O Estado de S. Paulo

John Green discute sua escrita e o amor

Autor de ‘A Culpa é das Estrelas’ volta com ‘Tartarugas Até Lá Embaixo’

- Mary Quattlebau­m WASHINGTON POST / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

Já se passaram quase seis anos que John Green publicou o best-seller instantâne­o A Culpa é das Estrelas e três desde que este se tornou um filme de grande sucesso. Agora, John Green volta com um novo livro, Tartarugas Até Lá Embaixo. Nessa história intensa, Aza Holmes, de 16 anos, esforça-se para resolver o mistério do desapareci­mento do bilionário pai de um amigo, enquanto tenta também controlar seu transtorno obsessivo-compul- sivo (TOC). Green, de 40 a nos, também enfrenta o TOC, e sua representa­ção sensível e tocante certamente o conecta à sua legião de fãs. Por e-mail, Green discutiu sua escrita e o amor romântico.

• Quando você começou este romance?

É difícil dizer, porque abandonei várias histórias ao longo dos últimos seis anos e depois livrei-me delas por partes. Mas a maior parte do livro foi escrita nos dois anos depois que me recuperei de um período de indisposiç­ão. Saindo dessa fase, pensei muito a respeito do relacionam­ento entre a reflexão e o eu, e também sobre o que o amor pode e não pode fazer.

• Aza Holmes compartilh­a o sobrenome com Sherlock Holmes. Como você se relaciona com a mística em torno de Holmes?

Adorei Sherlock Holmes enquanto crescia (e ainda adoro). Mas, como uma pessoa que luta com obsessão, acho estranho que a obsessão de Sherlock costume ser associada aos seus poderes de observação. Isso pode ser válido pa- ra as experiênci­as de algumas pessoas, mas, no meu caso, a obsessão me faz um detetive terrível, porque quando não estou bem, luto para compreende­r algo sobre o mundo fora de mim. Então, eu queria escrever um mistério onde o distúrbio mental da detetive Aza é nitidament­e inútil – não só a impedindo de resolver o mistério, mas também desviando o enredo da própria história.

• Você tem sido muito aberto a respeito de sua própria ansieda- de e transtorno obsessivo-compulsivo e um defensor de pessoas portadoras de doenças mentais. Quais foram os pontos positivos e os desafios na construção de uma protagonis­ta feminina com um problema como o seu?

Aza e eu compartilh­amos um transtorno de saúde mental, mas somos muito diferentes de outras formas: ela é extremamen­te silenciosa, e eu falo sem parar quando estou nervoso. Ela vive uma tristeza pela qual nunca passei. Escrever é sempre uma tentativa de empa- tia radical. Minha esposa e minha editora leram dezenas de rascunhos desta história ao longo dos anos, e a orientação delas foi inestimáve­l quando se tratava de imaginar Aza.

• Em muitos romances para jovens adultos, uma relação romântica em desenvolvi­mento conduz toda a história. Neste romance, você explora profundame­nte o amor do seu eu interior e o amor entre amigos e familiares também. Por que isso é importante?

O amor romântico é realmente importante para muitas pessoas, mas não é o único tipo de amor que importa. Aza está preocupada com as questões sobre seu eu interior e como ela pode estabelece­r um sentido coerente de si mesma, quando é, com tanta frequência, incapaz de escolher seus pensamento­s, e eu penso que uma das formas em que alguém aprende a imaginar o eu interior de outra pessoa como um substantiv­o singular é amando e sendo amado. Eu queria explorar como isso acontece – através do amor romântico, mas também através de outros amores.

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PHIL MCCARTEN/REUTERS Autor. A própria ansiedade inspirou detalhes da protagonis­ta

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