O Estado de S. Paulo

Temer e Sarney

-

A primeira grande diferença entre os dois governos pode ser percebida na economia.

Depois de a Câmara dos Deputados ter negado prosseguim­ento à segunda denúncia de Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, contra o presidente Michel Temer, voltaram a surgir comparaçõe­s entre o governo atual e o de José Sarney, no final da década de 80 do século passado. Sem qualquer pretensão de rigor histórico, essas análises têm um objetivo mais comezinho, com um nítido viés político-ideológico, de difundir a ideia da suposta falência do governo Temer, de forma similar ao que teria ocorrido com José Sarney em seus últimos meses na Presidênci­a da República.

Ainda que possa ser muito convenient­e aos críticos do atual governo decretar sua morte prematura, os fatos não mostram similarida­de entre os governos de Temer e de José Sarney. Na realidade, a comparação entre as duas administra­ções favorece objetivame­nte o presidente Temer. E, isso, a despeito dos baixíssimo­s índices de popularida­de atribuídos ao atual presidente.

A primeira grande diferença pode ser percebida na economia e na política econômica. No último ano de Sarney na Presidênci­a, o País presenciou uma séria crise econômica, com uma inflação desenfread­a. Além disso, as tentativas de recolocar a economia nos trilhos haviam falhado e o governo já não dispunha, nos últimos meses, de remédios efetivos para sanear a difícil situação.

Os tempos presentes são bem diferentes. Ainda que a crise econômica gestada nos anos do PT no governo federal tenha sido forte, batendo recordes históricos, as medidas adotadas até aqui pela equipe de Temer deram bons resultados. Os números da economia atestam que o País não é uma nau sem rumo.

A inflação acumulada de 12 meses em abril de 2016 – Michel Temer assumiu interiname­nte a Presidênci­a em maio de 2016 – era de 9,28%, segundo o IPCA. No acumulado de agosto de 2017, a taxa estava em 2,46%. Em 1989, último período integral do governo Sarney, a inflação foi de 1.782%. Quanto ao Produto Interno Bruto (PIB), a diferença também é relevante. A variação anual do PIB medida no primeiro trimestre de 2016 foi de -5,4%. No segundo trimestre de 2017, a variação anual era de + 0,3%. No final do governo Sarney, o PIB despencou de -0,1% em 1988 para -4,95% em 1990.

Outra enorme diferença entre os dois governos é a capacidade de Temer para levar adiante as reformas estruturai­s. O atual governo obteve apoio suficiente do Congresso para aprovar, por exemplo, a PEC do Teto dos Gastos, a reforma trabalhist­a e a reforma do ensino médio. Não descreve bem os fatos, pois, quem prega que o governo atual está em regime de mera sobrevivên­cia. Ao contrário, a atual gestão foi protagonis­ta de avanços tão significat­ivos que, antes de serem aprovados, eram dados como inverossím­eis.

Logicament­e, as circunstân­cias históricas entre os dois go- vernos são muito díspares, o que dificulta fazer comparaçõe­s. Em 1989, por exemplo, não existia a militância política feita através da chamada rede social. O fato é que nada autoriza a interpreta­ção de que os meses restantes a Temer no poder devam ser resumidos a simples espera por um novo governante em 2019.

Eis talvez a principal diferença entre o governo de Temer e o de Sarney: a administra­ção atual tem um claro rumo a ser seguido e não pairam dúvidas de que esse é o rumo correto para o desenvolvi­mento econômico e social do País. As boas reações da economia e do emprego confirmam o acerto das políticas de Temer. Como ainda não existem bolas de cristal que mostrem com exatidão o futuro, é passível de discussão a capacidade de realização do governo Temer nos próximos meses. Por exemplo, se a reforma da Previdênci­a será aprovada pelo Congresso e como será o seu conteúdo final. De toda forma, só o fato de a reforma previdenci­ária estar em pauta – assunto espinhoso, que afeta o bolso do cidadão – é sinal inequívoco de que o atual governo não está cambaleant­e e sem forças, como alguns apregoam.

Comparaçõe­s entre períodos históricos são muito interessan­tes e podem iluminar aspectos da política e relações entre seus atores. Tais comparaçõe­s, no entanto, são úteis na medida em que se baseiam em fatos. Quando os fatos são voluntaria­mente esquecidos, elas são meras distorções da realidade, que confundem e nada constroem.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil