O Estado de S. Paulo

PT deve se aliar a partidos que votaram pela saída de Dilma

Proibição deve cair em 2018, segundo o presidente estadual, Luiz Marinho

- Ricardo Galhardo

Presidente estadual do PT, o ex-prefeito de São Bernardo e ex-ministro do Trabalho Luiz Marinho disse, em entrevista a Ricardo Galhardo, que o partido tem de rever a proibição de alianças com siglas que apoiaram o impeachmen­t de Dilma Rousseff para ir às urnas em 2018. “Temos de recuperar bases. A maioria do povo brasileiro também apoiou o impeachmen­t, e nós queremos recuperar a maioria do povo brasileiro.” Ele acredita que o PT deve “fortalecer a bancada federal”, o que passaria por um “processo de convencime­nto” para que Eduardo Suplicy abra mão de uma eventual candidatur­a ao Senado em prol do ex-prefeito Fernando Haddad. Pré-candidato ao governo do Estado, Marinho afirma que o desafio do PT é recuperar o eleitor que deixou de votar no partido, mas “que não foi para o lado de lá”, e critica os oponentes tucanos: “Geraldo Alckmin faz política de muito cafezinho e pouca gestão”.

O ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho é um dos petistas mais próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ex-ministro do Trabalho e da Previdênci­a, o ex-prefeito, alçado ao posto de pré-candidato ao governo de São Paulo, afirmou ao Estado que o PT tem de rever, para as eleições de 2018, a proibição de alianças com os partidos que apoiaram o impeachmen­t de Dilma Rousseff para “recuperar a maioria do povo brasileiro”.

Presidente estadual do PT em São Paulo, Marinho disse que uma candidatur­a do exprefeito Fernando Haddad ao Senado depende de convencer o vereador Eduardo Suplicy a disputar uma vaga na Câmara. Sobre o PSDB, seu adversário direto na corrida ao governo do Estado, afirmou que está na hora de o partido sair do Palácio dos Bandeirant­es.

• Qual deve ser o arco de alianças do PT em 2018?

É muito cedo para falar disso porque vai ter uma evolução muito grande na chegada. Acredito em um monte de mudanças no início do ano, inclusive mudanças de partido até março. E a grande definição passará pela candidatur­a do Lula. E isso que vai definir o arco de alianças do PT no Brasil inteiro, inclusive em São Paulo.

• O PT deve fazer alianças com partidos que apoiaram o impeachmen­t de Dilma Rousseff?

Veja, nós temos que recuperar bases. A maioria do povo também apoiou o impeachmen­t e nós queremos recuperar a maioria do povo. Não vejo a necessidad­e de um grande arco de alianças para a candidatur­a do Lula. Vamos precisar de uma grande aliança para governar, no Congresso. Mas isso pode se dar no processo eleitoral ou pós-eleições. Agora vamos analisar no sentido de ganhar a eleição. Depois se tomam providênci­as sobre composição da base no Congresso.

• Está havendo uma reaproxima­ção do PT com o PMDB? O PT voltou ao governo do Renan Filho (PMDB) em Alagoas.

Depende da movimentaç­ão do lado de lá. O PMDB nunca foi um partido nacional, sempre foi uma federação de caciques nos Estados. Então vai depender do posicionam­ento do partido em cada Estado. Mas não enxergo qualquer possibilid­ade de aliança com o PMDB em São Paulo porque o Michel Temer é de São Paulo. Agora, em alguns Estados, eventualme­nte pode acontecer.

• Mas isso contraria uma decisão do Diretório Nacional do PT.

Segurament­e o diretório vai revisitar esse tema e vai saber trabalhar a complexida­de momentânea da política brasileira. Reposicion­amentos eventuais podem acontecer, mas não vai ser um “liberou geral”. Mas o PT deve permitir aliança com partidos que apoiaram o “golpe”.

• Lula disse que o eleitorado de Dilma se sentiu traído pelas mudanças na política econômica. O senhor concorda com isso?

É um sentimento. Sentimento não se muda. O sentimento do eleitorado realmente foi esse. Em 2014 já tinha muita gente reclamando da Dilma, depois com a história do Joaquim Levy ministro (da Fazenda) de fato se colocou dessa forma.

• O PT errou ao não insistir para que Lula fosse o candidato em 2014?

O PT insistiu. Lula é que não autorizou porque achava que era um direito legítimo da Dilma reivindica­r a reeleição e porque não era um movimento fácil também. Já vimos outros movimentos assim que não deram certo. A partir do momento em que a Dilma reivindico­u a vaga o movimento acabou sendo contido. Mas isso não tem volta.

• Qual a possibilid­ade de o nome de Lula estar na urna em 2018?

Noventa e nove ponto nove por cento.

• O que dá tanta certeza?

As circunstân­cias do processo. Delação premiada não serve para condenar. É uma sentença fadada a ser revisada. Dizer que os tribunais superiores vão confirmar uma sentença dessas é chamar todo o Judiciário brasileiro de esdrúxulo.

• Dilma pode ser candidata?

Até que gostaria de vê-la candidata, mas parece que não faz parte da vontade pessoal dela.

• A presença dela no palanque de Lula atrapalha?

Se ela não for candidata, não ajuda nem atrapalha.

• Ele não pode ser responsabi­lizado pelos erros dela?

Nós e a própria presidente Dilma já fizemos essa autocrític­a. E já apanhamos pelos nossos erros. É hora da redenção.

• Setores do PT dizem que o apoio da cúpula petista à sua pré-candidatur­a a governador não tem respaldo da base.

Há um debate majoritári­o para que a gente acelere o processo de definição de candidatur­as. Portanto, não é uma posição oficial do partido. É de, sei lá, 90%. É evidente que o PT é um partido democrátic­o e, se tiver outras reivindica­ções ou posicionam­entos, analisará.

• Tem petista chamando essa estratégia de “política do fato consumado” para barrar outras pretensões.

Nós não barramos absolutame­nte ninguém.

• Por que antecipar o lançamento da pré-candidatur­a?

O que nós precisamos é criar um movimento para pensar o Estado. O PSDB governa São Paulo desde antes de nascer. (Geraldo) Alckmin está há mais de 20 anos, seja como vice, governador ou secretário. Nestes anos todos qual é o nó, o gargalo, que o PSDB resolveu?

• O reequilíbr­io fiscal do Estado?

Reequilibr­ou? O governador fala que não precisa do governo federal, mas as grandes obras só acontecera­m com recursos da União. Cadê a capacidade de gestão e planejamen­to que eles tanto falam? Onde está o planejamen­to quando se fala em educação? Cadê a integração metropolit­ana no transporte? Tem obras na promessa que já deveriam estar prontas, mas não fincaram uma estaca até agora. O Alckmin é o governador do cafezinho. Muito cafezinho e pouca gestão.

• O que explica que os governos tucanos sejam eleitos e reeleitos?

É uma incógnita. Queremos em 2018 furar essa bolha da enganação. O governador Alckmin tem uma capacidade de evitar confusão de qualquer lado na mesma proporção da capacidade que tem para enrolar.

• Nos melhores momentos do governo Lula o PT não chegou nem mesmo ao 2º turno em SP.

O PT sofreu uma derrota, mas é preciso compreende­r a evolução das coisas e a cabeça da sociedade. Nós estamos num momento muito nebuloso com crises política e econômica. O desafio do PT é recuperar um eleitorado que não votou na gente, mas também não foi para o lado de lá.

• O sr. convidou Fernando Haddad para a vaga ao Senado?

Há um debate sobre a necessidad­e de o partido fortalecer a bancada federal. Se a gente convencess­e o Suplicy a ser candidato a deputado federal, o Haddad seria um belo candidato a senador. O mesmo vale para o Suplicy. Então essa definição depende de um processo de convencime­nto.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADAO Vaga. Luiz Marinho é o preferido de Lula para disputar o governo paulista pelo PT em 2018

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