O divã da sustentabilidade
Nos últimos 10 anos o termo sustentabilidade passou por um ciclo muito peculiar. Segundo levantamento no Google Trends, de 2004 a 2012, a quantidade de buscas com a palavra chave “sustentabilidade” quadruplicou e hoje, 5 anos depois, o número médio de pesquisas com a palavra chave está 60% abaixo do ápice atingido em 2012.
O termo “ecologia”, por exemplo, teve seu pico em 2004 e hoje amarga uma queda da ordem de 90% no número de pesquisas. Estes resultados mostram que entre 2004 e 2012 o termo “sustentabilidade” foi, aos poucos, substituindo o termo “ecologia”, porém desde 2012 ambos os assuntos perderam força nas buscas na internet.
Parte desse fenômeno pode ser creditado ao fato de que as pessoas assimilaram o significado dos termos, e agora não buscam mais conhecimento sobre o assunto.
Intangível. Outra explicação é que o termo “sustentabilidade” ainda é pouco tangível. No Brasil, por exemplo, a grande maioria das soluções é implantada baseada em estudos teóricos, mas são raras as situações nas quais quem projetou verifica depois se tudo está correndo conforme projetado.
Quando o assunto é construção sustentável, nota-se uma queda menos acentuada nas pesquisas, porém constante desde 2008. Hoje, a quantidade é cerca de 40% menor do que há 9 anos. Quando buscamos referências de mídia e o que se fala sobre construção sustentável na rede desde 2008, percebe-se que a queda no interesse é justificável, pois muito se falou e pouco se comprovou na última década.
Tecnologias como lâmpadas de LED, painéis fotovoltaicos, caixas acopladas de duplo fluxo e aproveitamento de água de chuva estão em voga nesse período, porém ainda é muito difícil encontrar artigos técnicos e científicos que demonstrem a efetividade da economia das soluções.
As empresas do setor da construção que investiram pesado em sustentabilidade no final da década passada já estão coletando os frutos do investimento, principalmente num momento de crise. Essas empresas investiram pesado na mensuração de resultados. E esta ação foi decisiva para o melhor controle de custos.
Entretanto, essas empresas são uma minoria e podem ser contadas nos dedos, enquanto uma quantidade enorme aproveitou para “surfar a onda” sem o comprometimento efetivo com os resultados e a mensuração. A consequência desse movimento é o descrédito em relação à viabilidade da sustentabilidade, deixando o mercado consumidor incrédulo, sem conseguir captar o real valor incorporado aos empreendimentos imobiliários.
Imagem. Posso citar o exemplo de incorporadoras que destacam como soluções de sustentabilidade algo que na verdade nada mais é do que cumprir a legislação do município, sem gerar diferencial ambiental, e atrelam a imagem dos empreendimentos a um termo que está na moda.
As certificadoras comemoram números de evolução de empreendimentos certificados, porém a realidade é que existem poucas centenas de edifícios certificados num universo de milhões de edifícios no Brasil. Portanto, é importante que se tenha claro que a certificação é uma das maneiras de se estimular a sustentabilidade, mas que o verdadeiro estímulo vem da percepção de valor agregado e de economia pelo cliente final, que vai além do que se observa hoje no mercado.
A sociedade precisa se mobilizar para que as empresas do setor apresentem resultados tangíveis, e utilizem o termo sustentabilidade com a responsabilidade que merece, com o foco muito bem definido na viabilidade da permanência humana neste planeta em condições mínimas de sobrevivência.
Tanto o setor público quanto o privado precisam romper com modismos e campanhas mirabolantes de marketing, cujo foco é a assinatura de um compromisso de compra e venda, que ao mesmo tempo, avaliza a falta de compromisso com a sustentabilidade verdadeira.