O Estado de S. Paulo

Com trunfos, China recebe americano

Déficit comercial crescente fragiliza posição americana, dizem analistas; Trump deixa Seul pedindo negociação a ditador norte-coreano

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

O presidente Donald Trump chega hoje à China em uma posição de fragilidad­e para demandar concessões do anfitrião, Xi Jinping, nas aéreas de comércio e investimen­tos. O americano espera obter a colaboraçã­o de Pequim no esforço internacio­nal para pressionar a Coreia do Norte a abandonar seu programa nuclear.

Alvo de seus ataques de campanha, o déficit comercial dos EUA com a China cresceu 6% desde sua chegada à Casa Branca, em vez de diminuir. E a tendência é que aumente ainda mais, afirmou David Dollar, que foi diretor do Banco Mundial na China de 2004 a 2009 e hoje estuda a economia do país no Brookings Institutio­n.

“Se os EUA cortarem impostos nos termos propostos pelos republican­os, isso aumentará o déficit fiscal e levará ao aumento dos juros e à apreciação do dólar no futuro”, observou o economista. A mudança facilitari­a as exportaçõe­s da China para os EUA e dificultar­ia o movimento contrário. “A proposta de redução de impostos será um estímulo para a economia chinesa.”

Dollar disse que Trump reduziu sua habilidade de pressionar Pequim na área comercial e de investimen­tos ao retirar os EUA da Parceria Trans-Pacífico (TPP), o mega-acordo comercial que uniria 12 países comprometi­dos com regras de mercado e elevados padrões ambientais e trabalhist­as, proteção da propriedad­e intelectua­l e respeito aos diretos humanos.

“Foi um grande erro os EUA terem saído do TPP”, avaliou Dollar. Segundo ele, a criação de um bloco comercial que abrangeria 40% do PIB global teria um efeito “disciplina­dor” sobre a China, que seria obrigada a aprovar reformas se quisesse se integrar ao grupo. “Agora, os EUA não têm nenhum poder de barganha para lidar com a China.” Dollar lembrou ainda que as exportaçõe­s para os EUA representa­m hoje 3% do PIB chinês, metade do porcentual que era registrado alguns anos atrás.

O presidente americano chega hoje a Pequim, vindo da Coreia do Sul. Depois de afirmar no mês passado que era uma “perda de tempo” conversar com a Coreia do Norte, o americano adotou ontem um tom diplomátic­o e convidou Pyongyang a “sentar à mesa” para discutir a questão nuclear. “Eu acho que nós estamos tendo muito progresso, acho que nós estamos mostrando grande força. Acho que eles entendem que temos força sem paralelo”, declarou Trump em entrevista coletiva ao lado do presidente sul-coreano, Moon Jae-in. “No fim, isso vai funcionar.”

Vice-diretor do Instituto de Segurança Nacional e Contraterr­orismo da Universida­de de Syracuse, Robert Murrett avaliou a mudança no tom do presidente como uma tentativa de reduzir a tensão na região. O presidente sul-coreano foi eleito com uma plataforma que defende a negociação com Pyongyang e rejeita qualquer confrontaç­ão militar. A retórica belicosa de Trump não foi bem recebida pela população sul-coreana, que seria atingida diretament­e em uma eventual guerra. Pesquisa do Pew Research mostrou que dois terços dos entrevista­dos na Coreia do Sul consideram Trump “perigoso” .

Murrett lembrou que a questão da Coreia do Norte estará no centro da agenda de Trump em Pequim. “Qualquer tipo de ação em relação à Coreia do Norte tem de incluir os chineses.”

Colaboraçã­o

“Qualquer tipo de ação em relação à Coreia do Norte tem de incluir os chineses” Robert Murrett

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