O Estado de S. Paulo

A disparada do petróleo

- FÁBIO ALVES E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS COLUNISTA DO BROADCAST

Adisparada nos preços do petróleo nos últimos dias foi deflagrada por fatores geopolític­os, com crescente tensão no Oriente Médio, mas vários analistas internacio­nais alertam que as cotações não devem ceder tão cedo.

Os especialis­tas dizem que o mais provável é o preço do barril cruzar a barreira dos US$ 70 no curto prazo. A mensagem, portanto, é clara: preços mais altos do petróleo vieram para ficar.

Na segunda-feira, o barril do petróleo Brent fechou a sessão de negócios no patamar mais alto em mais de dois anos, a US$ 64,27. É bom lembrar que o Brent havia encerrado 2016 cotado a US$ 56,82, equivalent­e a uma alta de 51,43% em relação ao fechamento de 2015.

Se, de um lado, a forte alta dos últimos dias é resultado de um noticiário internacio­nal explosivo, de outro, questões estruturai­s de demanda e oferta devem sustentar os preços em patamares mais elevados.

O capítulo mais recente de pressão nas cotações foi a onda de prisões de ministros e príncipes na Arábia Saudita que abalou a elite política do país como parte da ofensiva do governo contra a corrupção. Além disso, no fim de semana passado, o governo saudita informou que havia intercepta­do um ataque de míssil contra a capital Riad feito por rebeldes no Iêmen, que são apoiados pelo Irã.

Mas a escalada nos preços do petróleo já vinha em curso bem antes dessa nova tensão geopolític­a no Oriente Médio.

Do lado da oferta, o impulso foi dado quando os membros da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (Opep) e outros grandes produtores, como a Rússia, fizeram um acordo para cortar a produção em 1,8 milhão de barris por dia.

O acordo era válido inicialmen­te por seis meses, mas depois foi estendido até março de 2018. Na segunda-feira, a Nigéria, que é isenta do acordo, sinalizou que pode aderir aos cortes. Além disso, é intensa a especulaçã­o no mercado de que o acordo da Opep limitando a produção possa mais uma vez ser estendido para além de março de 2018. A Arábia Saudita, um dos países com maior influência nas decisões da Opep, já se disse a favor da ampliação do acordo.

Do lado da demanda, o cresciment­o mais forte e disseminad­o da economia mundial está alimentand­o a procura por petróleo e derivados. O Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) elevou sua projeção de expansão do PIB global para 3,6% neste ano e 3,7% em 2018. Mais de dois terços dos países estão crescendo acima do Produto Interno Bruto (PIB) potencial.

E o número de países em recessão nunca foi tão pequeno. Não foi à toa que, em setembro passado, a Agência Internacio­nal de Energia (AIE) revisou a sua projeção da demanda por petróleo em 2017 de 1,3 milhão para 1,6 milhão de barris por dia.

E o que significa para o Brasil, e em particular para a Petrobrás, a recente disparada nos preços do petróleo no mercado internacio­nal?

Até o fechamento da bolsa de valores na segunda-feira, a ação preferenci­al da Petrobrás acumulava alta de 17,22% em 2017, sendo que nos últimos 30 dias a alta era de 11,09%.

“O UBS possui hoje uma visão positiva ‘fora de consenso’ sobre o preço de petróleo e trabalhamo­s com US$ 70 por barril no longo prazo”, diz o analista de Petrobrás do banco UBS, Luiz Carvalho. Para ele, essa recuperaçã­o já era esperada, mas ocorreu mais cedo do que os analistas do banco imaginavam.

“Vemos esse cenário como extremamen­te positivo para a Petrobrás, dado que a companhia vem conseguind­o repassar os preços de combustíve­is para o consumidor final”, explica. “Atualmente vivemos um ‘casamento entre micro e macro’ fatores, no qual o petróleo acima de US$ 60 por barril, a retomada dos desinvesti­mentos e um cenário positivo na negociação da cessão onerosa não estão totalmente precificad­os na ação.”

Há, de fato, o risco de uma correção nos preços do petróleo caso países fora da Opep, como os Estados Unidos, voltem a elevar a extração do produto. Mas para especialis­tas como Roberto Friedlande­r, da corretora Seaport Global Securities, em relatório citado pela imprensa americana, é mais provável o petróleo bater em US$ 70 do que cair para US$ 50 novamente.

É mais provável o petróleo bater em US$ 70 do que cair para US$ 50 novamente

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