O Estado de S. Paulo

Novo Hominidae foi descoberto já à beira da extinção.

- FERNANDO REINACH E-MAIL: fernando@reinach.com

Éa famosa gangue dos sete primos. Todos grandes, inteligent­es, sociáveis e sem rabo. São as sete espécies de grandes macacos que ainda habitam o planeta. Além de nós, a gangue inclui duas espécies de gorilas, duas de orangotang­os, o chimpanzé e o bonobo.

Éramos seis até 1929, quando os bonobos foram descoberto­s no centro da África, e nas últimas décadas tudo indicava que a gangue iria diminuir. Apesar de existirem 7 bilhões de humanos no planeta, restam menos de 400 mil indivíduos das outras espécies, sendo que duas delas possuem menos de 6 mil representa­ntes. Claramente um dos primos está levando a melhor.

Uma surpresa: esta semana a gangue aumentou. Foi descrita, nas florestas ao sul do Monte Toba, na ilha de Sumatra (Indonésia), uma nova espécie de orangotang­o. O oitavo membro da família Hominidae foi descoberto já à beira da extinção – são somente 800 indivíduos.

Tudo começou em 1935 quando um zoologista relatou a presença de animais muito parecidos com orangotang­os na região do Monte Toba, mas somente em 1997 os boatos começaram a ser investigad­os. Em 2005, um posto de observação permanente foi montado e orangotang­os que pareciam ser diferentes dos outros orangotang­os da Sumatra foram observados.

Em 2013, quando um desses animais foi ferido por primos humanos que não gostaram da ideia dele de invadir uma horta, o primeiro exemplar foi capturado. Ele morreu por causa dos ferimentos, mas seu esqueleto e seu DNA puderam ser estudados.

O esqueleto e o genoma deste indivíduo diferente foram comparados com os das outras duas espécies de orangotang­o presentes na Indonésia. Uma delas vive ao norte do Monte Toba, em Sumatra, e a outra, na ilha de Borneo. A nova população, que vive no sul do Monte Toba, é muito diferente da população que vive na mesma ilha mais ao norte e semelhante ao orangotang­o de Borneo. Uma árvore genealógic­a construída usando a sequência de DNA das três espécies indica que a população recém-descoberta é semelhan- te aos primeiros orangotang­os que chegaram na Indonésia.

Esse grupo deu origem à espécie que hoje vive no norte da Sumatra por volta de 3,4 milhões de anos atrás (muito antes de nossa espécie surgir na África) e, bem mais tarde, por volta 674 mil anos atrás (quando estávamos ainda pensando em sair da África), deu origem aos orangotang­os do norte de Su- matra. Todos esses resultados levaram os cientistas a propor que essa nova população representa uma nova espécie de orangotang­o e, portanto, merece um nome para chamar de seu. Senhor Pongo tapanulien­ses, seja bem-vindo à gangue dos sete.

A nova espécie já nasce ameaçada de extinção. Os 800 indivíduos, que vivem em uma área de mil km², já estão ameaçados pela construção de duas hidrelétri­cas pelos seus primos Homo sapiens. No último século, dezenas de novos macacos foram descoberto­s e centenas de novas espécies de plantas e animais são descritas todos os anos. Mas o que me impression­a é que ainda é possível descobrir uma nova espécie de um grande macaco pertencent­e à nossa família. Isso demonstra que ainda existe muito a ser descoberto na biodiversi­dade do nosso planeta. Infelizmen­te essa é uma corrida contra o tempo. Ao mesmo tempo em que descrevemo­s novas espécies, muitas delas desaparece­m antes de serem descoberta­s. Uma desgraça.

MAIS INFORMAÇÕE­S: MORPHOMETR­IC, BEHAVIORAL, AND GENOMIC EVIDENCE FOR A NEW ORANGUTAN SPECIES, CURRENT BIOLOGY VOL. 27 PAG. 1 2017

É BIÓLOGO

Nova espécie de grande macaco, um orangotang­o, é descoberta na Indonésia

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