Tema do Enem surpreende
No primeiro dia do exame, os 4,3 milhões de participantes tiveram de escrever texto sobre desafios na formação educacional de surdos
A primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizada ontem em todo o País, teve a participação de 4,3 milhões de estudantes, com 30,2% de abstenção. Após a decisão polêmica do Supremo Tribunal Federal (STF) de impedir que candidatos que desrespeitassem os direitos humanos tivessem a redação zerada, o tema “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil” causou surpresa.
Após ter sido alvo de polêmica na Justiça, a Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve ontem como tema os desafios para a formação de surdos no Brasil. A proposta, que segue a tendência da prova de fazer discussões sociais, surpreendeu os participantes e foi considerada desafiadora por especialistas (mais informações nesta página). A segunda etapa, com questões de Matemática e Ciências da Natureza, será no próximo domingo, dia 12. A prova, usada como processo seletivo em boa parte das instituições públicas e privadas do País, foi feita por 4,3 milhões de candidatos.
“Não esperava esse tema. Não passou nem perto do que imaginei. Pensei que seria alguma coisa ligada à diversidade sexual”, afirmou Brenda Gabriela Noronha, de 17 anos, que fez a prova em Belo Horizonte.
Pedro Henrique Gonzaga, de 18 anos, também se surpreendeu. “Mas acho que deu certo. Falei sobre o fato de as empresas preferirem o lucro a investir na capacitação de pessoas que enfrentam esse problema”, disse o candidato, também de BH.
Em São Paulo, o aluno do terceiro ano do ensino médio Erik Enzo Okuhama, de 17 anos, apostava em um tema mais polêmico ou atual. “Acabei focando em educação de uma forma mais ampla. Como estudo na rede pública, sei que as escolas têm defasagem, daí falei que ela é ainda maior para pessoas que têm alguma deficiência.”
A dificuldade fez até alguns desistirem. “Já não estava muito afim e, quando veio esse tema difícil, optei por não fazer”, contou Jorge Alan, de 19 anos, em Fortaleza.
Entre os 4,3 milhões de candidatos do Enem, 3 mil são surdos ou deficientes auditivos. Na educação básica, com cerca de 48,8 milhões de estudantes no Brasil, há mais de 971 mil alunos de educação especial. O Plano Nacional de Educação prevê que, até 2024, deve ser universalizado o acesso ao ensino básico de todos, entre 4 e 17 anos, com deficiência, transtornos de desenvolvimento e altas habilidades.
Além da Redação, os candidatos testaram os conhecimentos em Linguagens e Ciências Humanas. Alunos avaliaram que, como em outros anos, os enunciados das questões foram extensos, o que tornou a prova trabalhosa. Com a intenção de cursar Medicina, Rachel Almeida, de 20 anos, disse que o problema maior foi em História. “Tinha muito conteúdo envolvendo direitos humanos, leis trabalhistas, mas não achei difícil”, disse ela, que também fez a prova em São Paulo.
Polêmica. Ao longo da semana houve polêmica sobre as regras válidas para a prova de Redação. A Associação Escola sem Partido conseguiu, há dez dias, liminar na Justiça que proíbe o Ministério da Educação (MEC) de zerar a Redação do aluno que desrespeitar os direitos humanos. O Supremo Tribunal Federal manteve a decisão anteontem.
O ministro da Educação, Mendonça Filho, esclareceu ontem que um eventual recurso não terá efeito retroativo – vale a decisão que impede o zero por violar os direitos humanos. Ele lembrou, porém, que norma no edital prevê descontos de até 20% da nota neste tipo de caso. “Está mantida a possibilidade de julgar dando valor e mérito para essa questão”, disse Maria Inês Fini, presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), que realiza a prova.