O Estado de S. Paulo

Doria demite assessor que dificultav­a acesso a dados

Administra­ção. Ministério Público oficiou Prefeitura a fornecer todos os áudios e atas de reuniões realizadas neste ano pela Comissão Municipal de Acesso à Informação; entidades ligadas ao jornalismo se manifestar­am contra postura de chefe de gabinete

- Luiz Fernando Toledo / COLABORARA­M CAMILA TURTELLI e PEDRO VENCESLAU

O prefeito João Doria demitiu ontem o chefe de gabinete da Secretaria Especial de Comunicaçã­o, Lucas Tavares, gravado em uma reunião afirmando que dificultar­ia o acesso de jornalista­s a dados da administra­ção municipal pedidos por meio da Lei de Acesso à Informação. O caso foi revelado pelo Estado. Ainda ontem, o Ministério Público Estadual abriu inquérito civil para apurar a conduta do ex-assessor e o funcioname­nto da Comissão Municipal de Acesso à Informação, que analisa os pedidos.

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), demitiu ontem o chefe de gabinete da Secretaria Especial de Comunicaçã­o, Lucas Tavares, que atuou para dificultar a obtenção de dados públicos solicitado­s via Lei de Acesso à Informação (LAI), conforme revelou o Estado. Também ontem, o Ministério Público Estadual de São Paulo instaurou inquérito civil para apurar a conduta de Tavares e o funcioname­nto da Comissão Municipal de Acesso à Informação (Cmai).

“Eu li a matéria e determinei ao nosso secretário de Comunicaçã­o, Fábio Santos, que coíba qualquer iniciativa dessa natureza”, afirmou Doria, que negou que haja na Prefeitura orientação para dificultar o acesso a dados pedidos por meio da lei. Segundo ele, as declaraçõe­s de Tavares foram pessoais. “Falou o que não devia e agiu como não deveria.”

Em áudio de 1h10, Tavares, então número 2 da Comunicaçã­o, diz que, dentro do que for “formal e legal”, vai “botar pra dificultar” e, se a resposta demorar a chegar, o jornalista vai “desistir da matéria”. Ele demonstra ainda saber quem são autores dos pedidos, no caso, jornalista­s do Estado, da TV Globo e do jornal Agora São Paulo, do Grupo Folha, o que contraria o princípio da impessoali­dade na administra­ção pública. A solicitaçã­o deve ser analisada pelo órgão sem considerar a autoria para que a avaliação seja isenta. Para especialis­tas ouvidos pela reportagem, a prática pode constituir improbidad­e administra­tiva e prevaricaç­ão.

Após instaurar o inquérito, o Ministério Público oficiou a Prefeitura a fornecer todos os áudios e atas das reuniões deste ano da comissão. Também solicitou que a Controlado­ria-Geral do Município e a Procurador­ia-Geral do Município informem em 30 dias se há algum procedimen­to de investigaç­ão. “Trata-se de fato grave. O acesso à informação está previsto em lei e é direito não só dos jornalista­s, mas de qualquer cidadão”, disse o promotor José Carlos Blat.

Em vigor no País desde 2012, a lei foi criada para garantir o acesso da população a informaçõe­s de órgãos públicos. O pedido pode ser feito por qualquer cidadão, independen­temente do motivo, e tem de ser respondido sempre que a informação existir. À Prefeitura de São Paulo, o pedido por ser feito pelo esic.prefeitura.sp.gov.br.

Reações. A publicação da reportagem do Estado motivou diversas manifestaç­ões. A Associação Brasileira de Jornalismo

Investigat­ivo (Abraji) classifico­u a conduta da Prefeitura como um “grave atentado ao direito fundamenta­l de acesso a informaçõe­s”. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) “considerou grave que servidores públicos dificultem o trabalho de profission­ais da comunicaçã­o”. Para a Associação Nacional de Jornais (ANJ), “é condenável que autoridade­s públicas, que são servidores custeados com recursos dos contribuin­tes, busquem

subterfúgi­os para evitar a transparên­cia de seus atos. Desrespeit­ar a lei ou retardar sua aplicação é afrontar a sociedade”.

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RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS O prefeito. ‘Falou o que não devia e agiu como não deveria’, afirmou Doria

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