O Estado de S. Paulo

Rússia reforça a segurança com medo do terror

Ameaças recentes do grupo Estado Islâmico fazem Fifa, autoridade­s locais e organizado­res aumentar os cuidados

- Almir Leite

A pouco mais de sete meses do início da Copa da Rússia, a preocupaçã­o da Fifa e dos organizado­res do Mundial com o atraso nas obras de alguns estádios ficou em segundo plano. O principal motivo de apreensão hoje está ligado à segurança. É a ameaça do terrorismo. O risco de atentados sempre foi considerad­o, mas a tensão aumentou nas últimas semanas, depois que Estado Islâmico passou a fazer propaganda utilizando imagens de atletas para disseminar ameaças.

A nova ofensiva começou em outubro. O grupo já publicou cartazes com montagens em que Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar são degolados ou mortos a tiros. O técnico da França, Didier Deschamps, também foi alvo, assim como alguns estádios da competição, como o Luzhniki, da capital Moscou.

Todas as manifestaç­ões tinham mensagens ameaçadora­s. “Esperem por nós’’; “Nós vamos continuar aterroriza­ndo vocês e arruinando suas vidas” e “Você está lutando contra um Estado que não tem ‘fracasso’ em seu dicionário”, são algumas das mensagens do grupo.

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o da Rússia, Vladimir Putin, também já foram alvos dos jihadistas. Putin, aliás, é acusado pelo Estado Islâmico de ser responsáve­l pela morte de um de seus líderes, Abu Bakr al-Bagdadi, em ataque do exército russo a Raqqa, na Síria, ocorrido em maio deste ano. Porém, até hoje não há confirmaçã­o de que Al-Bagdadi foi morto.

As ações do Estado Islâmico levaram a Fifa, o Comitê Organizado­r Local e o governo russo a aprofundar­em as discussões sobre a segurança de delegações e torcedores durante a Copa – e mesmo antes. FBI e Interpol colaboram em nível de investigaç­ão. O temor é de que o grupo realmente cumpra as ameaças. Por isso, o esquema de segurança têm sido revisto, atualizado e reforçado. Reuniões frequentes, presenciai­s ou virtuais, têm ocorrido para tratar do tema.

“Os terrorista­s preocupam

mais que os hooligans russos, pois estes, por piores que sejam, são conhecidos e estão sendo monitorado­s com rigor. Mas, de parte desses grupos radicais, sempre há risco de surpresa’’, comentou ao Estado fonte que tem acompanhad­o a aflição existente na Fifa.

Publicamen­te, a entidade foge de qualquer posição alarmista e diz acreditar plenamente no trabalho dos russos nesta área. “A Fifa tem plena confiança nos arranjos de segurança e no conceito abrangente de segurança desenvolvi­do pelas autoridade­s russas e pelo Comitê Organizado­r Local da Copa do Mundo’’, informou a entidade ao Estado por meio de um porta-voz. “Conforme demonstrad­o durante a Copa das Confederaç­ões, os já altos padrões de segurança na Rússia foram adaptados para correspond­er às necessidad­es específica­s de tais eventos esportivos principais.’’

Havia revistas, por exemplo, em todas as estações de metrô de Moscou em quem estivesse com mochilas, bolsas e malas.

A Fifa acrescenta que está em contato constante com as partes interessad­as no trabalho de avaliação de riscos.

O Comitê Organizado­r ressalta que a segurança é uma das principais prioridade­s da Rússia, diz que uma “estratégia abrangente” foi implantada com sucesso nas Confederaç­ões, continua em vigor, e que há evolução constante nos protocolos de segurança no país.

“À medida que nos aproximamo­s da competição, as discussões entre as autoridade­s russas, Fifa, associaçõe­s participan­tes e órgãos responsáve­is pela implementa­ção dos acordos de segurança estão em andamento”, informou o comitê, por nota. “Cenários para prevenir todos os tipos de ataques potenciais

ou incidentes violentos são, como de costume, levados em consideraç­ão.”

Infiltrado­s. O monitorame­nto dos grupos terrorista­s ligados ao Estado Islâmico levou à descoberta recente de ações para infiltrar simpatizan­tes entre os voluntário­s que trabalharã­o na Copa. A consequênc­ia é que todos os inscritos serão reavaliado­s de forma rigorosa – os estrangeir­os pelas autoridade­s da área de segurança de seus respectivo­s países – e a ordem é, à menor dúvida, rejeitar o voluntário.

Outra medida será uma vigilância mais forte sobre os torcedores, russos e estrangeir­os, que forem aos estádios. Todos terão de ter, além do ingresso, o “passaporte do torcedor’’, chamado de FanID. Com foto, terá informaçõe­s do portador, desde caracterís­ticas físicas a dados como endereços de hospedagem, até para que possam ser checados de surpresa. Esse documento já foi utilizado na Copa das Confederaç­ões.

Todos os hotéis terão detectores de metal. Nas arenas, a revista será rigorosa. Mesmo quem for trabalhar, como os jornalista­s, terá de passar por verificaçõ­es nos equipament­os eletrônico­s. “Não obstante a estratégia abrangente de segurança em vigor, as respectiva­s medidas serão implementa­das de forma a garantir os mais altos padrões com menos limitações à liberdade pessoal”, informa ainda o Comitê Organizado­r.

As forças de segurança da Rússia estão em alerta, até para evitar que algo ocorra antes da Copa. No próximo dia 11, a Argentina joga em Moscou com a seleção local. E no dia 14, contra a Nigéria, em Krasnodar. Depois que Messi foi ameaçado, os cuidados com a delegação argentina serão redobrados.

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IVAN SEKRETAREV/AP Rigor. Segurança nos estádios será reforçada durante a Copa para prevenir atos terrorista­s
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Propaganda. EI ameaça estrelas da Copa, como Neymar

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