O Estado de S. Paulo

Sauditas acusam Irã de ‘ato de guerra’

Riad responsabi­liza Teerã por disparo de míssil de área no Iêmen controlada por milícia xiita; governo iraniano diz que acusação é provocador­a

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O governo da Arábia Saudita responsabi­lizou ontem o Irã pelo lançamento de um míssil balístico contra sua capital, Riad, que foi intercepta­do. O míssil teria sido lançado por rebeldes xiitas do Iêmen. O governo saudita disse que a agressão pode ser considerad­a um ato de guerra. O alerta foi feito em um comunicado divulgado pela coalizão de países do Golfo que combatem as milícias houthis no Iêmen.

“O papel do Irã e seu comando direto sobre os houthis constituem um claro ato de agressão contra seus vizinhos regionais e ameaçam a paz e a segurança na região e no mundo”, diz o texto. “Por esse motivo, o comando da coalizão considera isso um ato de agressão militar do regime iraniano, que pode ser considerad­o um ato de guerra pelo Reino da Arábia Saudita.”

O comunicado ainda diz que a Arábia Saudita se reserva o direito de responder à agressão da maneira e no momento que julgar apropriado­s. O Irã nega que tenha armado os rebeldes houthis no Iêmen.

Em represália, a coalizão também decidiu fechar o acesso por mar, terra e ar do Iêmen, o país mais pobre do mundo árabe. Segundo os sauditas, no entanto, a entrada de ajuda humanitári­a no país será permitida. Os rebeldes iemenitas houthis reivindica­ram o lançamento do míssil de um alcance de quase 750 quilômetro­s com o objetivo de alcançar o aeroporto de Riad.

O Irã rebateu as afirmações sauditas, ao mesmo tempo que acusou Riad de cometer crimes de guerra no Iêmen. O portavoz da diplomacia iraniana, Bahram Ghassemi, considerou as palavras da coalizão árabe injustas, irresponsá­veis, destrutiva­s e provocador­as.

O regime de Teerã sempre negou fornecer armas aos houthis, mas não esconde a simpatia pela causa dos insurgente­s.

A monarquia saudita está convencida de que os rebeldes houthis recebem armas do Irã, assim como assistênci­a de especialis­tas iranianos em balística, o que permite ampliar o alcance de seus mísseis e atingir zonas chaves da Arábia Saudita.

No domingo, a Arábia Saudita ofereceu recompensa pela captura de dirigentes rebeldes, num valor total de US$440 milhões. O regime saudita prometeu US$ 30 milhões para qualquer pessoa que apresente informaçõe­s que permitam a captura do líder dos rebeldes iemenitas, Abdel Malek al Huti, e US$ 20 milhões por cada um dos dez principais comandante­s houthis da rebelião.

A Arábia Saudita lidera uma ação militar no Iêmen para ajudar o governo diante dos rebeldes que controlam vastas regiões do país, entre elas a capital, Sanaa.

O conflito atual no país árabe contrapõe os xiitas do Irã aos sunitas da Arábia Saudita. A guerra começou em 2015, com uma insurreiçã­o dos houthis, iemenitas de orientação xiita. Alegando serem vítimas de discrimina­ção por parte do presidente sunita, eles deflagrara­m uma revolta e tomaram parte do país. O levante motivou a reação das monarquias sunitas da Península Árabe que, lideradas pela Arábia Saudita e com apoio dos EUA, formaram uma coalizão para combater os houthis.

Segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), a guerra no Iêmen provocou mais de 8,6 mil mortes e deixou 58 mil feridos, incluindo civis.

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