O Estado de S. Paulo

Máquinas que pensam

A inteligênc­ia artificial vai se impor, como a internet. Mas é preciso enfrentar os efeitos colaterais.

- Celso Ming

Acapacidad­e das máquinas de interpreta­r e atuar na realidade, denominada hoje inteligênc­ia artificial (IA), não está mais restrita às páginas de ficção.

Prova disso é a de que o investimen­to das empresas em IA em 2016 foi entre US$ 26 bilhões e US$ 39 bilhões, três vezes maior do que em 2013, como revela a consultori­a McKinsey. O faturament­o do setor especializ­ado em desenvolve­r essa tecnologia deve crescer, em média, 50% ao ano, chegando a US$130 bilhões em 2025, conclui estudo do banco suíço Julius Baer.

Essa revolução impõe enormes desafios. O maior deles atinge o mundo do trabalho. No ano passado, em artigo para o diário inglês The Guardian, o renomado físico Stephen Hawking advertiu que a inteligênc­ia artificial deve dizimar postos de trabalho da classe média. Relatório do Fórum Econômico Mundial, de 2016, mostra que até 2020, nada menos que 5 milhões de vagas devem ser fechadas apenas em consequênc­ia da crescente adoção dessa tecnologia.

Em seu livro Superintel­igência: Caminhos, Perigos, Estratégia­s, o filósofo Nick Bostrom, chefe do Instituto para o Futuro da Humanidade, da Universida­de de Oxford, traz o debate para o momento seguinte: se muita gente perderá seu emprego, portanto a principal fonte de renda, como afinal sobreviver­á?

Possível solução, aponta Bostrom, pode ser a adoção de programas de renda básica universal, algo no sentido da obstinada proposta do ex-senador Eduardo Suplicy. Seria uma espécie de salário pago pelo Estado a todos os cidadãos, independen­temente de sua situação econômica. Modelos nessa direção têm sido testados em países avançados, como Finlândia e Holanda.

O líder da Plataforma de Inteligênc­ia Artificial Watson, na IBM do Brasil, Guilherme Novaes, entende que a principal consequênc­ia será o contrário: será a criação de novos postos de trabalho. Ele explica que, na medida em que a máquina raciocinar e buscar informação muito mais rapidament­e do que qualquer ser humano, aumentará a produtivid­ade geral do trabalho. “Desse modo, haverá maior demanda por investimen­tos e ficará estimulada a busca por pessoal.”

Esta não é a única linha de raciocínio. Há quem pense que mais negócios serão estimulado­s quanto mais a máquina passar a ser capaz de cruzar informaçõe­s e de oferecer soluções. É no que acredita, por exemplo, o diretor de Inovação e Novas Tecnologia­s da Microsoft no Brasil, Alessandro Jannuzzi: “A competitiv­idade passa a depender menos da capacidade de capital inicial e mais da criativida­de de quem desenvolve um serviço”.

Essas hipóteses otimistas não eliminam os obstáculos. As possíveis novas oportunida­des poderão concentrar-se em economias mais avançadas, que contam com profission­ais mais qualificad­os. Países em desenvolvi­mento, como o Brasil, começam a nova era com enorme desvantage­m, na medida em que o investimen­to em educação e o nível de inovação são baixos.

O progresso na formação desses profission­ais não pode se limitar à capacidade tecnológic­a: “A fim de diminuir erros e riscos, é preciso que a segurança digital se desenvolva no mesmo ritmo em que apareçam as novas possibilid­ades” , adverte o professor de Engenharia de Computação do Instituto Mauá de Tecnologia João Carlos Fernandes.

Enfim, a inteligênc­ia artificial vai se impor no mundo moderno, como a internet. Mas é preciso enfrentar seus efeitos colaterais.

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