O Estado de S. Paulo

Desapropri­ações e leis ambientais fizeram subir o preço, diz governo

Estatal responsáve­l pela obra afirma que projeto de 1998 era preliminar; também foi necessário reassentar famílias

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Responsáve­l pela construção de três dos quatro trechos do Rodoanel, a Desenvolvi­mento Rodoviário S/A (Dersa), estatal controlada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), afirma que uma série de fatores contribuír­am para os sucessivos aumentos de custo da obra em relação ao planejado há 20 anos.

A empresa destaca que os estudos do anel viário disponívei­s à época ainda eram preliminar­es e estavam limitados a “diretrizes de traçado”, especialme­nte para os trechos sul, leste e norte. “Até mesmo a extensão total da rodovia ainda não era bem conhecida. O anúncio (feito em janeiro de 1998) informa 161,6 km e o Rodoanel terá 176,5 km de extensão total”, diz. Só o trecho leste foi construído pela iniciativa privada por meio de contrato de concessão.

A Dersa cita ainda que “não havia plantas de valores confiáveis” para estimar custos das desapropri­ações na época e que o desenvolvi­mento da região metropolit­ana no período, com aumento da mancha urbana, “re- sultou na valorizaçã­o de muitas dessas áreas em porcentuai­s bem maiores que o da inflação”.

Além disso, o surgimento de ocupações irregulare­s exigiu “programas sociais cada vez mais robustos para o reassentam­ento de famílias” e “a legislação ambiental também sofreu revisões e se tornou mais rígida”, demandando “soluções construtiv­as mais complexas e, via de regra, mais custosas”, como o sistema de drenagem para conter eventual derramamen­to de carga tóxica no trecho sul.

Ainda por causa da lei ambiental, segundo a Dersa, também foram necessário­s controles de assoreamen­to, monitorame­n- to da qualidade das águas e presença de mais especialis­tas, o que reduziu a eficiência dos trabalhos e elevou despesas.

Segundo o presidente da Dersa e secretário estadual de Logística e Transporte­s, Laurence Casagrande, esses fatores fizeram com que o trecho norte do Rodoanel se tornasse a rodovia “mais cara do País” em constru- ção. “É a mais cara porque é a mais difícil, a mais complexa. Ela está espremida entre o que sobrou da zona rural e o Parque da Cantareira, cheio de ocupações irregulare­s. Isso leva a um gasto altíssimo com desapropri­ação, reassentam­ento, compensaçã­o ambiental e com a própria obra, que tem mais de seis quilômetro­s em túnel.”

Sobre os supostos desvios nas desapropri­ações, ele diz que o governo é vítima de um esquema de fraudes. Em relação às suspeitas de superfatur­amento na obra, Casagrande afirma que as revisões de custo foram necessária­s e que o Estado colabora com as investigaç­ões.

Falha. Para o advogado Fernando Vernalha, especialis­ta em infraestru­tura, a maioria dos casos de aumento de custos decorre de falhas no projeto. “Não dá para minimizar a complexida­de de uma obra desse porte, mas se o projeto básico é bem feito, você reduz o risco de intercorrê­ncias”, destaca. / F.L.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Trecho norte. Essa foi a parte da obra mais complexa

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