Baixo Augusta de cara nova
Especulação imobiliária atrai novos negócios, baladas e projetos culturais
O Baixo Augusta, área da região central da capital, vive uma renovação. Lançamentos de 3 mil apartamentos, desde 2013, dobraram o preço do metro quadrado e mudaram o perfil do local. Novos bares, restaurantes e negócios culturais aproveitam a valorização.
Quem frequenta o Baixo Augusta, na região central de São Paulo, já percebeu uma renovação acelerada no cenário. De um lado, a especulação imobiliária expulsa antigos casarões, pensões e clubes masculinos, que davam até um certo charme decadente à região conhecida pela boemia. Por outro, esse movimento atraiu novos negócios, restaurante e baladas, com empreendedores dispostos a investir mais em infraestrutura ou em projetos culturais inovadores.
De janeiro de 2013 a agosto desse ano, segundo a Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), foram registrados 18 lançamentos imobiliários com quase 3 mil novos apartamentos, localizados em modernos e imponentes espigões com mais de 20 andares. Isso fez o preço do metro quadrado saltar de R$ 6 mil para R$ 11 mil nos últimos sete anos.
Junto com as novas moradias, chegaram projetos como o de Alê Youssef, de 42 anos, que aposta na capacidade da região em reunir novas expressões e tolerar a diversidade. Ex-dono do antigo Studio SP, casa que fechou as portas no ano passado, o empresário inaugurou em 5 de outubro, na Rua da Consolação, a sede do Acadêmicos do Baixo Augusta, bloco fundado em 2009 por escritores, jornalistas, publicitários, atores, empresários e fãs da região, que misturam diversão e ativismo.
O bloco também criou A Casa da Augusta, organização não governamental que funciona na sede do bloco, com espaço para shows e palestras com temas variados. A programação é gratuita e não conta com recurso público, “nem dinheiro de lei de incentivo”, ressalta seu diretor.
“Ter um ponto de encontro é muito importante para que novas expressões e talentos se consolidem”, diz Youssef. Foi no seu Studio SP que bandas, na época alternativas, encontraram espaço para se exibir e crescer. Ali tocaram Tulipa Ruiz, Céu, André Frateschi, Karina Buhr e Criolo. “A ideia é ser uma espécie de ilha de reflexão crítica e de celebração contra o mar da caretice, neste momento de conservadorismo extremado”, afirma. “Falamos de ativismo, criatividade, cultura alternativa local e carnaval, quatro elementos que nos explicam.”
O ator Leo Medeiros, de 52 anos, também escolheu o Baixo Augusta para criar um centro de reflexão e produção de novas formas de arte. Carioca com jeitão de paulistano, ele montou um minúsculo teatro, batizado de Teatro da Rotina ( mais informações nesta pág.), com capacidade para 30 pessoas, com companhia própria de atores, oficinas gratuitas e palco para shows.
Para se apresentar ali, a banda precisa preencher pelo menos dois de três critérios exigidos pela curadora Biju Monteiro, do site de arte Embrulhador: ter relevância autoral, cultural e de público. Já passaram por lá nomes conhecidos da música como André Abujamra, Guizado Quarteto e Trio Solaris, mas o objetivo mesmo é abrir espaço para quem está começando.
Na Rua Augusta 1026, o Circus Hair é outro ponto que aposta na cultura e na moda. Construído para ser um moderno salão de beleza, tem bar, espaço para lançamentos de livros, oficinas de circo – há fitas e trapézios pendurados no teto – e sinuca.
Inaugurada há quase dois anos, esta é a terceira e maior unidade da marca. “Atender a maior diversidade possível de público tem tudo a ver com a missão da casa. Por isso, a sede foi aberta aqui”, diz Patrícia Saito, relações-públicas da casa. Ela explica: “Quando você faz um corte em um cliente daqui, rapidamente ele vira moda”.
Novo. O Baixo Augusta é efervescente e o público está sempre atrás de novidades. Ali, há todo tipo de restaurante, de comida coreana à grega, passando pela vegetariana e vegana, como o Pop Vegan Food, aberto em julho. Conhecido pela gastronomia autoral, o restaurante Jequitaia foi ampliado e abriu um bar que funciona de terça a sábado, com drinks da moda. Outra casa nova que faz sucesso com os coquetéis é o Home Bar SP, na Rua Matias Aires, travessa da Augusta que sempre está em festa.
A multiplicação de bares e res- taurantes mais arrumadinhos, porém, não agrada a todos. A produtora Eloise Morhange, de 33 anos, que mora em um apartamento da Praça Roosevelt, não aguenta mais o barulho. “Estou de mau humor. Tem bar que fica aberto até as 7 horas.” Mas não é só isso que contraria Eloise. “Desde que começaram a ser construídos esses transatlânticos terrestres (ela se refere aos prédios novos), um novo público, com cara de Jardins, começou a circular por aqui. Eles não saem dos carros e se incomodam com a pobreza da rua.”
Mais cultura
“São Paulo não é só a cidade do business, tem um grande potencial cultural que precisa ser mais valorizado. A cidade precisa ser menos Borba Gato
(referindo-se à estátua do bandeirante que virou símbolo da cidade) e mais Tarsila do Amaral
(artista modernista).” Alê Youssef
EMPREENDEDOR