O Estado de S. Paulo

Valdemar e sua rede de influência em corredores e palácios de Brasília

Ex-deputado circula por principais eixos de poder e mantém ascendênci­a sobre políticos como Temer e Rodrigo Maia

- Isadora Peron / BRASÍLIA Ricardo Galhardo

Cinco anos depois de ter sido condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mensalão, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR) continua dando as cartas em Brasília e circula pelos principais eixos de poder da capital. Nos últimos meses, esteve pelo menos três vezes com o presidente Michel Temer e é um interlocut­or frequente de nomes como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Discreto, Valdemar não voltou à vida pública nem planeja ser candidato em 2018, mas isso não diminui a influência que tem em seu partido, o PR, e no mundo político. Segundo assessores, ele não tem mais cargo de comando na sigla. É um funcionári­o da legenda, com salário pago por meio da conta da contribuiç­ões pessoais – portanto sem dinheiro público do Fundo Partidário – e responsáve­l por cuidar da administra­ção financeira do PR.

Na última semana, o Estado ouviu mais de uma dezena de nomes da política nacional, e todos foram unânimes em afirmar que Valdemar se mantém como uma figura influente. “Tenho uma relação muito boa com o PR e com Valdemar. Ele foi muito importante nas minhas duas eleições à presidênci­a da Câmara”, disse Maia.

Recentemen­te, foi atribuída ao ex-deputado federal a decisão do governo de retirar o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, da lista de privatizaç­ões e de reabrir o Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, para voos de longa distância. Em troca, 26 dos 39 deputados do PR votaram a favor do arquivamen­to da segunda denúncia apresentad­a contra Temer pela Procurador­ia-Geral da República (PGR), por obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa.

Assessores do PR negam que o presidente da Infraero, Antônio Claret, seja afilhado político de Valdemar e que ele tenha algo a ver com os aeroportos. Esses mesmos assessores, no entanto, confirmam que, em pelo menos um dos encontros de Valdemar com Temer, o tema da conversa foi a orientação dos deputados do PR na votação das denúncias. Procurado pela reportagem, o ex-deputado não respondeu.

Desde o PT. A influência do partido de Valdemar no Ministério dos Transporte­s não é de hoje. Vem desde 2002, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito pela primeira vez. O controle da pasta e, consequent­emente do seu orçamento bilionário e de seus braços, como a Infraero, foi uma espécie de prêmio ao partido e a Valdemar, responsáve­l por emplacar José Alencar como vice-presidente de Lula, justamente no momento em que o ex-líder sindical buscava se aproximar do empresaria­do.

Figura central em escândalos de outras temporadas, Valdemar também é personagem de destaque em investigaç­ões recentes. Ele é citado na gravação de mais de quatro horas de uma conversa entre Joesley Batista, dono da JBS, e o executivo Ricardo Saud. “A Odebrecht estava pagando por fora. O Antônio Carlos veio aqui e me contou que estão pagando no exterior e o Valdemar Costa Neto está recebendo no exterior. Não faça isso”, diz Saud.

No rastro da Operação Lava Jato, o ex-deputado está sendo novamente investigad­o por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, desta vez por suposto recebiment­o de propina da Odebrecht, durante a execução das obras da Ferrovia Norte-Sul, em 2008 e 2009.

Cadeia. Do período da cadeia, seus aliados afirmam que ele apenas se ressente de ter sido condenado pelos “crimes errados”. Argumentam que praticou somente delitos eleitorais, o famoso caixa 2.

O ano que passou preso, no entanto, não o tirou da cena política. Foi do Complexo Penitenciá­rio da Papuda que coordenou a eleição do PR em 2014, quando o partido fez a sua maior bancada na Câmara dos Deputados.

Políticos que conhecem Valdemar há muitos anos apontam sua capacidade de adaptação ao ambiente como o segredo para a manutenção da influência em Brasília. No ano passado, por exemplo, o ex-deputado defendia o posicionam­ento do PR contra o impeachmen­t da presidente cassada Dilma Rousseff (PT).

A desenvoltu­ra com que Valdemar hoje se relaciona com o governo Temer mostra que se manter próximo de quem está no poder continua sendo uma das principais caracterís­ticas do ex-deputado.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO-3/7/2014 De dia. Valdemar deixa prisão, em 2014, para trabalhar

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