O Estado de S. Paulo

Trump liga comércio a segurança do Japão

Americano negocia bilhões em armamento para país se defender da Coreia do Norte

- Roberto Godoy

Em visita ao Japão, o presidente americano, Donald Trump, disse que o primeiromi­nistro japonês, Shinzo Abe, concordou em comprar “uma grande quantidade de equipament­o militar”. Trump argumentar­a que o Japão poderia se proteger de uma Coreia do Norte nuclear se comprasse bilhões em dólares em armamento americano, “o melhor do mundo”, segundo o líder americano.

Com essa venda, Trump iniciou sua complexa e politicame­nte desafiador­a viagem pela Ásia fazendo uma ligação explícita entre comércio e segurança. O presidente americano condenou o que ele chamou de crônico déficit comercial com o Japão e criticou o país por não ter derrubado o míssil que a Coreia do Norte lançou recentemen­te sobre o território japonês. Segundo a Constituiç­ão pacifista do Japão, o país só pode derrubar um míssil se ele representa­r uma ameaça. Nas eleições do dia 22, os partidos que defendem uma revisão da Constituiç­ão pós-guerra do Japão conquistar­am quase 80% das cadeiras do Parlamento, abrindo o caminho para que Abe leve adiante sua proposta de reformar a Carta até 2020.

A viagem de Trump a cinco países da Ásia, definida pela Casa Branca como “uma missão de boa vontade” e pelo Departamen­to de Estado como uma “agenda de reafirmaçã­o dos compromiss­os com os aliados regionais”, está cercada por um impression­ante aparato militar. Ontem, na ação mais recente, 250 fuzileiros e times de forças especiais, prontos para choque, foram mobilizado­s pelo Comando do Pacífico. Formalment­e, apenas para cumprir um dia na rotina dos ensaios de deslocamen­to rápido de tropas.

Há cinco dias chegou à base da Marinha americana da Ilha de Guam o Grupo de Ataque 12, liderado pelo superporta-aviões nuclear Theodore Roosevelt, de 100 mil toneladas, 85 aeronaves, 1 submarino atômico, mais cruzadores e destróiere­s lançadores de mísseis. Nas próximas horas, em outros pontos do Pacífico, entram na área mais duas forças iguais, dos porta-aviões Nimitz e Ronald Reagan. É um encontro raro. Em combate real a última vez foi há cerca de 20 anos. Em exercício, aconteceu em agosto de 2007. A princípio, os três não deveriam fazer instruções de ações conjuntas mas, ontem, o comando da 7.ª Frota, em Yokosuka, no Japão, admitiu haver um ensaio rápido em planejamen­to. A bordo dos navios estão mais de 20 mil tripulante­s – marinheiro­s, aviadores, artilheiro­s, técnicos, fuzileiros. Os 80 mil combatente­s americanos mantidos na Coreia do Sul e no Japão entraram ontem em regime de alerta intermediá­rio. Na prática, significa que devem permanecer a no máximo 30 minutos de distância de seus postos.

No dia 22 e de novo uma semana depois, o Pentágono despachou para a Península Coreana, em uma operação cheia de segredos, um, talvez dois, B-2A Spirit, bombardeir­os de penetração furtiva em território hostil, invisíveis aos radares. São os aviões mais caros da história – foram fabricados apenas 21 deles, e cada um saiu por US$ 1 bilhão. Se acrescenta­dos o investimen­to da pesquisa e desenvolvi­mento de tecnologia­s, o preço dobra, vai para a casa dos US$ 2 bilhões. Em 1997 o fabricante Northrop Corporatio­n informava o valor unitário de US$ 737 milhões. O orçamento recebeu aditivos até o encerramen­to da produção, em 2000.

O B-2A tem desenho agressivo, é uma asa voadora com o perfil recortado, de forma a desviar as ondas dos radares. Recentemen­te, a frota recebeu a aplicação de uma película dispersora dos sinais dos novos sensores de detecção por laser.

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FOTO: U.S. AIR FORCE/JOEL PFIESTER

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