O Estado de S. Paulo

Preço da energia pode limitar recuperaçã­o da economia

Retomada. Com reservatór­ios de hidrelétri­cas em níveis baixos e acionament­o das termoelétr­icas, preço da energia já acumula alta de 5,8% este ano, ante uma inflação de 1,78%; para especialis­tas, médias e pequenas indústrias são as mais afetadas

- BRASÍLIA

Os sinais de melhora da economia levaram o governo a reavaliar suas projeções de cresciment­o do PIB para 2018 de 2,5% para 3%. Mas o setor elétrico pode ser um entrave. As chuvas abaixo da média e a seca no Nordeste exigem o acionament­o das usinas térmicas e têm gerado um efeito cascata na indústria. O setor elétrico diz que não há risco de apagão. A preocupaçã­o é com o impacto financeiro, que pode atrapalhar a recuperaçã­o. A alta no preço da energia é de 5,8% no ano, ante uma inflação de 1,78%.

A pressão sobre os reservatór­ios das hidrelétri­cas tende a aumentar nos próximos anos, dada a ausência de novos projetos baseados na construção de grandes barragens e geração hídrica. Depois de uma década de investimen­tos em empreendim­entos de grande porte, como Jirau, Santo Antônio, Belo Mon- te, Teles Pires e São Manoel, todas instaladas na região amazônica, o governo praticamen­te paralisou a construção de novos empreendim­entos, por conta da complexida­de ambiental desses projetos. Se dois anos atrás previa-se mais de 10 mil megawatts (MW) de energia com projetos hidrelétri­cos a serem instalados na próxima década, hoje essa projeção é de 3 mil megawatts.

“Usinas solar e eólica são complement­ares e importante­s, mas não podem ser a principal fonte do País. Hoje estamos vivendo um problema estrutural no setor elétrico, porque deixamos de fazer usinas com gran- des reservatór­ios. Antes tínhamos três ou quatro anos de previsibil­idade de abastecime­nto, mesmo com falta de chuvas, devido aos nossos reservatór­ios. Hoje, essas estruturas suportam apenas meses se água. Perdemos esse benefício”, diz Roberto Wagner, especialis­ta em política industrial da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI).

Há 20 anos, as hidrelétri­cas respondiam por mais de 80% da geração de energia. Hoje, representa­m 60%. As mudanças nessa matriz terão impacto econômico. Um estudo elaborado pela CNI aponta que, para o Brasil cumprir o acordo de reduzir em 43% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, terá de desembolsa­r R$ 15 bilhões a mais do que o previsto pelo Plano Nacional de Energia (PNE). Segundo o levantamen­to, o investimen­to necessário para o País se adequar à meta da COP 21 para o setor elétrico – de aumento da parcela de geração renovável para ao menos 23% do total, desconside­rando a energia hídrica – será de R$ 316 bilhões até 2030, enquanto as estimativa­s do PNE são de R$ 301 bilhões.

Na avaliação da CNI, a tendência é de que novas usinas a gás natural também passem a fazer parte dos investimen­tos em térmicas, para substituir usinas mais antigas e mais poluentes – de geração a diesel e carvão, por exemplo –, reduzindo assim os índices de emissão.

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GUILHERME KARDEL-18/12/2016 Foco. Hidrelétri­cas perdem espaço na matriz energética

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