O Estado de S. Paulo

Busca pelo escapismo

Projeto de Ernest Greene, do Washed Out, liderou o movimento chillwave

- Pedro Antunes

“É como se estivesse naquele momento que antecede o sono, entende?”, diz Ernest Greene, o criador e líder do Washed Out, sobre o seu processo de criação. “Nem acordado, nem dormindo. É uma espécie de transe, mesmo.” O mundo se desliga, enquanto o músico se despluga do tempo e do espaço, no quarto da casa onde mora na Geórgia, nos Estados Unidos, para compor.

Produz uma fuga do mundo, do caos, em uma jornada para as profundeza­s do oceano interno que cada um tem dentro de si – os beats, os loopings, os sons sintetizad­os e os vocais vagarosos funcionam como um cinto de lastro, aquele aparato usado por mergulhado­res para evitar boiar até a superfície.

“Gosto do escapismo”, conclui Greene, por fim. É a experiênci­a proposta pelo artista em sua nova vinda ao Brasil, três anos depois da primeira passagem. O Washed Out é a principal atração do Balaclava Fest, festival realizado neste domingo, 5, em São Paulo, promovido em comemoraçã­o ao quinto aniversári­o do selo Balaclava Records.

A programaçã­o, iniciada a partir das 17h10, divide-se em dois palcos montados no Tropical Butantã e inclui, além do Washed Out, Mahmundi, RØKR, Aquaserge (França), Cinnamon Tapes, Rincon Sapiência, Homeshake (Canadá). O encerramen­to da noite fica com Greene, às 21h30.

O chillwave como onda bateu num verão, como era de se esperar. Estávamos em 2009 e artistas como Washed Out, Neon Indian e Toro Y Moi passaram a frequentar as rádios alternativ­as mais descoladas, as playlists das festinhas hype e fones de ouvidos daqueles que queriam descansar no sofá após um exaustivo dia de trabalho. Em comum estava a origem desses projetos: criados por um só músico, na solidão do seu quarto.

Com camadas de dream pop e um tiquinho de poeira lo-fi, o chillwave foi a sensação do indie naquela virada de década. Seus três “capitães” colhem frutos até hoje. O Neon Indian, projeto de Alan Palomo, vem a São Paulo para o igualmente descolado Popload Festival, realizado no dia 15 deste mês, no Memorial da América Latina, com a companhia dos atos de Phoenix, PJ Harvey Daughter e Carne Doce. Já o Toro Y Moi alçou seu criador Chaz Bundick ao posto de figura a ser seguida.

Greene avança também com seu Washed Out. Há quatro meses, colocou no mundo Mister Mellow, o terceiro disco de carreira, que expande as barreiras sonoras. O trabalho é, conceitual­mente, um vídeo-álbum. Cada música foi gestada em conjunto com um clipe nonsense assinado por diferentes artistas – é possível assistir/ou- vir o trabalho na página de YouTube do Washed Out. A viagem promovida, nesse caso, vem facilitada. Não é preciso fechar os olhos e deixar a música carregar o ouvinte. Pode-se permitir que as imagens criadas para Mister Mellow façam esse trabalho.

“Sou muito visual”, justifica Greene sobre a gestação do disco. “Quando crio minhas canções, penso diretament­e em imagens, cores, e tento traduzir essas sensações para a música.” Os vídeos, a arte do disco, e as canções foram criados ao mesmo tempo, de modo que “uma coisa influencio­u a outra”, explica o artista. “Acrescenta­r o vídeo, para mim, é uma forma de ampliar a imersão dentro da proposta do disco”, conta. “Algumas pessoas não gostam da ideia do escapismo pela música, mas não é o meu caso. Eu adoro.”

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MONTAGEM SOBRE FOTO DE ALEXNDRA GAVILLET Green. “Algumas pessoas não gostam da ideia do escapismo pela música. Eu gosto”, diz

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