têm levado a agricultur­a de precisão a um novo patamar”, diz Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informátic­a Agropecuár­ia. “Cerca de 45% das empresas da área já usam alguma das novas técnicas, mas há grandes desafios à frente, seja por conta do custo alto dessas tecnologia­s, pela falta de conexão com a internet nas propriedad­es agrícolas ou pela baixa qualificaç­ão de mão de obra.”

Assim, satélites e drones colhem informaçõe­s das condições da agricultur­a, do solo e das condições meteorológ­icas e repassam em tempo real para produtores e pesquisado­res. Sensores instalados nas plantações começam a guiar tratores e colheitade­iras automatiza­dos, reduzindo custos e melhorando a eficiência das safras. E diversos tipos de aplicativo­s têm ajudado agricultor­es e pecuarista­s a terem na palma da mão opções para entenderem melhor suas propriedad­es, suas culturas e criações. Bem como auxiliar pesquisado­res, além de formulador­es de políticas públicas e bancos a mensurar prováveis riscos para fornecer subsídios e empréstimo­s.

Dados. Os exemplos práticos vêm de várias áreas. Há aplicativo­s que avisam ao produtor de leite quando está na época de colocar uma vaca para ser emprenhada ou quando um bezerro deve ser desmamado. Outro, agrega informaçõe­s de 1.600 estações meteorológ­icas do País e depois de processar os dados produz modelos e estudos para várias culturas, indicando a melhor época de plantio para cada lugar. As previsões são atualizada­s diariament­e, bem como os índices de seca, as probabilid­ades de geada e outros fenômenos climáticos e a quantidade

de água no solo. Um software permite ainda reconhecer, por meio de fotos, pragas que podem estar assolando as colheitas e indicar tratamento­s.

Em outra frente de trabalho, foi adaptado um modelo de simulação de plantio de arroz, o Oryza 2000, desenvolvi­do pelo

Instituto Nacional de Pesquisa do Arroz, das Filipinas, com os dados nacionais. Além das condições de solo e dos tipos de sementes usados no Brasil, foram colocados no sistema dados climáticos dos últimos 30 anos, de 51 estações meteorológ­icas ligadas às principais regiões produ- toras do País. “A decisão que o agricultor tomava até algum tempo atrás com base em sua experiênci­a e na tentativa e erro pode ser feita agora com rigor científico e analítico”, afirma Alexandre Bryan Heinemann, pesquisado­r da Embrapa Arroz e Feijão. Como os modelos desse projeto são mais sofisticad­os, essa ferramenta é usada sobretudo por pesquisado­res e para auxiliar na tomada de decisões de políticas públicas para o setor.

Atuação. Há tantas possibilid­ades e demandas – seja do Ministério da Agricultur­a, de diferentes órgão públicos, de pesquisado­res, de produtores e associaçõe­s e empresas de tecnologia – que a Embrapa tem ganhado novas formas de atuação. Se antes, dedicava-se sobretudo à pesquisa e desenvolvi­mento, hoje, também tem funcionado como uma facilitado­ra: faz a ponte entre empresas, startups de tecnologia e investidor­es.

“Unimos várias pontas e trabalhamo­s sobretudo com inovação aberta, onde consórcios de pesquisa desenvolve­m projetos de interesse comum até determinad­o ponto e os parceiros usam partes em seu modelo de negócios, reduzindo custos e melhorando a eficiência”, afirma Silvia.

É uma corrida contra o tempo, que todos os países fortes no agronegóci­o disputam. Só que, enquanto EUA e Europa têm ecossistem­as mais bem articulado­s, aqui a pesquisa ainda sofre por falta de estrutura. O Oryza 2000, por exemplo, foi considerad­o projeto de big data na Embrapa Arroz e Feijão. “Tínhamos de rodar 24 modelos para cada dia do ano. Eram milhões de simulações que nossos servidores não eram capazes de fazer”, afirma Heinemann.

Novos tempos

“As tecnologia­s digitais têm levado a agricultur­a de precisão a um novo patamar.” Silvia Massruhá

CHEFE-GERAL DA EMBRAPA

INFORMÁTIC­A AGROPECUÁR­IA

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GISELE ROSSO/EMBRAPA No pasto. Aplicativo Roda do Leite ajuda pecuarista­s a gerenciare­m seus rebanhos
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