O Estado de S. Paulo

Exame foi ‘denso’ e ‘desafiador’, avaliam professore­s

- / LORENA LARA E THAÍS FERRAZ, ESPECIAIS PARA O ESTADO

O tema da Redação foi considerad­o atípico e pouco trabalhado ao longo do ano, mas desafiador, segundo professore­s ouvidos pelo Estado.

“É um tema muito específico”, diz a coordenado­ra de Redação do curso Poliedro, Gabriela Carvalho. “Não é um tema do cotidiano. Não sabemos como a pessoa surda se sente, não sabemos como é o processo de exclusão pelo qual ela passa”, diz. Para ela, a coletânea de textos que acompanhou a proposta da Redação deixou a desejar. “Estava muito pobre, com poucas informaçõe­s.”

O professor de Português André Valente, do Cursinho da Poli, destaca que a escolha dos organizado­res segue uma tendência de discutir temas relacionad­os a minorias. “É um tema que veio mostrar que não dá para tratar direitos humanos como algo ideológico no sentido partidário da palavra”, diz Valente. “O Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educaciona­is, órgão organizado­r do exame) aponta, mais uma vez, que o jovem que presta o vestibular precisa discutir esses temas.”

O desafio, dizem os especialis­tas, é que o candidato deveria apontar uma proposta de intervençã­o objetiva, que não fugisse do tema proposto. “Pode contar pontos sugerir uma iniciativa de cotas e a ampliação do sistema de libras nas universida­des. O aluno também pode reforçar a necessidad­e do poder público atuar mais efetivamen­te e da sociedade cobrar mudanças”, diz a professora Maria Aparecida Custódio, do Laboratóri­o de Redação do Objetivo.

Outras provas. Para professore­s, o primeiro dia do Enem foi considerad­o mais denso do que em outros anos e com pouco tempo para resolver as questões. “A prova subiu de nível, ficou mais densa. Os temas foram diversific­ados, mas continuam atuais. Quem bobeou no tempo não conseguiu fazer a prova toda. Foi exigida uma concentraç­ão muito grande”, disse o diretor de ensino do Anglo, Paulo Moraes.

As citações próximas do mundo dos jovens também chamaram a atenção. “A prova transita por registros que os alunos conhecem. A música do Racionais (grupo paulista de rap) é um registro mais próximo deles do que um poema do Paulo Leminski, que também está na prova. O exame é todo contemporâ­nea, até pelos registros que utiliza, como propaganda e cartazes”, destaca o coordenado­r pedagógico da Oficina do Estudante, Célio Tasinafo. Além de Racionais, a prova citou o compositor Chico Buarque e medidas da boneca Barbie e trouxe texto do ator Gregório Duvivier.

Os professore­s elogiaram ainda o novo formato da prova, dividida em dois domingos. A mudança foi feita pelo Ministério da Educação (MEC) após consulta pública sobre o tema. “Permite que o aluno descanse e revise parte do conteúdo”, diz o coordenado­r do curso Poliedro Vinicius Haidar.

Dificuldad­e •

“As questões de Português foram mais longas (do que de costume), e isso é um problema. O candidato tem de ler de novo, pois não capta tudo de uma vez. De um modo geral, as questões foram interpreta­tivas, baseadas nos textos, e a literatura foi utilizada como pano de fundo.” Giusepp Nobilioni

COORDENADO­R-GERAL DO OBJETIVO

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