O Estado de S. Paulo

Investimen­tos dão sinais de reação após 4 anos de queda

Ajuste. Economista­s projetam cresciment­o de até 1,6% na taxa de investimen­tos da economia no terceiro trimestre, freando uma queda de quase 15 trimestres seguidos; para retomar o patamar pré-crise, porém, ainda serão necessário­s vários anos de cresciment­o

- Eduardo Laguna Márcia De Chiara

A projeção de analistas é que a taxa de investimen­tos na economia tenha fechado o terceiro trimestre com cresciment­o de até 1,6%, após quase quatro anos de queda praticamen­te ininterrup­ta. A recuperaçã­o do que foi perdido no mesmo período, porém, deve demorar: os investimen­tos caíram de 21,1% para 15,5% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

Após quase quatro anos em queda praticamen­te ininterrup­ta – houve apenas um respiro, com alta de 0,4% no segundo trimestre do ano passado –, os investimen­tos devem começar agora a deixar o fundo do poço. A projeção é que a taxa de investimen­tos na economia tenha fechado o terceiro trimestre deste ano com cresciment­o de até 1,6%. Mas, segundo especialis­tas, ainda vai demorar muito tempo para se recuperar o que foi perdido nesse período: em quatro anos, a taxa de investimen­tos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 21,1% para os atuais 15,5%.

Rodolfo Margato, economista do Santander, por exemplo, projeta que os investimen­tos tenham crescido 1% no terceiro trimestre e devem ganhar mais ritmo no próximo ano, quando devem avançar 6%. Porém, esse cresciment­o ainda estará longe de recuperar os níveis pré-crise. “É claro que a volta dos investimen­tos é um sinal positivo, por interrompe­r quatro anos de contração, mas está longe de compensar todas as perdas desse período.”

Os sinais de que há um início de reação aparecem aos poucos. O Indicador de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, que mede os investimen­tos das empresas em bens de capital), calculado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que, em agosto, o investimen­to cresceu 0,8% em relação a agosto de 2016, após 13 meses seguidos de queda.

“Está havendo um respiro no investimen­to quando se olha os dados mensais”, diz o economista José Ronaldo de Souza Júnior, coordenado­r de Estudos de Conjuntura do Ipea. Ele ressalta que o investimen­to em máquinas e equipament­os está crescendo bastante e de forma aparenteme­nte consistent­e. Sua projeção é que, no terceiro trimestre, a taxa de investimen­tos na economia tenha crescido 1,6%.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), a produção de máquinas e equipament­os foi destaque positivo em agosto em várias bases de comparação dentro da indústria em geral. A produção de bens de capital cresceu cinco meses seguidos – entre abril e agosto – em relação ao mesmo mês do ano passado. No acumulado de janeiro a agosto, acumula uma alta de 4,4%, enquanto a produção industrial como um todo subiu 1,5%.

“É inegável que há uma melhora de ritmo, mas como as perdas do passado foram intensas, o movimento é muito gradual e lento em relação à retomada do investimen­to”, diz o economista André Macedo, ge- rente da Coordenaçã­o da Indústria do IBGE. Ele ressalta, no entanto, que, apesar do recente cresciment­o, a produção de bens de capital em agosto está 37,2% abaixo do seu ponto mais elevado, atingido em setembro de 2013.

De acordo com o indicador do Ipea, em agosto, o consumo aparente de máquinas (que é a produção nacional descontada a exportação e acrescida da importação) subiu 11% em relação ao mesmo mês de 2016. No ano, o consumo aparente de máquinas saiu do vermelho, com um avanço de 0,2%. Já a construção civil, que responde pela maior parcela do investi-

mento, acumula queda de 6,2% no ano e um recuo de 4,5% em agosto.

Gradualism­o. Paulo Castelo Branco, presidente da Associação Brasileira dos Importador­es de Máquinas e Equipament­os Industriai­s (Abimei), detectou uma melhora na importa- ção de bens de capital nos últimos meses, mas ressalta que é muito lenta. “Entre os nossos associados notamos uma maior movimentaç­ão de pedidos de cotação de máquinas.” Como há um intervalo de quatro aseis meses entrefecha­r o pedido e recebera máquina, ele acredita que as indústrias estão se preparando para um cenário melhor em 2018.

“Vamos deixando aos poucos o cenário de corte visto no investimen­to desde 2014”, diz Silvio Campos Neto, economista da consultori­a Tendências. Ele prevê um cresciment­o de 0,7% do investimen­to no terceiro trimestre.

Incertezas. Ainda que muitos projetos possam seguir represados em razão das incertezas decorrente­s das eleições do ano que vem, economista­s avaliam que o início das obras de empreendim­entos leiloados neste ano vai ampliar o fluxo de recursos i nvestidos em 2018. Nas previsões da consultori­a Inter.B, os investimen­tos em infraestru­tura vão subir dos R$ 95,5 bilhões previstos neste ano para R$ 107,2 bilhões em 2018. Serão puxados pelo avanço dos empreendim­entos nas áreas de energia, rodovias, ferrovias e portos.

“Partimos da premissa de que um candidato de centro e reformista vai ganhar as eleições do ano que vem. Essa retomada ficará, porém, comprometi­da se vencer um candidato de discurso populista. Se houver falta de visibilida­de, os investidor­es passarão a cobrar um prêmio de risco que nenhum empreendim­ento poderá pagar", observa Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B.

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