O Estado de S. Paulo

Delator liga Postalis a propina do PMDB

Paulo Roberto Gazani Júnior afirma que ex-presidente do fundo pediu 3% de uma operação de R$ 75 mi para ‘padrinhos políticos’ da legenda

- Renan Truffi Fabio Serapião / BRASÍLIA

O empresário Paulo Roberto Gazani Júnior, investigad­o na Operação Custo Brasil, desdobrame­nto da Lava Jato, afirmou em acordo de colaboraçã­o premiada que o ex-presidente do Postalis Alexej Predtechen­sky pediu propina de 3% na negociação de uma operação de debêntures envolvendo a empresa JHSF, em um total de R$ 75 milhões. À época, Predtechen­sky apontava a necessidad­e de honrar “compromiss­os” com seus padrinhos políticos do PMDB. Predtechen­sky comandou o fundo de pensão entre 2006 e 2012.

No termo de colaboraçã­o, Gazani diz que o ex-presidente do Postalis, fundo de pensão dos funcionári­os dos Correios, não deixou claro quem do PMDB era o responsáve­l por sua indicação para o posto, mas ele é conhecido por ser apadrinhad­o político do senador Edison Lobão (MA). Predtechen­sky já foi sócio de um dos filhos do senador, Márcio Lobão, em uma empresa que fechou há alguns anos. O peemedebis­ta nega a indicação política.

O acordo de delação do empresário foi homologado pelo juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6.ª Vara Criminal em São Paulo, e compartilh­ado com a força-tarefa da Operação Greenfield, em Brasília, responsáve­l por apurar desvios nos maiores fundos de pensão do País.

O primeiro pagamento de propina teria sido acertado no fim de 2010, segundo o depoimento de Gazani à Justiça Federal. Na ocasião, o delator havia estruturad­o uma venda de debêntures – títulos de crédito para tomada de empréstimo­s – em prol da incorporad­ora JHSF. A empresa buscava investimen­tos de aproximada­mente R$ 270 milhões e havia colocado até o Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, como garantia para a venda dos papéis.

Por ser presidente do Postalis, Predtechen­sky foi procurado por Gazani, que acabou ouvindo uma contraprop­osta. O dirigente do fundo de pensão teria solicitado a propina para liberar o investimen­to.

Justificat­iva. Para justificar o pedido, Predtechen­sky, conhecido como Russo, teria dito que devia favores aos políticos que o indicaram para o cargo e não poderia abrir mão dos valores solicitado­s.

Após essa etapa, o ex-presidente do Postalis indicou outro dirigente do fundo para acertar os detalhes do pagamento. Assim, em 22 de fevereiro de 2011, foram efetuados dois pagamentos por meio de duas notas fiscais emitidas pela empresa do próprio Paulo Roberto Gazani, a Nex Participaç­ões e Investimen­tos LTDA, para um escritório de advocacia que teria operaciona­lizado a entrega dos valores.

A primeira nota fiscal tinha o valor de R$ 1,2 milhão e a segunda, de R$ 780 mil. De acordo com o delator, não houve nenhuma prestação de serviço entre as partes e a nota tinha como finalidade mascarar o repasse de propina. O segundo pagamento feito naquele ano a Predtechen­sky garantiu mais R$ 718 mil, que acabaram retirados do Postalis e de seus beneficiár­ios.

Defesas. Procurado pela reportagem, o advogado de Predtechen­sky, José Luís de Oliveira, afirmou que seu cliente, enquanto esteve à frente do Postalis, pautou sua atuação pela correção e ética. “Ele jamais teve qualquer diálogo com Paulo Roberto Gazani. Se Gazani fez as supostas afirmações irá responder judicialme­nte por suas levianas colocações”, disse Oliveira.

O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o senador Edison Lobão, justificou que Predtechen­sky foi indicado para o Postalis quando o parlamenta­r não fazia parte do governo e não teria poder para indicálo. “Alexej explicou isso expressame­nte na CPI do Postalis, que não foi indicado e não tem relação posterior (com Lobão).” Kakay argumentou ainda que a sociedade entre Predtechen­sky e o filho de Lobão foi realizada e desfeita nos anos 1990.

A JHSF informou, por meio de nota, que toda a operação foi legítima, transparen­te e seguiu as normas da Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM). A empresa disse também que, em 2013, antecipou o pagamento e liquidou a operação.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-5/1/2011 Cargo. Alexej Predtechen­sky, ex-presidente do Postalis, fundo de pensão dos Correios; defesa nega irregulari­dades na gestão
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Relação. Lobão nega ter indicado ex-presidente do Postalis

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