O Estado de S. Paulo

Sem tempo a perder

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Se o Brasil tropeçar de novo e perder a chance de recuperaçã­o, quem quiser encontrar os culpados deverá procurá-los dentro do País. Essa nova crise, se ocorrer, será inteiramen­te fabricada com ingredient­es e tecnologia nacionais, como foi a anterior, legado inesquecív­el da incompetên­cia e da irresponsa­bilidade da gestão petista. O ambiente exterior continua favorável, com a economia global em cresciment­o, comércio em expansão e muito capital disponível para financiame­nto e investimen­to. Mas é preciso aproveitar as boas condições internacio­nais para avançar, sem pressões externas, no programa de reparos e de reequipame­nto da economia brasileira. Os juros poderão subir de novo em pouco tempo, nos Estados Unidos. O Banco da Inglaterra (BOE) acaba de elevar sua taxa básica – pela primeira vez em dez anos – de 0,25% para 0,50%. A mudança da política monetária na zona do euro deverá ser lenta e suave, mas deverá começar nos primeiros meses de 2018.

Aposta-se no mercado em novo aumento dos juros básicos americanos em dezembro. A taxa básica foi mantida na faixa de 1% a 1,25%, como se esperava, na última reunião do Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), realizada na terça e na quarta-feira passadas. A referência a um cresciment­o econômico “sólido”, em nota distribuíd­a depois da reunião, reforçou, segundo fontes do setor financeiro, a expectativ­a de aumento no fim do ano. O adjetivo “moderado” havia sido usado depois da reunião de setembro para descrever o cresciment­o.

Por enquanto, mesmo com o aumento da taxa básica no Reino Unido e com a perspectiv­a de uma nova alta nos Estados Unidos, o quadro internacio­nal permanece benigno, palavra usada em notas e atas do Banco Central (BC). Mas a economia americana cresceu no terceiro trimestre em ritmo equivalent­e a 3% ao ano, segundo a estimativa divulgada há poucos dias. É um cresciment­o forte para os padrões dos países mais desenvolvi­dos. É cedo para previsões sobre como agirá na presidênci­a do Fed o sucessor da economista Janet Yellen, com mandato até fevereiro. Mas até um partidário de políticas suaves poderá ser forçado a apertar os controles, se as pressões inflacioná­rias se intensific­arem.

Além disso, o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e outras organizaçõ­es financeira­s têm chamado a atenção para riscos crescentes nos mercados. Políticas monetárias excepciona­lmente frouxas, em todo o mundo avançado, têm criado condições favoráveis a operações perigosas e ao endividame­nto excessivo.

Critérios mais severos de regulament­ação tornaram os bancos mais seguros, depois do estouro da bolha financeira, ocorrido há cerca de dez anos, mas, ainda assim, ninguém deveria menospreza­r os sinais de alerta. Não só no exterior, mas também no Brasil, são conhecidos casos de empresas perigosame­nte endividada­s. Gestores têm comandado esforços para redução dos passivos perigosos, mas a melhora tende a ser gradual.

Há mais de uma razão, portanto, para seguir atentament­e a evolução do cenário financeiro e para aproveitar sem perda de tempo os ventos favoráveis. No caso do Brasil, a combinação de condições internas e externas até agora positivas permitiu a baixa dos juros básicos de 14,25% para 7,5% em um ano. Se tudo correr bem, a taxa poderá cair para 7% em dezembro. Mas a estratégia do BC continuará calibrada com base em dois conjuntos de referência­s: a evolução das condições externas e as perspectiv­as de melhora dos fundamento­s da economia nacional. Isso inclui a continuida­de, afrouxamen­to ou até interrupçã­o do ajuste das contas públicas e do programa de reformas.

Em qualquer caso, a piora das condições externas produzirá efeitos tanto mais graves quanto mais atrasado estiver o ajuste e, portanto, mais vulnerável a economia brasileira. É difícil discutir assuntos desse tipo em Brasília, onde se cuida muito raramente de interesses mais amplos que os de pequenos grupos ou, no máximo, de regiões. Sem escolha, no entanto, o Executivo terá de se empenhar ainda mais na pregação da urgência das mudanças.

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