Marca que é 100% brasileira quer ganhar os Estados Unidos
Hoje líder no combate à fraude digital, Pedro, que participou da Semana Pró-PME, fundou a ClearSale no improviso
Ex-atleta olímpico, ele abriu a empresa para dar conta de um projeto como programador de software. Cresceu aos trancos e barrancos, cometeu diversos erros de gestão e quebrou quatro anos depois. Perdeu a confiança, reavaliou todos os propósitos e retomou o negócio com foco e ajuda de um sócio. Hoje, é líder de mercado no segmento antifraude brasileiro e tem mais de cem clientes nos Estados Unidos. Pedro Chiamulera traz em seu DNA empreendedor o anseio de expansão grandiosa característico dos protagonistas de epopeias.
Os primeiros passos da ClearSale datam de 2001, quando o empresário fez uma proposta de solução de combate a fraudes para o Submarino. “Meu talento sempre foi colocar tecnologia no processo. E aí pensei: ‘Agora me ferrei’, porque não sabia nem pôr em prática o que eu tinha oferecido. Tive que correr atrás da solução, mas não queria mais fazer parte técnica, tinha deixado de programar. Queria trabalhar com negócios e marketing. Foi aí que a empresa surgiu”, lembra.
Até 2005, eles se sustentaram oferecendo diferentes tipos de software para variados clientes. “Mas eu não era muito gestor, sou bem empreendedor. Gosto de colocar uma ideia no ar, e não de contabilidade, precificar”, diz. A ClearSale conseguiu se manter por cerca de quatro anos, até começar a, gradualmente, perder funcionários. “Em 2005, houve uma inflação na procura pela tecnologia que eu usava. Os bancos começaram a contratar e eu perdi quase todo mundo. Foi quando quebrei.” Comunicativo e entusiasmado, ele se viu, pela primeira vez, desacreditado pelos clientes. “A pior coisa para o empreendedor é quando sua palavra perde credibilidade.”
Reflexão. O mau momento o fez olhar para dentro. “Comecei a parar tudo para conversar com as pessoas. Me reencontrei e a confiança virou a cultura da empresa.” Nos negócios, o momento também foi de reformulação. “Apostamos todas as fichas no combate à fraude, já que tínhamos bons clientes. E tive bastante sorte de encontrar as pessoas certas no momento certo.”
A principal delas foi Bernardo Lustosa. “O Pedro é empreendedor nato, não poderia fazer outra coisa na vida. Com ele é emoção na tomada de decisão e crença nos clientes. E eu sou muito racional, resolvedor de problemas e estrategista”, diz Bernardo, que prestava serviços ligados a inteligência artificial para a ClearSale desde 2004. A grande virada se deu em 2008, quando ele se tornou sócio. “Vendíamos o sistema antifraude da mesma forma que o mundo inteiro fazia: um programa em que as lojas analisavam o risco. Ganhávamos centavos
por pedido e o resultado não era bom. Foi quando passamos a vender a análise completa das possibilidades de fraude.”
Desde então, a ClearSale submete os pedidos do comércio eletrônico para análises tecnológicas. Se o risco de fraude é baixo, eles são aprovados. Caso contrário, passam por análise humana. “Não negamos nada automaticamente. Fazer isso seria dizer, na dúvida, que o cara é bandido. Nós dizemos que a maioria é boa. Isso nos ajudou a gerar confiança”, opina Pedro. Bernardo acrescenta: “Hoje nós decidimos se 85% das vendas no e-commerce do Brasil seguem ou não.”
Para uma empresa com tamanho controle de mercado seguir em crescimento, inovação é fundamental. Entre as apostas estão o aplicativo Compre e Confie, que insere o consumidor final na lógica do combate à fraude, e o Digital Trust Index, um índice para gestão de crédito em compras online. Fora do Brasil, o grupo tem 130 clientes nos Estados Unidos e agora planeja a abertura de um escritório no México. Hoje o empresário exala convicção: “Vamos faturar R$ 140 milhões neste ano e quero crescer 30% em 2018.”
Eu vendo o intangível: gerar confiança num relacionamento. Isso é bem mais que evitar fraude. Pedro Chiamulera O Pedro é pura emoção. É aquele empreendedor raiz, ele não poderia mesmo fazer outra coisa na vida. Bernardo Lustosa