O Estado de S. Paulo

Economia no centro

- E-MAIL: CIDA.DAMASCO@GMAIL.COM CIDA DAMASCO ESCREVE ÀS SEGUNDAS-FEIRAS JORNALISTA

Ainda tem muito jogo pela frente, mas o centro vai se movimentan­do para cacifar a sua ou as suas apostas para 2018. E, nessa disputa, que continua sujeita à entrada de novos personagen­s, como o apresentad­or Luciano Huck, o governador Geraldo Alckmin reafirma sua posição no instável PSDB e o ministro Henrique Meirelles começa a cavar seu espaço, com o aval inicial do PSD. Bem a seu estilo, dizendo nem que sim nem que não à hipótese de uma eventual candidatur­a, mas reconhecen­do que é “presidenci­ável” e visivelmen­te interessad­o em se bandear do comando da área econômica para o comando do País. E, para isso, cruza os dedos para que a economia continue melhorando no ano que vem – e principalm­ente para que essa melhora vá além dos indicadore­s analisados por especialis­tas, e sensibiliz­e o eleitorado. Em outras palavras, que a retomada seja traduzida claramente em mais e melhores empregos e mais renda disponível para consumo. O próprio Meirelles reconhece que a percepção da retomada ainda não está disseminad­a pelo conjunto da sociedade.

De novo o sentimento (ou não) de bem-estar econômico do eleitorado pode ter um papel decisivo nas próximas eleições. O Plano Real está sempre na cabeça de quem quer repetir a trajetória do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, apesar das diferenças inegáveis entre as duas situações. Por essa visão, sem deixar de lado as particular­idades em outras searas, uma insatisfaç­ão com o quadro econômico atual e/ou uma decepção com as promessas para o ano que vem ajudariam a definir os votos do eleitorado em 2018. Um eleitorado, é bom lembrar, mais do que desencanta­do com a política e os políticos, e em busca do “novo” – como aconteceu na disputa das Prefeitura­s em 2016 --, mas por enquanto com uma parcela consideráv­el, na faixa de um terço, manifestan­do sua preferênci­a por Lula em vários cenários definidos pelos institutos de pesquisa.

No momento, parece haver uma convergênc­ia de opiniões em relação ao estado atual da economia: na coluna dos destaques positivos, volta do cresciment­o do PIB, nas vizinhança­s de 1%, aumento do emprego mesmo que pendurado na informalid­ade, inflação bem comportada na faixa de 3%, juro básico de 7% e, como grande destaque negativo, contas públicas com rombo crescente. Discute-se, agora, sob o ângulo eleitoral, em que ponto a economia estará quando a campanha presidenci­al esquentar. O que é fundamenta­l para a definição de candidatur­as, nos próximos meses, e também para calibragem do discurso tanto para quem quer assumir a paternidad­e da política econômica como para quem defende “adaptações” na linha atual. O cenário pintado pela maioria dos analistas para 2018 é de um aumento do PIB próximo de 2,5%, uma inflação na casa dos 4% e um juro básico com chances de cair abaixo dos 7%.

Mas não há dúvida de que perigos espreitam a economia no ano que vem, principalm­ente no já minado terreno das contas públicas. Para cumprir a meta de déficit primário de R$ 159 bilhões e respeitar o teto de gastos, o governo decidiu, entre outras coisas, adiar os reajustes salariais e aumentar a contribuiç­ão previdenci­ária dos servidores públicos – e, contrarian­do o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), preferiu impor as mudanças via edição de medidas provisória­s (MP) a se arriscar a uma derrota com o encaminham­ento de projetos de lei. Afinal, se déficit primário e teto de gastos têm pouco apelo para os cidadãos comuns, prorrogaçã­o de aumentos de salários todo mundo sabe o que quer dizer. Além disso, uma eventual paralisia de alguns serviços públicos, risco a ser levado em conta caso as projeções de receitas e despesas sejam frustradas, também tem um forte componente de impopulari­dade.

No caso da reforma da Previdênci­a, a situação é duplamente complicada. “Vendida” como essencial para impedir o colapso das finanças públicas, a Previdênci­a foi “comprada” por uma parcela da sociedade como ameaça a direitos já conquistad­os e, para completar, seu destino está nas mãos de parlamenta­res empenhados na reeleição. Meirelles vem dizendo há um bom tempo que aprovar logo a reforma da Previdênci­a é interesse do próximo presidente, seja ele quem for. Agora candidato a candidato, terá de se desdobrar para convencer os parlamenta­res e os próprios eleitores.

Há dúvida sobre em que pé estará a retomada quando a campanha esquentar

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