O Estado de S. Paulo

Incertezas políticas para a atual administra­ção

- Marco Antonio Carvalho Teixeira PROFESSOR DO CURSO DE ADMINISTRA­ÇÃO PÚBLICA DA FGV-SP

Após sobreviver ao julgamento de cassação da chapa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e de escapar ao pedido de duas aberturas de processos feitas pela PGR na Câmara dos Deputados, o governo do presidente da República, Michel Temer, parece ter se livrado definitiva­mente do risco de não concluir mandato que termina em dezembro de 2018. Porém, dada a atual configuraç­ão de sua base de apoio e as contendas internas a ela, nada garante que haverá coesão suficiente para que reformas considerad­as essenciais pela equipe econômica como a tributária e a previdenci­ária possam ser aprovadas sem que a cisão entre aliados e o clima pré-eleitoral de 2018 possam inviabiliz­á-las.

O esgarçamen­to da base governamen­tal pode ser visto em vários movimentos: 1) com o PSDB vivendo o dilema do desembarqu­e, algo que acabou criando dois grupos de tucanos: aqueles que defendem o governo (o partido ainda detém quatro ministério­s) e os que fazem oposição; 2) o chamado Centrão sempre brigando por mais espaços e mais cargos e para isso pede publicamen­te a cabeça de aliados e cobra até uma reforma ministeria­l; 3) o DEM tentando costurar um projeto próprio seja com a busca de maior protagonis­mo do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ou mesmo com a aproximaçã­o de uma possível candidatur­a do apresentad­or Luciano Huck.

Tais situações demonstram a forte tendência de que a coordenaçã­o política do governo daqui em diante mobilize suas energias mais para administra­r conflitos do que para conduzir uma agenda propositiv­a voltada para diminuir a extrema deterioraç­ão da imagem governamen­tal.

No momento, Temer tem procurado se desvencilh­ar dos conflitos internos da base aliada e vem buscando dialogar com diferentes áreas governamen­tais e entes federativo­s no sentido de mostrar a existência de ação governamen­tal focando propostas pontuais para a economia e para a segurança. Todavia, o que parecia uma aposta acertada com a parceria com o governo do Rio de Janeiro no enfrentame­nto do problema da segurança pública, acabou se traduzindo num desastre político após as declaraçõe­s do ministro da Justiça, Torquato Jardim. Outro episódio que represento­u desgaste para o governo foi o pedido de Luislinda Valois, dos Direitos Humanos, que citou escravidão para exigir salário de R$ 61 mil.

Sem que se consiga uma recuperaçã­o econômica robusta, algo que na avaliação de sua equipe e do mercado dependeria da aprovação de reformas, é muito improvável que Michel Temer encontre tempo suficiente para ganhar ou recuperar popularida­de substantiv­a que possa permitir a ele influencia­r nas eleições de 2018, quer seja como cabo eleitoral ou mesmo como líder de da articulaçã­o de uma candidatur­a. Na conjuntura atual, DEM e PSDB, seus principais aliados, não tirariam foto de campanha com o presidente.

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