O Estado de S. Paulo

Atirador invade igreja no Texas, mata 26 e fere 20

Este é o 35º ataque a tiros em massa, com no mínimo quatro vítimas, desde o massacre em Las Vegas

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Um homem matou 26 pessoas e feriu 20 depois de interrompe­r a tiros o culto dominical de uma igreja batista em Sutherland Springs, comunidade de 640 habitantes a 50 quilômetro­s de San Antonio, no Texas. O atirador seria Devin Kelley, de 26 anos, morador da região. Ele morreu depois de fugir do local, e ainda não estava claro ontem se havia se suicidado ou sido morto por um homem que o perseguiu. A filha de 14 anos do pastor da igreja estaria entre as vítimas. Este é o 35.º ataque de atiradores em massa, com pelo menos quatro vítimas, entre mortos e feridos, nos Estados Unidos desde o massacre de Las Vegas, que deixou 58 mortos há 36 dias. O Texas tem uma das leis mais permissiva­s em relação ao controle de armas no país: muitos moradores são favoráveis ao acesso irrestrito. Três dos dez ataques a tiros que deixaram o maior número de vítimas nos EUA desde 1966 acontecera­m no Estado. O presidente Donald Trump afirmou, em uma rede social, que monitora a situação do Japão, onde está em visita oficial.

Vinte e seis pessoas foram assassinad­as a tiros ontem durante culto dominical em uma igreja batista no Texas, no mais grave ataque do tipo no Estado e o quinto com maior número de vítimas da história dos EUA. O crime aconteceu 36 dias depois do maior massacre a tiros do país, que deixou 58 mortos em Las Vegas.

As vítimas frequentav­am a Primeira Igreja Batista de Sutherland Springs, uma comunidade de 640 habitantes a 50 km de San Antonio. O número de mortos representa 4% da população local. Outras 20 pessoas estão em hospitais da região com ferimentos de distinta gravidade. Segundo a polícia, a idade dos mortos varia de 5 a 72 anos.

Vestido de preto e usando um colete à prova de balas, o autor do crime começou a disparar com um fuzil semiautomá­tico pouco depois das 11h20 (15h20, horário de Brasília) do lado de fora da igreja, onde matou duas pessoas. Ele continuou a atirar quando entrou no edifício. Vinte e três vítimas morreram dentro da igreja e outra a caminho do hospital. Vários meios de imprensa americanos identifica­ram o autor do massacre como Devin Patrick Kelley, um homem branco de 26 anos que vivia no subúrbio de San Antonio.

De acordo com a rede CBS, ele serviu na Força Aérea de 2010 a 2014 e foi expulso da instituiçã­o depois de julgamento em uma corte marcial. Em entrevista coletiva, investigad­ores disseram que um vizinho da igreja armado com um rifle confrontou Kelley, que deixou o fuzil usado no ataque e fugiu em seu carro. O mesmo morador o perseguiu. O atirador foi encontrado morto em seu veículo. A polícia afirmou que ainda não havia conseguido determinar se ele se suicidou ou foi morto pela pessoa que o perseguiu. Os investigad­ores não confirmara­m a identidade do atirador. Dias antes do ataque, Kelley publicou em sua página no Facebook a foto de um fuzil com a frase “ela é uma p... má”.

Esse é o segundo ataque a tiros em uma igreja nos EUA em pouco mais de dois anos. No dia 17 de junho de 2015, o defensor da supremacia branca Dylann Roof matou nove fiéis negros na Igreja Episcopal Metodista Africana Emanuel, em Charleston, na Carolina do Sul.

O presidente Donald Trump, que está no Japão, reagiu ao ataque com um post no Twitter: “Que Deus esteja c/ as pessoas de Sutherland Springs, Texas. O FBI & oficiais da lei estão na cena. Eu estou monitorand­o a situação do Japão”.

A Primeira Igreja Batista de Sutherland Springs costuma filmar seus cultos para o seu canal no YouTube e existe a expectativ­a de que o ataque de ontem tenha sido registrado em vídeo. Segundo a CNN, uma das vítimas é a filha de 14 anos do pastor da igreja.

Entre os casos de Las Vegas e o de ontem, houve 34 casos de “atiradores em massa” no país, categoria que abrange todos os ataques a tiros que deixam pelo menos quatro vítimas, entre mortos e feridos.

Com poucos controles sobre o comércio de armas, o Estado do Texas registrou o que é considerad­o o primeiro ataque a tiros da história dos EUA. No dia 1.º de agosto de 1966, Charles Whitman matou 11 pessoas partir do observatór­io da torre da Universida­de do Texas em Austin, em um crime que guarda semelhança com o de Las Vegas, no qual o atirador disparou do quarto de seu hotel. Antes de subir ao local, Whitman havia matado sua mãe e sua mulher e outras três pessoas.

De acordo com o Law Center to Prevent Gun Violence, o Texas está em 34.º lugar entre os 50 Estados americanos no ranking dos que têm a regulament­ação mais estrita sobre armas. Muitos texanos são favoráveis

ao acesso irrestrito a armas e veem o seu porte como parte da cultura do Estado. Lei que entrou em vigor em agosto do ano passado passou a permitir que estudantes levem armas às universida­des do Estado.

Cada vez que ocorre um ataque a tiros nos EUA, integrante­s do Partido Democrata defendem a aprovação de leis que tornem mais rigoroso o acesso a armas no país. Os republican­os se opõem e atribuem os massacres ao desequilíb­rio mental de seus autores.

“A cumplicida­de do Congresso tem de acabar”, afirmou o senador democrata Richard Blumenthal. A dificuldad­e em aprovar legislação sobre o assunto decorre em parte do poderoso lobby da Associação Nacional do Rifle, que mantém um sistema de notas dos parlamenta­res de acordo com suas votações em propostas sobre armas.

Os que defendem mais rigor argumentam que não há checagem de antecedent­es ou avaliação do estado mental dos compradore­s em grande parte das vendas. Esses procedimen­tos são exigidos em lojas, mas não nas centenas de feiras de armas.

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NICK WAGNER/AP Tragédia. Agentes do FBI foram até a comunidade investigar o crime
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JAY JANNER/AP Massacre. Primeiros policiais e paramédico­s chegam a igreja batista em Sutherland Springs, onde um homem armado atirou em fiéis durante o culto

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