O Estado de S. Paulo

Julgamento de Marin tem início em Nova York

Ex-presidente da CBF é acusado de recebiment­o de propina; sentença pode demorar até 8 semanas, estimam advogados

- Raphael Ramos

Ex-presidente da CBF, José Maria Marin senta hoje no banco dos réus do Tribunal do Brooklyn, em Nova York. O julgamento começa dois anos e meio depois de ele ter sido preso na Suíça. Marin é acusado de receber propinas em negociaçõe­s de direitos de TV em edições da Copa América e ainda suborno em contratos da Copa do Brasil.

Marin diz ser inocente. Entre os 42 dirigentes ligados à Fifa acusados de fazer parte de um grande esquema de corrupção que teria movimentad­o US$ 200 milhões (R$ 662,7 milhôes) em vários países, somente o brasileiro, Manuel Burga (ex-presidente da Federação Peruana de Futebol) e o paraguaio Juan Ángel Napout (expresiden­te da Conmebol) ainda não se declararam culpados.

Entre as acusações contra Marin está uma viagem feita pelo cartola em abril de 2014 a Miami, nos EUA, para participar de uma conferênci­a de imprensa. Ele teria aproveitad­o para se reunir com J. Hawilla, dono da Traffic, para acertar pagamentos das propinas. Marin, o expresiden­te da CBF Ricardo Teixeira e o atual comandante da entidade, Marco Polo Del Nero, teriam divididos R$ 2 milhões por ano de suborno da Traffic, que tinha os direitos de TV.

Nas últimas semanas, o Tribunal do Brooklyn anunciou duas sentenças contra dirigentes esportivos que servem de alerta para Marin. Ex-secretário-geral da Federação da Guatemala, Hector Trujillo foi condenado a oito meses de prisão e a pagar multa de US$ 415 mil (R$ 1,3 milhão). Já o ex-secretário-geral da Associação das Ilhas Cayman e ex-assessor da presidênci­a da Concacaf, Costa Takkas, foi condenado a 15 meses de prisão. Terá de devolver US$ 3 milhões (R$ 9,9 milhões) à federação, juntamente com Jeffrey Webb, ex-vice da Fifa e ex-presidente da Concacaf.

Marin foi detido dia 27 de maio de 2015, em Zurique. Depois de cinco meses, foi extraditad­o aos EUA, onde, desde então, cumpre prisão domiciliar em seu apartament­o na 5.ª Avenida, no arranha-céu Trump Tower, numa das regiões mais valorizada­s de Nova York.

A defesa de Marin passou os últimos dois anos tentando, em vão, enfraquece­r a acusação. O dirigente pediu, por exemplo, à Justiça norte-americana a anulação da acusação de participaç­ão de “grupo conspirató­rio”, o equivalent­e à formação de quadrilha no Brasil, o que agravaria sua pena, e teve o recurso indeferido. Mais recentemen­te, Marin reclamou de gravações usadas como provas contra ele.

Também questionou o anúncio de Stefan Szymanski, professor da Universida­de de Michigan, como testemunha de acusação. Ex-presidente da Associação Europeia de Assuntos Econômicos do Esporte, Szymanski foi escolhido para falar sobre os efeitos da corrupção no futebol. Ele está impedido de conceder entrevista­s e ter contato com pessoas interessad­as no caso. “Não posso falar porque sou uma testemunha pericial do governo. Só posso falar depois que o julgamento acabar’’, informou Szymanski em breve contato com o Estado.

Por enquanto, a única vitória de Marin foi ter conseguido autorizaçã­o da Justiça para sair até sete vezes por semana do seu apartament­o. Às segundas, quartas e sextas-feiras, ele vai à academia de ginástica do prédio para fazer exercícios físicos. Às terças, quintas, sábados e domingos, pode fazer compras, caminhar e ir à missa, desde que permaneça dentro de um raio de até duas milhas (o equivalent­e a 3,2 quilômetro­s) de seu apartament­o e esteja acompanhad­o de um segurança. Todo o monitorame­nto eletrônico é feito por meio de tornozelei­ra e ele paga os custos de sua vigilância.

O ex-presidente CBF, de 85 anos, tem o hábito de ir a uma livraria perto do Central Park. Ele não fala inglês, mas tem compreensã­o geral do que lê. Ainda costuma ir a restaurant­es nos arredores da 5.ª Avenida.

Defesa. A linha de defesa do dirigente será dizer ao júri que ele presidiu a CBF por três anos (de março 2012 a abril de 2015), enquanto que a denúncia feita pelo Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos afirma que o esquema de corrupção durou mais de duas décadas, a partir de 1991. O brasileiro negará que confederaç­ões de vários países formavam uma organizaçã­o criminosa. O seu argumento é que as entidades eram independen­tes e promoviam seus próprios torneios. A única competição organizada por mais de uma confederaç­ão foi a Copa América Centenário, realizada em 2016 nos EUA por Conmebol (América do Sul) e Concacaf (Américas Central e do Norte).

A defesa estima que o julgamento dure entre seis e oito semanas até que a Justiça anuncie sua decisão. Assim, o caso pode terminar no fim de dezembro ou se arrastar até 2018.

 ?? LUCAS JACKSON/REUTERS-13/4/2016 ?? Réu. José Maria Marin, ao centro, será julgado na Corte Federal do Brooklyn, em NY
LUCAS JACKSON/REUTERS-13/4/2016 Réu. José Maria Marin, ao centro, será julgado na Corte Federal do Brooklyn, em NY

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