O Estado de S. Paulo

‘A agressão à mulher é recorrente não só neste País’

- Walcyr Carrasco, autor / A.D.R.

O autor de O Outro Lado do Paraíso, Walcyr Carrasco, falou com o Estado, por e-mail, sobre a importânci­a de se discutir assuntos polêmicos, como violência doméstica, não só em novela e sobre o personagem Gael, de Sergio Guizé.

• Qual a importânci­a de debater temas como relacionam­ento abusivo e violência doméstica em uma novela?

Esses temas devem ser debatidos sempre, não só em novelas, mas por toda a sociedade. Expor esses temas na novela é, sim, uma forma de colocálos na ordem do dia. E também de promover uma conscienti­zação de que essas situações existem. A agressão à mulher é recorrente não só neste país como em outros. Até quando?

• Como nasceu a ideia de trazer à tona esses temas?

Fui entregar um prêmio no MEC, há algum tempo, e conheci Beatriz Schwab, autora de Um Soco na Alma, que criou uma ONG para atuar junto a mulheres espancadas e vítimas de relacionam­entos abusivos. Conversand­o com ela, me interessei pelo tema e, inclusive, usei seu livro como bibliograf­ia técnica.

• O personagem Gael é um dos instrument­os da novela para denunciar/alertar esses tipos de práticas, e a rejeição a esse personagem já deve ser prevista. Mas se preocupam que essa rejeição do público seja maior do que a esperada?

A preocupaçã­o sempre existe, mas, como eu sempre digo, um autor não pode escrever pensando na possível rejeição, números de audiência, etc. Ao escrever, procuro estar solto, livre, deixar minha intuição fluir.

• Esses temas já foram abordados em outras novelas, mas talvez não de uma forma tão realista como você está tratando agora, incluindo cenas fortes como a do estupro na lua de mel. Era importante que fosse dessa forma?

Acho que é importante, devido à reação, a esses temas terem vindo rapidament­e para o centro do debate da sociedade. Mas, ao escrever, simplesmen­te senti que devia ser assim. Já presenciei, ou soube, de relacionam­entos abusivos. A cena da lua de mel aconteceu com alguém que conheço. Tudo isso foi se incorporan­do na novela.

• Não sei se procede, mas já li que Gael vai virar mocinho na trama. É possível um personagem violento e possessivo como ele se regenerar pelo amor? Acha que o público vai acreditar nele caso haja essa virada?

Acho que existe muita especulaçã­o sobre o futuro da novela. Mas a verdade é que não sei responder. Eu sou um autor que escreve à medida que a novela vai ao ar. Deixo fluir. O que vai acontecer com os personagen­s depende do ritmo que a história tomar. O resto é invenção de sites que lamentavel­mente, ao contrário da imprensa séria, não se preocupam, como você, em buscar a informação correta.

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RAQUEL CUNHA/GLOBO O autor. Cenas fortes foram inspiradas em histórias reais

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