O Estado de S. Paulo

MARATONA DO ENEM COMEÇA PARA 6,7 MI

Educação. Adesão ao exame como vestibular aumenta ano a ano; Medicina da USP vai usar prova como método alternativ­o de ingresso pela primeira vez. Amanhã, 6,7 milhões de candidatos testam conhecimen­tos de Redação, Linguagens e Ciências Humanas

- Luiz Fernando Toledo

Desta vez, o exame será aplicado em dois fins de semana: amanhã, com Redação, Ciências Humanas e Linguagens, e no dia 12. Mais da metade dos alunos usa a nota do exame para ingressar no ensino superior público.

Mais da metade dos alunos (57,7%) já utiliza a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para ingressar no ensino superior público do País. Isso é o que mostram os dados mais recentes do Ministério da Educação (MEC) sobre o setor, de 2016. A prova passou a ser adotada como vestibular em 2009 e, ano a ano, conquista mais adesão entre faculdades públicas e privadas. Amanhã, 6,7 milhões de candidatos fazem a primeira fase da prova.

A proporção de uso do Enem nos processos seletivos é quase o triplo da registrada em 2010 (20,22%), de acordo com o Censo da Educação Superior do ano passado. Na rede pública, o uso é mais disseminad­o nas 63 universida­des federais – todas usam o exame como processo seletivo ou parte dele.

Desde 2015, parte dos cursos da Universida­de de São Paulo (USP) também adota o Enem como método alternativ­o de ingresso (o principal é a Fuvest). Em 2017, por exemplo, o curso de Medicina da USP na capital, um dos melhores do País, vai reservar 50 das 175 vagas para concorrênc­ia via Enem.

No universo total de calouros de 2016, incluindo as faculdades privadas, o Enem já seleciona três em cada dez estudantes. Instituiçõ­es de ponta, como a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Insper, reservam parte das vagas para a disputa via Enem. Um em cada cinco ingressant­es das particular­es (21,8%) usou a nota do exame.

Para os candidatos, o uso maciço do Enem pode facilitar o ingresso. “Direciona mais o estudo”, diz a estudante Mariana Zamberlan, que estuda no curso Objetivo, na Avenida Paulista, na região central de São Paulo. Ela vai fazer a prova pela quarta vez – duas delas, fez co- mo treineira. A adolescent­e planeja tentar Medicina nas universida­des federais de Minas (UFMG) e do Rio (UFRJ).

Apesar da possibilid­ade de concorrer a um lugar em Medicina da USP pelo Enem, ela descarta usar essa chance, por serem poucas vagas em disputa por meio da nota do exame, o que acirra a disputa. “Prefiro usar as minhas opções do Sisu (Sistema de Seleção Unificada, plataforma online do MEC que reúne vagas do ensino superior público para concorrênc­ia via Enem) em outras universida­des em que eu tiver mais chance de passar”, conta Mariana.

Kalil Vitor, de 23 anos, pretende utilizar o Enem para tentar vaga no curso de Engenharia Aeroespaci­al na Universida­de Federal do ABC (UFABC). Outra opção é Farmácia Bioquímica, pela USP, que também separa parte das vagas para concorrênc­ia pela exame. Vitor já fez a prova em 2015, mas acabou viajando para o Canadá para um intercâmbi­o. Nos últimos meses, se dedicou aos livros. “O Enem é uma prova de resistênci­a. Há pouco tempo para resolver perguntas muito longas. Por mais que haja preparação em relação ao conteúdo, é importante ter um lado psicológic­o forte.”

É o que pensa também a estudante Angélica Costa, de 25 anos, que vai tentar Medicina em diversas instituiçõ­es, incluindo particular­es, com o resultado que obtiver no Enem e em outras avaliações. “Para o Enem, nós precisamos treinar bastante a agilidade na leitura.”

Novidade. Pela primeira vez, o exame será aplicado em dois domingos. Amanhã, será a vez das provas de Redação, Linguagens e Ciências Humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia). No próximo domingo, candidatos enfrentam os testes de Ciências da Natureza (Química, Física e Biologia) e Matemática. Para Angélica, a nova divisão da prova ajuda a descansar a cabeça. “Mas o conteúdo ficará mais pesado, já que concentrar­á Humanas (muita leitura) em uma semana e Exatas (muitos cálculos) no outro.”

A coordenado­ra pedagógica do Cursinho da Poli, Alessandra Venturi, destaca que uma das maiores dificuldad­es do exame é o tempo hábil para realizálo e sugere que, com a distância maior entre as duas provas, os candidatos descansem mais e usem o tempo extra para se preparar. “É preciso trabalhar bastante a questão do exercício versus o tempo para realizá-lo. Há pouco tempo para responder às questões”, ressalta ela.

Redação. Neste ano, a polêmico ficou por conta de decisão da 5.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região que impede o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is Anísio Teixeira (Inep) de zerar a redação do candidato que desrespeit­ar os direitos humanos. Ontem, o governo recorreu ao Supremo Tribunal Federal contra a medida (mais informaçõe­s nesta página).

Criado em 1998, o Enem tinha o objetivo de avaliar o ensino médio, e a quantidade de inscritos não era grande. Em 2009, o número de questões e o método de correção foram alterados. Problemas de vazamento de itens da prova retardaram a adesão das universida­des no início, tornando o processo mais lentos do que o MEC esperava. Procurado, o Inep diz que não tem metas de adesão ao exame para os próximos anos.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADAO Expectativ­a. Mariana (à esq), Angélica e Kalil vão prestar a primeira fase do exame

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