O Estado de S. Paulo

Programa de concessões

Nova regra vai permitir que contrato seja renegociad­o se variação cambial elevar dívida

- André Borges / BRASÍLIA Facebook. Curta a página da Economia facebook.com/economiaes­tadao

Seguro cambial será ‘arma’ para atrair investidor

As novas concessões de rodovias, sejam trechos novos ou retomados pelo governo para serem relicitado­s, vão incluir um mecanismo de proteção cambial para o investidor. Com a medida, o governo quer atrair mais operadores e financiame­nto estrangeir­os para essas concessões, as quais deixaram de contar com as grandes empreiteir­as entre seus investidor­es e com o apoio do BNDES como maior financiado­r.

A proposta de proteção cambial, que será divulgada em dezembro, prevê que haja um mecanismo de reajuste do contrato a cada dois ou cinco anos. Será analisado qual foi o impacto cambial que o empreended­or possa ter sofrido no período, por conta da oscilação do dólar em relação ao real.

Se essa oscilação ficar dentro de uma margem de 5%, ou seja, se o financiame­nto externo que o investidor tomou não crescer mais do que 5% no período, tudo permanece como está. Se a sua dívida em dólar, no entanto, subir mais que 5% no período, o contrato de concessão passará por um processo de reequilíbr­io financeiro, por meio de aumento da tarifa de pedágio cobrada do usuário da rodovia.

Segundo José Carlos Medaglia Filho, diretor-presidente da Empresa de Planejamen­to e Logística (EPL), estatal ligada ao Ministério dos Transporte­s, o impacto tarifário, quando ocorrer, será pequeno e garantirá a sustentaçã­o das operações. “Os novos editais vão deixar mais clara qual é a matriz de risco de cada concessão. As condições de execução das obras também serão mais adequadas, por meio de gatilhos de investimen­tos conforme o aumento de demanda da rodovia.”

Mecanismos de proteção cambial em rodovias começaram a ser aplicados este ano pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). Segundo Medaglia, o recurso tem dado resultado.

A proposta é bem recebida pelas concession­árias do setor, mas não é vista como suficiente. “Essa proteção cambial pode ajudar, mas não resolve. O governo precisa ser mais aberto e ouvir as empresas. Hoje ele está fechado. A modelagem econômica ainda não foi discutida com o setor”, diz César Borges, presidente executivo da Associação Brasileira de Concession­árias de Rodovias (ABCR).

Indenizaçõ­es. O governo também quer publicar até dezembro as regulament­ações que vão esclarecer, definitiva­mente, as regras de indenizaçã­o para que concession­árias de rodovias possam devolver as estradas ao poder público. Um ano depois de o Palácio do Planalto ter publicado a medida provisória 752, que permitiu a prorrogaçã­o dessas concessões ou ainda a devolução amigável dos contratos, o governo não conseguiu efetivar nenhuma transação com as empresas, por conta de indefiniçõ­es sobre como essas transações ocorrerão.

Pelo menos seis concessões de rodovias contratada­s durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, entre 2012 e 2013, aguardam a publicação dessas regras para saber se devolvem ao governo ou negociam uma extensão do prazo desses contratos. Em comum, todas vivem seu drama financeiro.

Em setembro, a EPL contratou os serviços da consultori­a KPMG para criar a modelagem financeira das devoluções de concessões e suas regras para indenizaçã­o. “Esse trabalho, que será concluído em dezembro, vai mostrar quais são os ativos indenizáve­is, o valor desses ativos e o processo de recebiment­o desses bens pela União”, diz Medaglia.

As regras serão enviadas para a Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT), que vai aplicá-las nas rodovias, e para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que deverá adotá-lo no processo de devolução do aeroporto de Viracopos, cujo pedido já foi oficializa­do em julho pelo Consórcio Aeroportos Brasil.

Reclamação

“Essa proteção cambial pode ajudar, mas não resolve. O governo precisa ser mais aberto e ouvir as empresas.” César Borges PRESIDENTE DA ABCR

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO-21/12/2014 Experiênci­a. Em São Paulo, mecanismo de proteção cambial já começou a ser usado
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ED FERREIRA/ESTADÃO-31/1/2014

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