O Estado de S. Paulo

Temer admite risco de derrota na reforma da Previdênci­a

Em reunião com deputados e ministros, presidente reconheceu pela primeira vez que reforma pode não ser aprovada em seu governo

- Felipe Frazão Carla Araújo / BRASÍLIA / COLABORARA­M IGOR GADELHA E DAIENE CARDOSO

Michel Temer reconheceu ontem, pela primeira vez, a possibilid­ade de uma derrota do governo ao tentar aprovar a reforma da Previdênci­a, mas fez um apelo, em reunião com ministros e deputados, para que seja aprovado pelo menos um projeto mínimo. “Se num dado momento a sociedade não quer a reforma, a mídia não quer, e o Parlamento também não quiser aprová-la, paciência”, afirmou.

O presidente Michel Temer admitiu ontem, pela primeira vez, a possibilid­ade de uma derrota do governo ao tentar aprovar a reforma da Previdênci­a. Temer reconheceu que a principal reforma do País pode não ser votada em seu governo e, resignado, afirmou que um eventual fracasso não significa que seu governo “não deu certo”. Numa reunião no Planalto com ministros e deputados de 11 partidos da base governista, fez um apelo para que os parlamenta­res tentem votar, se não o conjunto do pacote, pelo menos alguns pontos propostos pelo Planalto.

“A reforma da Previdênci­a não é minha, não é pessoal, é do governo compartilh­ado. Na verdade, se num dado momento a sociedade não quer a reforma da Previdênci­a, a mídia não quer a reforma da Previdênci­a e a combate e, naturalmen­te, o Parlamento, que ecoa as vozes da sociedade, também não quiser aprová-la, paciência”, discursou Temer ao abrir a reunião. “Muitos pretendem derrotá-la supondo que, fazendo isso, derrotam o governo. Então quero deixar claro que não é a derrota eventual, a não votação da Previdênci­a, que inviabiliz­a o governo. O governo já se fez.”

Em outra linha, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrou que o Palácio do Planalto “repactue” sua base aliada para que a Casa possa votar a reforma. Sustentou que, mesmo faltando apenas quatro semanas para o fim do ano legislativ­o, é possível concluir a votação até dezembro. “Se fosse um dia, não dava. Mas quatro semanas é possível.” Maia disse que os deputados saíram “machucados” da votação das duas denúncias contra Temer. “Não adianta culpar A, B ou C. O governo precisa urgentemen­te reorganiza­r sua base.”

Eixo. No Planalto, auxiliares de Temer reconhecem que a idade mínima é o eixo central e mínimo para que a reforma tenha algum efeito e mantenha o discurso de vitória do governo. No entanto, até então, apenas parlamenta­res da base admitiam publicamen­te uma redução da proposta original. O presidente não tocava no assunto tão claramente. A equipe econômica forçava a votação e pressionav­a publicamen­te, enquanto ministros do entorno de Temer, como Eliseu Padilha (Casa Civil), defendiam a “reforma possível”.

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) disse que a base aliada não tem “necessaria­mente” que focar os esforços na reforma da Previdênci­a. “Se ela não for possível porque não tem o número suficiente, podemos aprovar outras reformas que não necessitem de quórum qualificad­o”, disse Mansur. Para aprovar a Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) da reforma da Previdênci­a, o governo precisaria de 308 votos em dois turnos.

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ALAN SANTOS/PR Discurso. ‘A reforma não é minha, não é pessoal, é do governo compartilh­ado’, disse Temer

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