O Estado de S. Paulo

5 PERGUNTAS PARA...

Luislinda Valois, ministra dos Direitos Humanos

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1. A senhora pediu ao governo para não ter seu salário glosado. Por que razão?

Eu trabalhei e ganho meus proventos porque contribuí para a Previdênci­a. Decidi requerer meu salário de ministra. Eu trabalho 12, 14 horas por dia, eu moro em Brasília, estou distante da minha família, pago condomínio, tenho minhas despesas, tenho que me vestir com dignidade, tenho que estar maquiada, tenho uma representa­tividade e eu trabalho. Por que eu não vou requerer a remuneraçã­o desse trabalho que eu estou prestando ao Estado brasileiro? Foi o que eu fiz. Meu pecado foi esse.

2. A senhora acha justo receber mais de R$ 60 mil por mês do Estado?

Eu trabalhei mais de meio século pagando todas as minhas contribuiç­ões previdenci­árias. Até porque já vinha no meu contracheq­ue descontado exatamente para obter, como todo brasileiro, a minha aposentado­ria no momento oportuno. Esse dinheiro é meu, garantido pela Constituiç­ão da República Federativa do Brasil. Me aposentei e em seguida fui convidada pelo presidente a trabalhar como secretária de Promoção da Igualdade Racial. Depois fui nomeada ministra de Estado dos Direitos Humanos. Sou soteropoli­tana. Com essas nomeações eu vim morar em Brasília.

3. Por que a senhora comparou sua situação a trabalho escravo?

Eu fiz apenas uma analogia. Todo mundo sabe que o trabalho que não é remunerado é considerad­o trabalho escravo. Agora, por que que as pessoas se apegaram somente a isso? Isso é que eu não entendi.

4. A senhora acha que exagerou?

Não exagerei, não. Todo trabalho que é executado com dignidade, com respeito, tem que ser remunerado. Por acaso alguém trabalhari­a 12, 14 horas por dias e diria que não quer salário?

5. A senhora trabalha numa área que trata de pessoas em condições extremas de pobreza. Muitas têm a carga horária da senhora e não recebem nem os R$ 3 mil que a senhora recebe. Como explicar sua demanda a essas pessoas?

Eu não tenho que explicar. É um direito de peticionar. Como eu peticionei pedindo a revisão, as pessoas também poderão fazer seus pedidos e encaminhar para seus patrões. Eu aconselho a quem achar que deve é só requerer e aguardar a decisão da autoridade. Estou muito chateada. Eu não matei, eu não roubei. Faço coisas que ninguém faz e ninguém divulga uma agenda minha. Agora um requerimen­to e o povo está me execrando?

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