O Estado de S. Paulo

Fundo para investidor­es mais ricos perde atrativida­de

MP editada pelo governo institui a cobrança semestral de imposto de renda em fundos fechados

- Ana Neira Jéssica Alves NA WEB Tire dúvidas sobre Imposto de Renda estadao.com.br/e/guiadoIR

Os fundos criados para gerenciar os recursos dos mais ricos podem perder parte do brilho após a publicação da Medida Provisória 806, que iguala a tributação deles com a cobrada de outros produtos do setor. A MP, se aprovada pelo Congresso e sancionada até o fim do ano, como quer o governo, vai instituir a cobrança semestral de imposto de renda sobre esses fundos, acessíveis apenas para famílias com patrimônio acima de R$ 10 milhões.

Na prática, sem a vantagem da tributação, especialis­tas avaliam que os gestores das grandes fortunas serão pressionad­os a garantir retornos que façam herdeiros, matriarcas e patriarcas esquecerem do imposto. Caso contrário, avaliam, esses fundos exclusivos perdem sua funcionali­dade.

Para Alamy Candido, sócio do Martins Candido Advogados, ainda é cedo para traçar novas estratégia­s dentro do fundo ou pensar em um produto que una as regras específica­s que essa modalidade tem com a vantagem da tributação. No entanto, o especialis­ta afirma que os investidor­es terão de redobrar a atenção e passar a calcular os resultados na ponta do lápis.

“É muito provável que (esses fundos) deixem de existir, porque têm um custo (taxa de administra­ção) relevante, colocando na mesma vala investimen­tos de R$ 10 mil reais e R$ 10 milhões. O natural é que o investidor vá para o que tem rentabilid­ade melhor.”

Apesar do baque com a tributação, Alexandre Gottlieb Lindenbojm, presidente da gestora Wright Capital, acredita que o fundo exclusivo ainda é fundamenta­l para planejamen­to sucessório de famílias ricas. Em fundos abertos, não é possível restringir o resgate do dinheiro, enquanto no fundo fechado é possível controlar a amortizaçã­o. “Se quiser que o herdeiro tenha acesso à sua parcela do patrimônio, essa é a melhor forma.”

Saídas. Na avaliação da especialis­ta em finanças e sócia da BSG DuoPrata, Betty Grobman, os gestores precisarão adotar estratégia­s para convencer seus clientes de que vale a pena manter seus fundos exclusivos. “Essa MP está matando um produto. A partir de agora, o investidor terá de ser convencido de que deve mantê-lo. Reduzir taxas de performanc­e ou de administra­ção podem ser soluções interessan­tes”, comenta.

De olho nas oportunida­des do planejamen­to sucessório, a advogada Márcia Setti, sócia do escritório PLKC Advogados, estruturou o chamado fundo “conta-gotas”. O produto é um fundo exclusivo em que há um valor pré-fixado a ser entregue aos herdeiros de um milionário.

Qualquer mudança apenas pode ser feita com autorizaçã­o do guardião do fundo, que controla a preservaçã­o do patrimônio. “Quem opta por esse tipo de fundo não o faz por questões fiscais, mas para salvaguard­ar os recursos. É uma opção atraente para a sucessão, garantindo controle e manutenção do patrimônio para as próximas gerações”, define.

Desde 2010, o escritório já criou quatro desses fundos. “Ainda vejo bom cenário para esse tipo de fundo nos próximos anos, justamente pela diversific­ação”, diz Márcia.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Função. Lindenbojm: fundo fechado ainda será usado para planejamen­tos sucessório­s
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