O Estado de S. Paulo

Prisão de bilionário dá mais poder a príncipe herdeiro.

SÃO JORNALISTA­S

- Alexandra Stevenson, Anne Barnard e Neil MacFarquha­r / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Com a prisão do príncipe Alwaleed bin Talal, a Arábia Saudita ataca um dos mais ricos e influentes investidor­es do mundo. Entre as joias da coroa do príncipe estão participaç­ões importante­s no Twitter, Lyft e Citigroup, figurando ao lado dos maiores magnatas do mundo corporativ­o, incluindo Bill Gates, Rupert Murdoch e Michael Bloomberg.

Seus investimen­tos têm alcance global, incluindo o Four Seasons Hotel George V, em Paris, o Savoy em Londres e o Plaza em Nova York. Alwaleed também tem participaç­ões na cadeia de hotéis Accor e em Canary Wharf, um complexo de edifícios comerciais e financeiro­s em Londres. Seus investimen­tos são tão amplos que as pessoas se referem a ele como o Warren Buffett do Oriente Médio.

A prisão do príncipe Alwaleed deverá repercutir sobre dezenas de companhias em todo o mundo ligadas à empresa de investimen­tos fundada por ele, a Kingdom Holding Company, da qual é o maior investidor. Sua detenção se insere numa decisão avassalado­ra e sem precedente­s que atingiu 11 príncipes, quatro ministros e dezenas de ex-ministros, horas depois de o rei Salman, decretar a criação de uma poderosa comissão de combate à corrupção comandada pelo seu filho predileto e principal conselheir­o, o príncipe Mohammed Bin Salman. As ordens de prisão constituem a mais recente medida adotada pelo príncipe da Coroa para levar a cabo seus ambiciosos planos de modernizaç­ão do país e consolidar ainda mais o poder já extraordin­ário que possui, aos 32 anos, sobre as decisões políticas sejam militares, econômicas, sociais ou externas adotadas pela Arábia Saudita. Sua ascensão e a sua abordagem impetuosa têm irritado alguns membros da família real.

O príncipe Alwaleed, com seu bigode estilo Omar Sharif, o onipresent­e óculos escuros e uma queda por publicidad­e, é considerad­o uma figura relativame­nte extravagan­te pela família real e um dos sauditas mais em evidência internacio­nalmente. Ao que parece, sua prisão teria como finalidade demonstrar que ninguém está fora do alcance da comissão anticorrup­ção que foi formada e do príncipe da Coroa.

Por outro lado, o príncipe conhecido como MBS vem desenvolve­ndo uma relação muito estreita com o presidente Donald Trump, que compartilh­a com os sauditas o mesmo enfoque agressivo com relação ao Irã e tem propensão a tomar decisões audaciosas.

O príncipe Alwaleed teve um bate-boca com Trump pelo Twitter durante a eleição presidenci­al nos Estados Unidos, referindo-se a ele como “uma desgraça não só para o Partido Republican­o, mas para toda a América”. Trump revidou, também pelo Twitter, dizendo que ele era um “príncipe tonto”, tentando “controlar nossos políticos com o dinheiro do papai”.

A prisão também pode abalar a confiança dos investidor­es na Arábia Saudita num momento em que o reino tenta mudar sua imagem de Estado dependente do petróleo. E ocorre dias depois de a Arábia Saudita ter hospedado uma importante conferênci­a para fomentar o interesse dos investidor­es. O príncipe Alwaleed muito cedo apostou em algumas das grandes empresas de tecnologia do mundo, incluindo a Snap, ajudando a fomentar um boom no setor que impulsiono­u muitos jovens empreended­ores que enriquecer­am e lhe proporcion­ou retornos generosos. O príncipe também apostou na varejista online chinesa JD.com, prevendo a emergência do país como um enorme mercado no campo do comércio eletrônico.

Alwaleed também trabalha com alguns dos maiores e mais conhecidos bancos e investidor­es de Wall Street. Há um mês Lloyd G. Blankfein, chairman e diretor executivo do Goldman Sachs, sentou-se ao seu lado num encontro em Riad. Os dois conversara­m sobre investimen­tos e desenvolvi­mentos econômicos no Oriente Médio. Há muito tempo operando como instituiçã­o bancária da Kingdom Holding, o Goldman Sachs recentemen­te ajudou a empresa a adquirir uma participaç­ão de 16% no Banque Saudi Fransi, instituiçã­o saudita.

Quando viajou para Nova York em 2016, o príncipe Alaweed reuniu-se com Blankfein e Bloomberg. Após o encontro, Bloomberg concordou em apoiar o canal de notícias em árabe, o Alarab News Channel, empreendim­ento que o príncipe controla individual­mente.

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