O Estado de S. Paulo

Para desconsolo da oposição

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É de se observar com cuidado as avaliações pessimista­s sobre a reforma da Previdênci­a.

Alevar em conta o que o governo de Michel Temer já superou – especialme­nte as duas denúncias apresentad­as pelo ex-procurador­geral da República Rodrigo Janot – e as medidas legislativ­as que ele conseguiu aprovar até agora – como, por exemplo, a PEC do teto dos gastos públicos, a reforma trabalhist­a e a reforma do ensino médio –, é de observar com cuidado as avaliações pessimista­s que estão sendo feitas a respeito da reforma da Previdênci­a.

Se os acontecime­ntos do passado têm algo a ensinar, é que o atual governo tem perseguido com tenacidade as metas que se impõe. Isso não significa, por óbvio, que a aprovação da reforma previdenci­ária seja fácil ou de que ela se realizará inexoravel­mente. Para que a mudança se dê, será preciso muito trabalho. Mas não se pode dizer que a reforma da Previdênci­a seja uma batalha perdida. No entanto, é disso que certos políticos tentam convencer a opinião pública.

Ainda que seja muito pouco razoável a oposição à reforma da Previdênci­a que alguns insistem em fazer – negam-se a ver o desequilíb­rio fiscal que as atuais regras vêm causando, com imenso prejuízo para o País, que se torna cada vez mais incapaz de realizar os necessário­s investimen­tos públicos e de levar adiante as políticas públicas de que a população necessita –, é do jogo político que alguns parlamenta­res cedam à tentação populista e tentem usar a resistênci­a à reforma para angariar alguns votos. Como é lógico, seria desejável que todos os deputados e senadores fossem minimament­e responsáve­is e conseguiss­em vislumbrar, além do mero oportunism­o eleitoral, aquilo que diz respeito ao interesse público. Isso seria desejável, mas a vida real é muito diferente. Não raro, o interesse público é substituíd­o por interesses menores.

Ou seja, para uma causa ser vencedora, não basta que ela seja correta e alinhada com o interesse público. É preciso que os seus promotores trabalhem bem. Nesse sentido, a aprovação da PEC 287/2016, que altera as regras previdenci­árias, exige um intenso trabalho de coordenaçã­o política. Urge reagrupar a base aliada, recuperand­o o ânimo de alguns, mudando as inclinaçõe­s de outros mais afeitos à lógica populista, e fazer com que o Congresso retome o projeto reformista com responsabi­lidade.

A tarefa é árdua e não faltam adversário­s para dificultar o processo, como se viu na segunda-feira passada. O presidente Michel Temer disse anteontem que a reforma da Previdênci­a é “importante, fundamenta­l e nela continuare­i me empenhando”, mas há quem tenha querido ver em suas palavras a admissão de um possível fracasso da PEC 287/2016 no Congresso. “É uma necessidad­e do País pela qual me empenhei e me empenho”, reafirmou Temer, mostrando que a reforma da Previdênci­a é um assunto que transcende o seu governo. “O resultado dela se produzirá depois do meu governo”, reconheceu.

As palavras de Temer motivaram a equipe econômica a reafirmar, uma vez mais, o compromiss­o com a reforma da Previdênci­a. Os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, rejeitaram prontament­e a interpreta­ção de que o governo estaria jogando a toalha em relação à PEC 287/2016. “É exatamente o que o presidente falou: vamos continuar lutando”, disse Oliveira. No mesmo tom falou o secretário de Acompanham­ento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, lembrando que a aprovação de uma reforma da Previdênci­a é “inevitável” e que, quanto mais completa ela for, melhor será para o País.

Já houve momentos mais propícios para a aprovação da reforma da Previdênci­a. Em maio, dava-se por garantida a aceitação do projeto, mas as denúncias apresentad­as por Rodrigo Janot mudaram os ambientes político e econômico. Mas o episódio foi superado. Seria desconcert­ante que, tendo chegado até aqui, com um surpreende­nte histórico de aprovação de reformas no Congresso, o governo desistisse ou não pusesse o devido empenho para aprovar a PEC 287/2016. Que a oposição possa constatar, uma vez mais, que a época da irresponsa­bilidade ficou definitiva­mente no passado.

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