Prisão de bilionário dá mais poder a príncipe herdeiro.
SÃO JORNALISTAS
Com a prisão do príncipe Alwaleed bin Talal, a Arábia Saudita ataca um dos mais ricos e influentes investidores do mundo. Entre as joias da coroa do príncipe estão participações importantes no Twitter, Lyft e Citigroup, figurando ao lado dos maiores magnatas do mundo corporativo, incluindo Bill Gates, Rupert Murdoch e Michael Bloomberg.
Seus investimentos têm alcance global, incluindo o Four Seasons Hotel George V, em Paris, o Savoy em Londres e o Plaza em Nova York. Alwaleed também tem participações na cadeia de hotéis Accor e em Canary Wharf, um complexo de edifícios comerciais e financeiros em Londres. Seus investimentos são tão amplos que as pessoas se referem a ele como o Warren Buffett do Oriente Médio.
A prisão do príncipe Alwaleed deverá repercutir sobre dezenas de companhias em todo o mundo ligadas à empresa de investimentos fundada por ele, a Kingdom Holding Company, da qual é o maior investidor. Sua detenção se insere numa decisão avassaladora e sem precedentes que atingiu 11 príncipes, quatro ministros e dezenas de ex-ministros, horas depois de o rei Salman, decretar a criação de uma poderosa comissão de combate à corrupção comandada pelo seu filho predileto e principal conselheiro, o príncipe Mohammed Bin Salman. As ordens de prisão constituem a mais recente medida adotada pelo príncipe da Coroa para levar a cabo seus ambiciosos planos de modernização do país e consolidar ainda mais o poder já extraordinário que possui, aos 32 anos, sobre as decisões políticas sejam militares, econômicas, sociais ou externas adotadas pela Arábia Saudita. Sua ascensão e a sua abordagem impetuosa têm irritado alguns membros da família real.
O príncipe Alwaleed, com seu bigode estilo Omar Sharif, o onipresente óculos escuros e uma queda por publicidade, é considerado uma figura relativamente extravagante pela família real e um dos sauditas mais em evidência internacionalmente. Ao que parece, sua prisão teria como finalidade demonstrar que ninguém está fora do alcance da comissão anticorrupção que foi formada e do príncipe da Coroa.
Por outro lado, o príncipe conhecido como MBS vem desenvolvendo uma relação muito estreita com o presidente Donald Trump, que compartilha com os sauditas o mesmo enfoque agressivo com relação ao Irã e tem propensão a tomar decisões audaciosas.
O príncipe Alwaleed teve um bate-boca com Trump pelo Twitter durante a eleição presidencial nos Estados Unidos, referindo-se a ele como “uma desgraça não só para o Partido Republicano, mas para toda a América”. Trump revidou, também pelo Twitter, dizendo que ele era um “príncipe tonto”, tentando “controlar nossos políticos com o dinheiro do papai”.
A prisão também pode abalar a confiança dos investidores na Arábia Saudita num momento em que o reino tenta mudar sua imagem de Estado dependente do petróleo. E ocorre dias depois de a Arábia Saudita ter hospedado uma importante conferência para fomentar o interesse dos investidores. O príncipe Alwaleed muito cedo apostou em algumas das grandes empresas de tecnologia do mundo, incluindo a Snap, ajudando a fomentar um boom no setor que impulsionou muitos jovens empreendedores que enriqueceram e lhe proporcionou retornos generosos. O príncipe também apostou na varejista online chinesa JD.com, prevendo a emergência do país como um enorme mercado no campo do comércio eletrônico.
Alwaleed também trabalha com alguns dos maiores e mais conhecidos bancos e investidores de Wall Street. Há um mês Lloyd G. Blankfein, chairman e diretor executivo do Goldman Sachs, sentou-se ao seu lado num encontro em Riad. Os dois conversaram sobre investimentos e desenvolvimentos econômicos no Oriente Médio. Há muito tempo operando como instituição bancária da Kingdom Holding, o Goldman Sachs recentemente ajudou a empresa a adquirir uma participação de 16% no Banque Saudi Fransi, instituição saudita.
Quando viajou para Nova York em 2016, o príncipe Alaweed reuniu-se com Blankfein e Bloomberg. Após o encontro, Bloomberg concordou em apoiar o canal de notícias em árabe, o Alarab News Channel, empreendimento que o príncipe controla individualmente.