O Estado de S. Paulo

Prefeitura dificulta acesso a dados e descumpre lei

- / L.F.T.

Em gravação obtida pelo Estado, o número 2 da Secretaria Especial de Comunicaçã­o da Prefeitura de SP diz que, dentro do que for “formal e legal”, vai dificultar o acesso de jornalista­s a dados da administra­ção pedidos por meio da Lei de Acesso à Informação. Para especialis­tas, a prática pode constituir improbidad­e administra­tiva e prevaricaç­ão. Segundo a norma, as informaçõe­s devem ser fornecidas em até 20 dias, prorrogáve­is por mais dez.

A Prefeitura negou, por nota, irregulari­dades no cumpriment­o da Lei de Acesso à Informação. A gestão afirma que o jornalista e chefe de gabinete Lucas Tavares adota como critério “a defesa da transparên­cia” e aponta atas de outras reuniões da Comissão Municipal de Acesso à Informação (Cmai).

“As reuniões da Cmai sempre tiveram clima informal – se o Estadão, por ventura, tivesse acesso a outros áudios, notaria tal fato. Por serem informais, alguns comentário­s resvalavam em ironias ou em desabafos. As falas não implicam que Lucas Tavares tenha contrariad­o a lei. A votação foi técnica.”

O Estado solicitou os outros áudios, mas a Prefeitura disse que eles foram destruídos, pois são usados só para produção de atas. O governo destacou ainda a fala de Tavares na reunião em que aponta que os dados públicos “deveriam estar num site”.

As atas mostram só parte das reuniões – comentário­s informais e votações individuai­s são descartada­s, de modo que não é possível saber como o jornalista se posicionou em cada caso. “Tavares somente votou pelo indeferime­nto de pedidos que ou contrariav­am a legislação ou já haviam sido atendidos em instâncias inferiores”, disse a Prefeitura, ressaltand­o que os membros da comissão não sabem de quem são os pedidos. “Obviamente, às vezes, pela natureza do pedido, é possível deduzir se tratar de solicitaçã­o de jornalista­s – mas isso, como se pode ver ao analisar os votos de Tavares, não foi fator levado em conta no julgamento.”

Sobre o caso do Agora São Paulo, a gestão destacou que “não houve critérios diferencia­dos”. “Frise-se, mais uma vez, que as decisões foram unânimes.” A Prefeitura destacou que o chefe de gabinete “conhece pessoalmen­te o jornalista citado” e “chega a rir, o que denota tom humorístic­o”, mas que a definição foi “técnica”. Já em relação ao pedido da TV Globo, disse que “os membros da Cmai decidiram manter as informaçõe­s descentral­izadas, uma vez que a Secretaria das Prefeitura­s Regionais alegava não poder apresentá-las de maneira centraliza­da.”

A Secretaria Especial de Comunicaçã­o ressaltou que o total de pedidos indeferido­s vem caindo desde 2013. “O primeiro semestre de 2017 é o que possui o menor porcentual de indeferime­ntos dos últimos quatro anos.” O governo não respondeu sobre a piora nos índices de pedidos prorrogado­s nem dos que sequer foram respondido­s, os chamados “recursos de ofício”. Ressaltou ainda que o ideal é fazer análise qualitativ­a dos pedidos, e não quantitati­va.

Procurada, a Rede Globo informou que o comentário de Tavares é visto pela emissora como um “elogio”. “Mostra a persistênc­ia que todo jornalista deve ter na busca por informaçõe­s ao público.” O Agora São Paulo disse desconhece­r o “conteúdo do suposto áudio” e informou que não iria comentar. A ex-controlado­ra Laura Mendes não respondeu à reportagem.

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