O Estado de S. Paulo

Espanha prende 8 líderes separatist­as

Retaliação. Oito independen­tistas que integravam o gabinete do governo catalão deposto por Madri são enviados para penitenciá­rias, incluindo o líder nas pesquisas para a eleição regional de 21 dezembro; militantes se mobilizam contra ações da Justiça e da

- Andrei Netto ENVIADO ESPECIAL / BARCELONA / COM AFP

Os oito líderes separatist­as presos ontem faziam parte do governo catalão destituído por Madri, incluindo o ex-vice-governador Oriol Junqueras. Eles são acusados de praticar crimes de rebelião e de desvio de verbas. Hoje deve ser formalizad­a a ordem de prisão também do ex-governador da Catalunha Carles Puigdemont, que está na Bélgica e pode ser extraditad­o. Eles podem pegar até 30 anos.

Oito líderes separatist­as que integravam o governo catalão destituído por Madri foram presos ontem após solicitaçã­o do Ministério Público espanhol, sob acusação de praticar os crimes de rebelião e desvio de verbas públicas. O pedido de detenção contra o governador deposto da Catalunha, Carles Puigdemont, deve ser formalizad­o hoje, de acordo com o jornal ‘El Periódico’. Segundo o advogado do líder, a ordem já teria sido emitida.

Inicialmen­te, o pedido do MP contra o ex-governador resultou apenas na prisão dos outros oito secessioni­stas, incluindo Oriol Junqueras, vice-governador deposto e atual líder das pesquisas eleitorais. Mais tarde, porém, uma juíza aceitou também o pedido contra Puigdemont, segundo o advogado Paul Bekaert, contratado pelo líder separatist­a na Bélgica.

“Acabo de receber uma mensagem do meu cliente de que efetivamen­te foi emitida uma ordem contra o presidente (catalão) e outros quatro ministros que estão na Bélgica”, disse Bekaert à emissora VRT. “Em termos práticos, significa que a Justiça apresentar­á a solicitaçã­o de extradição aos promotores federais em Bruxelas”, completou, garantindo que Puigdemont apelará de uma eventual ordem para ser enviado à Espanha.

Horas antes, o governador de- posto usou o Twitter para comentar a prisão de seus companheir­os. “O governo legítimo da Catalunha encarcerad­o por suas ideias e por ter sido leal ao mandato do Parlamento local”, escreveu. Ele também exigiu pela TV catalã a libertação dos políticos, apresentan­do-se como “governador legítimo”.

Se forem condenados, os acusados podem enfrentar até 30 anos de prisão. Puigdemont continua refugiado em Bruxelas, onde está desde o final de semana. Ele não compareceu à audiência do MP e não prestará depoimento à Alta Corte de Justiça da Espanha, em Madri, on- de 14 membros de seu governo são esperados até amanhã. Quatro outros políticos já anunciaram que não comparecer­ão.

Os membros do gabinete presos foram enviados para Estremera (seis homens) e Alcalá Meco (duas mulheres). Antes de ser detido, Junqueras convocou os independen­tistas a “derrotar o mal nas urnas em 21 de dezembro”.

“O denunciado Carles Puigdemont Casamajo manifestou publicamen­te sua intenção de não comparecer e solicitou fazer declaração por videoconfe­rência, sem oferecer dado algum sobre seu paradeiro”, argu- mentaram os procurador­es. “Solicita-se assim ao juizado que ordene a busca e captura e a detenção em âmbito nacional e internacio­nal.” Tão logo a decisão foi anunciada, o MP Federal da Bélgica respondeu que assim que for notificado cumprirá a ordem europeia de detenção contra Puigdemont.

Bekaert, célebre na Espanha por ter defendido membros do grupo terrorista independen­tista basco ETA, chegou a oferecer um depoimento por teleconfer­ência, mas argumentou que não haveria “clima político” para o retorno do líder secessioni­sta ao país.

Se for detido, Puigdemont não poderá ser candidato de seu partido às eleições regionais, convocadas por antecipaçã­o pelo premiê Mariano Rajoy. A Justiça da Espanha ampliou sua ofensiva envolvendo também a presidente do Parlamento catalão, Carme Forcadell, e cinco deputados da mesa diretora do Legislativ­o.

A agressivid­ade dos procurador­es contra os líderes do movimento independen­tista provocou uma reação imediata em Barcelona. No final da manhã, milhares de pessoas se reuniram na Praça Sant Jaume, em frente ao Parlamento e à sede do Executivo, para protestar contra a Justiça da Espanha, que não consideram legítima.

“Isso não é justiça, é uma injustiça total, e por isso estou aqui. Não são juízes de direito, mas juízes políticos. Temos esperança de que ao final a Europa se dará conta do problema e intervirá”, afirmou o aposentado Joan S., 70 anos, que portava uma bandeira “estrelada”, símbolo dos independen­tistas. Sua luta é para que, com uma eventual vitória em dezembro, os independen­tistas consigam negociar a realização de um plebiscito legal sobre a separação.

 ?? EMILIO MORENATTI/AP ?? Reação. Diante do Parlamento catalão, em Barcelona, manifestan­tes acusam Madri de executar prisões políticas
EMILIO MORENATTI/AP Reação. Diante do Parlamento catalão, em Barcelona, manifestan­tes acusam Madri de executar prisões políticas
 ??  ?? O ESTADO NA ESPANHA
O ESTADO NA ESPANHA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil