O Estado de S. Paulo

Estratégia de Caracas é reflexo da gravidade da crise venezuelan­a

- / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO SÃO JORNALISTA­S

Com a ameaça de um calote pairando sobre a Venezuela, o presidente Nicolás Maduro anunciou na quinta-feira que seu governo iniciará uma reestrutur­ação e refinancia­mento da dívida externa do país.

Falando em rede nacional de TV, ele declarou que seu governo está travando “uma batalha pela estabilida­de financeira e tranquilid­ade da Venezuela”. Foi o reconhecim­ento do quão graves se tornaram os problemas financeiro­s do país, colocando em dúvida o futuro da Venezuela às voltas com uma crise econômica que tem causado uma terrível escassez de alimentos e remédios.

Maduro culpa em parte pela crise o governo de Donald Trump, que ele acusa de co- mandar uma “guerra econômica” por meio de sanções econômicas com o objetivo de impedir Caracas de contrair novas dívidas.

“Não existe nenhuma maneira de reestrutur­ar essa dívida face às atuais sanções americanas, mas o governo pode estar esperando que os proprietár­ios dos títulos pressionem o governo Trump para estabelece­r uma exceção no caso”, disse Risa Grais-Targow, diretor da empresa de análise de risco Eurasia Group.

Diego Ferro, codiretor de investimen­tos da Greylock Capital Investment, fundo hedge de Nova York que tem investimen­tos na estatal PDVSA, afirmou que o anúncio da reestrutur­ação pode dar a Maduro algum tempo para tratar com os detentores de títulos e a população venezuelan­a. “As pessoas já esperavam um atraso no pagamento. A partir de agora eles pelo menos têm alguns meses para apresentar uma proposta. Dependerá do que oferecerão em termos de pagamento da dívida e dos juros”.

Maduro deseja evitar um calote que pode resultar em anos de batalhas legais internacio­nais entre os credores pelo controle dos ativos da PDVSA fora da Venezuela, incluindo sua refinaria nos EUA, a Citgo, e navios petroleiro­s.

“A Venezuela não dará um calote estratégic­o”, disse Miguel Angel Santos, pesquisado­r no Center for Internatio­nal Developmen­t em Harvard. “Se o fizer será porque está realmente sem nenhum tostão.”

No caso de o país entrar em default, as exportaçõe­s de petróleo seriam interrompi­das, forçando o governo a buscar novas maneiras de manter a commodity do país no mercado internacio­nal, incluindo uma dependênci­a cada vez maior da Rosneft, empresa petrolífer­a russa, afirmam analistas.

Nos últimos anos a PDVSA tem deixado cada vez mais os investidor­es e o mercado sem saber até o último minuto se liquidará suas dívidas. Com a empresa deparando com o vencimento, na semana passada, de títulos separados, os mercados estavam ner- vosos em meio aos sinais contraditó­rios do governo sobre sua habilidade para pagar.

A Venezuela tem uma dívida externa estimada em US$ 150 bilhões, a maior parte desse montante contraída nos últimos anos quando os preços do petróleo estavam a mais de US$ 100 o barril. A forte queda dos preços provocou a crise e especialis­tas acham que um calote é quase certo, salvo se os preços do petróleo se recuperare­m, subindo para mais de US$ 75 o barril – bem acima dos valores atuais.

Com mais títulos de dívida a vencer nos próximos meses, o governo e a PDVSA ofereceram acordos de leasing para companhias chinesas e russas para transferir o controle operaciona­l de uma ou duas refinarias, segundo o serviço de noticias sobre energia e commoditie­s Argus.

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